De diretora nacional demitida a nova assessora do SEF e braço dos vistos gold
Cristina Gatões
JULGAMENTO ARRANCA HOJE
A ex-diretora do SEF, Cristina Gatões, garantiu ao Ministério Público que nunca tinham sido distribuídos bastões extensíveis aos inspetores daquela polícia. Um dos acusados pela morte de Ihor Homeniuk diz o contrário e que a maioria dos colegas os tinha à cintura. O início do julgamento dos três inspetores está marcado para esta terça-feira. Quando foram detidos pela Polícia Judiciária, a 30 de março do ano passado, indiciados pelo crime de homicídio qualificado, Luís Silva e Duarte Laja tinham bastões desses na sua posse, sendo pelo facto também acusados por posse de arma ilegal. Os bastões apreendidos foram analisados, encontrando-se num deles sangue humano.
Ochico-espertismo a que, atónitos, temos assistido quanto ao uso indevido e abusivo da vacina contra a covid-19 merece uma séria reflexão e envergonha-nos. E se houvesse humanidade entre todos? Esta pergunta, em jeito de brincadeira, foi lançada nas redes sociais. E a brincar dizem-se coisas sérias. Não é só a imunidade que falta entre os portugueses. A muitos falta um maior humanismo, um sentido de dever cívico e uma crença sincera de que se pode ser maior a servir o outro. A tudo isto poderíamos chamar ética.
Numa sociedade cada vez mais egoísta – e, segundo vários psicólogos, a pandemia e os confinamentos vieram agudizar este comportamento –, a falta de vergonha na cara faz que alguns indivíduos se ponham em bicos de pés para levar a primeira dose, se desviem frasquinhos do plano de vacinação, se chame a pasteleira da porta ao lado, a rececionista do andar debaixo e, já agora, a filha e a mulher para tomarem também a dita poção milagrosa. Os episódios inacreditáveis relatados nos últimos dias de abusos por parte de certos dirigentes da administração pública e local causaram a perplexidade geral.
Será que passou a valer tudo desde que se anunciou a vacinação em Portugal? Não pode valer tudo. O país já está demasiado angustiado e deprimido para ser confrontado com indivíduos que, pelos seus atos, promovem a desagregação social e instigam à crescente desconfiança em relação às instituições. O Ministério Público já veio dizer que vai abrir um inquérito aos abusos no uso da vacina e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde anunciou a aplicação de “sanções disciplinares e criminais” para vacinações indevidas”. Se as suspeições forem provadas, a sociedade exige punição. Não penalizar estas situações seria o mesmo que aplaudir o desrespeito pelo outro. E “o outro” é quem pode salvar vidas – médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde e de lares – e os mais velhos, a quem devemos o respeito por terem ajudado a erguer a democracia. Agir com mão de ferro, e sem o habitual nacional-porreirismo, é o mínimo perante tamanha atitude egoísta de alguns que (ainda bem) não representam o todo. A bem da transparência, é relevante saber-se quem são e quem é capaz de roubar uma vacina a um profissional de saúde ou a um idoso que dela realmente precisa.