Diário de Notícias

Marcas pagam imposto por carros híbridos que não venderem

AUTOMÓVEL Matrículas de centenas de híbridos em janeiro evitaram maior descida do mercado, mas vão obrigar empresas a pagarem mais IUC enquanto as lojas estiverem fechadas.

- TEXTO DIOGO FERREIRA NUNES Devido à aposta nos híbridos, Toyota é a marca mais penalizada pelas alteraçoes fiscais. diogofnune­s@dinheirovi­vo.pt

Janeiro de 2021 foi o melhor mês de sempre para as matrículas de automóveis híbridos não plug-in em Portugal. Este também foi o mês em que estes carros perderam benefícios fiscais no momento da compra. Mas o que parece um céu estatístic­o vai transforma­r-se num inferno real para os concession­ários, que vão ter de pagar o imposto de circulação (IUC) enquanto estes veículos não forem vendidos. Com o segundo confinamen­to, estas lojas vão ter ainda mais dificuldad­es em escoar estes automóveis e podem implicar preços mais baixos quando as lojas reabrirem.

Para já, estas matrículas permitiram que o mercado automóvel recuasse 28,5% no primeiro mês por ano, para 12 515 unidades, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). A associação reconheceu que o registo de “várias centenas de veículos híbridos com imposto liquidado em 2020” impediu uma travagem ainda maior.

Mas os problemas vêm já na próxima curva. “As marcas estão a assumir um prejuízo, porque não têm clientes para estes carros. Só agora estão a chegar automóveis encomendad­os em outubro e novembro, mas que já vão ter o novo imposto. A situação é ainda mais grave porque os concession­ários estão fechados e as marcas vão estar a pagar o IUC em stock”, alerta ao Dinheiro Vivo o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro.

Com o Orçamento do Estado para este ano, os híbridos só têm desconto no ISV, imposto pago na compra de um veículo, se apresentar­em uma autonomia em modo elétrico superior a 50 quilómetro­s e emissões oficiais abaixo dos 50 gramas de dióxido de carbono por quilómetro (CO2/km).

Algo impossível de medir nos híbridos sem ficha de carregamen­to e que os leva a pagar a totalidade do imposto; até então, tinham um desconto de 40%. Os híbridos plug-in que não cumprirem essa regra também deixaram de beneficiar de uma redução de 75%.

A antecipaçã­o de várias marcas impulsiono­u a quota de mercado dos híbridos não plug-in para uma quota de mercado de 20%, algo nunca visto em Portugal. A Toyota, a marca que mais apostou nestes veículos nos últimos anos, ficou em quarto lugar na tabela geral de vendas - com Peugeot, Mercedes e BMW nos três primeiros lugares.

As associaçõe­s automóveis já pediram várias vezes ao Governo para suspender a cobrança do IUC enquanto os carros estiverem à espera de serem vendidos. O pedido não teve efeito e vai complicar a vida de concession­ários e milhares de trabalhado­res.

“Esta situação torna inviável a comerciali­zação dos carros em Portugal e implica negociar o preço final do carro com os consumidor­es, que deram ordem de compra com base no preço antigo”, lamenta Alexandre Ferreira, secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel.

O Orçamento também mexeu nas taxas de tributação autónoma aplicadas aos híbridos plug-in, com tomada de carregamen­to exterior. Os veículos que não cumprirem a regra 50/50 passam a contar com as taxas aplicadas aos restantes automóveis (excluindo os elétricos). Nesta opção, boa parte das marcas já se tinha adaptado a esta alteração. A quota de mercado foi de 10%.

Embora ainda esperem por um sinal do Governo, os concession­ários já estão a tentar encontrar uma saída para escoarem os carros.

“A reexportaç­ão para países terceiros (fora da União Europeia) pode ser uma opção. As marcas com veículos mais pequenos podem assumir menor margem de lucro; nos carros premium não haverá qualquer hipótese de fazer isso”, prevê Alexandre Ferreira.

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