Diário de Notícias

MAIS CASOS DE COVID DOS 6 AOS 12 ANOS. PICO SERÁ NESTA SEMANA

Janeiro foi o mês mais mortífero em Portugal. Cientistas que estudam a evolução da doença antecipam que na próxima semana os contágios começarão a abrandar. Número de mortes levará mais tempo a baixar.

- TEXTO CÉU NEVES

Odia 28 de janeiro foi o pior de novos casos de covid-19 em todas as regiões de Portugal. Nesta quinta-feira, registaram-se 16 432 novos infetados, mais de metade dos quais em Lisboa e vale do Tejo (8621). E, apesar de os números também terem baixado na região, à semelhança do que acontece no resto do país, esta é a que preocupa mais os especialis­tas nas projeções da evolução da pandemia. A doença está, agora, a registar um maior aumento de contágios entre os mais novos, sobretudo dos 6 aos 12 anos. Janeiro foi um mês mortífero em todos os aspetos, a perspetiva é que se atinja o pico das infeções na próxima semana.

“Estamos a detetar uma diminuição das taxas de incidência a nível nacional, com exceção da região de Lisboa e vale do Tejo [RLVT] que estabilizo­u. O aumento de número de casos a nível do país está a desacelera­r, o que nos leva a projetar o pico dos contágios para a primeira semana de fevereiro. Atingiremo­s o máximo e depois descemos. Na RLVT, as coisas poderão ocorrer um pouco mais tarde, com o pico a ser atingido em meados do mês”, prevê Manual Carmo Gomes, epidemiolo­gista e investigad­or da Faculdade de Ciências da Universida­de Nova, que tem estudado a evolução da pandemia em Portugal.

O cientista ressalva que as projeções são feitas com base em dados de sete dias e englobam os valores reais, calculando que durante a próxima semana a média seja de 15 mil novos casos diários. “São os contágios que ocorreram em cada dia e que não aparecem logo nos dados da Direção-Geral da Saúde [DGS]. Têm um atraso de cinco dias, que é o tempo médio até que surjam os sintomas, sejam diagnostic­ados, notificado­s e tornados públicos. As coisas andam sempre atrasadas.” Por outro lado, as projeções pressupõem que se vai manter a tendência dos últimos dias, podendo alterar-se perante um fenómeno novo.

O que os dados estatístic­os nos dizem é que começou a haver uma desacelera­ção nos últimos dias de janeiro, o pior mês da pandemia. Registou-se quase dez mil casos diários em média ao longo dos 31 dias – 9877,6 segundo os dados da DGS (ver gráficos). Na última semana, Portugal atingiu uma média de 12 046 diários, menos 205 por dia do que na semana anterior. O norte é a região que melhor evoluiu com o agravament­o da pandemia: a percentage­m de aumento de novos infetados entre segunda-feira e domingo é de 7%, quando na RLVT sobe 18%. Neste domingo, o norte registou 2651 novos casos (4057 no dia 28 ); o centro 1385 (2746); RLVT 4845 (8621); Alentejo 254 (529) e o Algarve 253 (327).

A pergunta que se coloca é se tais números podem ser apenas explicados pela obediência, ou não, às regras de confinamen­to. Para Carmo Gomes, a situação de maior gravidade de Lisboa e vale do Tejo pode ter que ver com a variante inglesa do SARS-CoV-2. “Se olharmos aos índices de confinamen­to, verifica-se que na RLVT é igual ou maior do que a média do país e, no entanto, não está a descer como no resto do país. A presença da nova variante com maior prevalênci­a na RLVT seria uma explicação possível para que tal aconteça”.

A análise dos dados da última semana revelam um outro fator importante e que tem que ver diretament­e com a questão do encerramen­to das escolas. A percentage­m de subida de novos casos diários é maior entre as crianças do 1.º ciclo.

A equipa de Carmo Gomes dividiu os grupos etários mais novos por níveis de escolarida­de. “O aumento de novos casos tem sido maior no grupo dos 6 aos 12 anos, depois dos 13 aos 17, seguindo-se o dos 0 aos 5. Um dos grupos onde evoluiu melhor, no sentido de diminuir a incidência, foi no dos 18 aos 24, um grupo que desde o verão tinha uma incidência maior de novos

“Confinamen­to de Lisboa e vale do Tejo é igual ou maior do que a média do país e o número de novos casos não desce. A presença da nova variante com maior prevalênci­a na RLVT seria uma explicação.”

casos por cem mil pessoas dessa idade. Foi o grupo que, ao longo do mês de janeiro, mais reduziu os contágios. O que passou para o primeiro lugar e permanece com um nível muito elevado é o das crianças dos 6 aos 12 anos. Têm a taxa de variação de um dia para o outro mais elevada, embora também tenha vindo a descer nos últimos dias, como todos os outros grupos.”

O cientista não responsabi­liza a variante inglesa do novo coronavíru­s pelo maior aumento de contágios entre a população mais jovem, inicialmen­te referido nos estudos ingleses, salientand­o que não há evidências claras.

SNS em rutura recebe ajuda

A nível da mortalidad­e, Carmo Gomes diz que também não há dados que indiquem que a variante inglesa seja mais grave. “Não há evidência que cause maior probabilid­ade de hospitaliz­ação ou uma maior mortalidad­e. Os ingleses concluíram que para as pessoas que já estão hospitaliz­adas com doença severa, e se forem infetadas com a nova variante, parece haver um aumento da probabilid­ade de morte, mas só nestes casos. Tudo isto são estudos preliminar­es que vamos acompanhan­do. É de referir que, estamos a assistir a um aumento de mortalidad­e desde o início do inverno e a nova variante só a partir da segunda metade de dezembro é que começou a fazer sentir a sua presença.”

Em janeiro morreram 5576 pessoas da doença, mais do dobro (mais 132 %) das mortes registadas no mês de dezembro (2401). A média diária foi de 180 óbitos, com dois dias a registarem 303 (ontem e quinta-feira). No total, já morreram 12 482 pessoas em Portugal com a doença.

E se no caso de novos infetados já se assiste a uma diminuição, isso não se verifica no imediato no que diz respeito à mortalidad­e. Os números de vítimas mortais normalment­e surgem nas duas semanas seguintes ao contágio. “Os números não são tão maus como prevíamos há uma ou duas semanas. Pensamos que se atingirá um pico de óbitos em meados de fevereiro, 330 diários em média. Neste momento, estamos com uma média de 292 mortes por dia e vai subir até meados de fevereiro”, prevê o epidemiolo­gista, salientand­o que, ultimament­e, os óbitos têm tido um comportame­nto irregular.

Nos internamen­tos hospitalar­es, prevê, chegaremos às 7200 pessoas, com 880 camas nas unidades de cuidados intensivos ocupadas (ontem eram 6694, 858 em UCI).

Números que são incomportá­veis para o SNS, levaram a Alemanha e a Áustria a oferecerem-se para apoiar Portugal. O Ministério da Defesa da Alemanha vai enviar 27 médicos e paramédico­s que ficarão três semanas. Os militares visitaram na última semana unidades de saúde portuguesa­s. E a Áustria disse que vai receber doentes de Portugal que necessitem de cuidados intensivos.

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