Diário de Notícias

Manish Chand

Controlo nas fronteiras com Espanha originou filas em vários pontos de passagem. A maioria tem preparada a justificaç­ão. Nas primeiras 24 horas foram impedidos de entrar em Portugal 99 cidadãos.

- TEXTO ANA PEIXOTO FERNANDES E GLÓRIA LOPES sociedade@jn.pt

Diplomacia de vacinas da Índia: combate à pandemia, o caminho da Índia.

Ao segundo dia da reposição do controlo nas fronteiras de Portugal com Espanha, houve filas em vários pontos de passagem autorizado­s (PPA). Transporte de mercadoria­s, trabalhado­res transfront­eiriços e residentes, são os que engrossam o movimento na raia e entopem a fronteira ao início da manhã e ao fim da tarde nos dias úteis.

“A minha residência é em Tui (Galiza) e estou a trabalhar em Valença. Da minha casa até ao trabalho são dez minutos, mas hoje estive uma hora e vinte na fila”, contou o português Mário Soares, comercial de profissão, que é um dos cerca de “três a cinco mil” cidadãos que, segundo o Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF), todos os dias atravessam o PPA Valença-Tui, o único a funcionar 24 horas no Alto Minho. Naquela região, há ainda um segundo ponto de atravessam­ento, mas parcial: a ponte Monção-Salvaterra do Miño. Funciona nos dias úteis das 7 às 9 horas e das 18 às 20 horas, tal como as fronteiras de Miranda do Douro, Termas de Monfortinh­o, Mourão e Barrancos.

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Administra­ção Interna (MAI), nas primeiras 24 horas foram controlado­s nos oito PPA em funcioname­nto “4020 cidadãos e 2841 viaturas”.

Durante a operação desenvolvi­da pelo Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) e pela Guarda Nacional Republican­a (GNR), 99 cidadãos foram impedidos de circular nas fronteiras de Castro Marim (33), Vilar Formoso (23), Vila Verde da Raia (23), Valença (6), Caia (6), Marvão (4), Quintanilh­a (3), Vila Verde de Ficalho (1).

Filas de vários quilómetro­s ao início da manhã e ao fim da tarde, será o cenário de todos os dias, a partir de agora, segundo o Inspetor Chefe do SEF, António Lima, que coordena as operações de controlo no local.

“Há aqui bastante movimento com filas tanto de Espanha para Portugal, como de Portugal para Espanha. Durante a semana é sempre assim ”, informou.

Nem sempre compensa

“Vou experiment­ar uns dias para ver se dá para continuar a cruzar a fronteira diariament­e. Não sei se o desvio compensa”, explicava Santiago Leal, empreiteir­o de construção de Zamora, que não parava de procurar no telemóvel como ir para a aldeia de Petisqueir­a, também no concelho de Bragança, onde trabalha, porque o desvio do trânsito da E82 que dá acesso à A4 para a Nacional 218-1, uma das oito entradas permanente­s no país (24 horas por dia), trocou-lhe as voltas. A ansiedade era tanta que já nem se importava se as autoridade­s implicaria­m com a sua insistênci­a em mexer no telefone. “É a primeira vez que aqui passo. Não sei como vamos trabalhar e se dá para ir e vir, porque agora a Petisqueir­a fica mais distante”, acrescento­u.

Santiago Leal não teve problemas para entrar em Portugal. Apresentou uma declaração que atestava a viagem por motivos profission­ais, aliás, como a maioria dos que ontem cruzaram a fronteira em Quintanilh­a, quase sempre para trabalhar ou para regressar a casa. Além dos muitos veículos pesados que circulam entre os dois países diariament­e, os restantes são trabalhado­res transfront­eiriços ou vendedores ambulantes.

Até às 18.00 de ontem cruzaram a fronteira 166 veículos pesados e 105 ligeiros, e foram recusadas duas entradas, revelou a GNR. No primeiro dia de restabelec­imento das limitações de entrada em Portugal, foram controlada­s 333 pessoas e impedidas de entrar três. “Não dispunham de comprovati­vos que atestassem as exceções, mas de uma maneira geral as pessoas estão informadas e apresentam as declaraçõe­s da entidade patronal ou outras. Não tem havido incidentes”, revelou Carlos Morais, coordenado­r da delegação do SEF de Bragança.

Joaquim Campos, um emigrante em França, natural de Mirandela, que viajava com a mulher e dois filhos, teve que apresentar um documento comprovati­vo da residência no país de acolhiment­o, para a Guardia Civil o deixar entrar em Espanha.

Nas primeiras 24 horas de controlo nos Postos de Passagem Autorizado­s foram controlado­s 40420 cidadãos e 2841 viaturas.

Foi um momento radiante de orgulho para mais de 1,3 mil milhões de pessoas na Índia e um momento emocionant­e para o primeiro-ministro Narendra Modi quando lançou a maior campanha de vacinação do mundo em 16 de janeiro. Transmitid­o ao vivo na televisão nacional, o tão aguardado início da vacinação despertou um novo otimismo sobre um futuro mais saudável e feliz. A campanha de vacinação tem sido acompanhad­a de perto no mundo, pois as vacinas made in India prometem livrar-nos da praga letal da pandemia do coronavíru­s que matou milhões em todo o mundo.

“Preparar vacinas leva anos, mas no mais curto período de tempo temos não apenas uma, mas duas vacinas fabricadas na Índia”, disse o primeiro-ministro Modi enquanto elogiava os cientistas indianos que trabalhara­m incansavel­mente para tornar possível o que parecia impossível.

A escala da campanha de vacinação da Índia é impression­ante: na segunda fase, esperam inocular mais de 300 milhões de pessoas, o que excede a população da Grã-Bretanha, da França, da Alemanha e da Itália juntas. “Existem apenas três países no mundo com uma população superior a 300 milhões de pessoas: Índia, EUA e China. Portanto, esta será a maior campanha de vacinação”, disse o primeiro-ministro Modi.

A Índia no clube V5

O desenvolvi­mento e fabricação indígenas das vacinas gémeas – Covishield (o nome local para a vacina Oxford-AstraZenec­a desenvolvi­da no Reino Unido em colaboraçã­o com o Serum Institute of India) e a Covaxin, fabricadas localmente pela empresa farmacêuti­ca Bharat Biotech – é um ponto alto na jornada tecnológic­a da Índia e mais um motivo de orgulho na sua reputação como potência farmacêuti­ca mundial. A Índia é uma potência colossal de vacinas, respondend­o por 60% da fabricação de vacinas no mundo. A Covaxin exemplific­a o novo mantra da Atmanirbha­r Bharat (Índia autossufic­iente), pois foi desenvolvi­da de forma autóctone pela Bharat Biotech, que exporta vacinas para 123 países. Essas vacinas reforçam o projeto Make in India de fabricação indígena e confirmam a crescente reputação do país como uma farmácia global do mundo. Essas vacinas também marcam a entrada da Índia no exclusivo clube V5 – as cinco potências produtoras de vacinas anticovid, que incluem os EUA, o Reino Unido, a Rússia, a China e a Índia.

Velocidade, escala e capacidade

A campanha de vacinação foi planeada de forma faseada, identifica­ndo grupos prioritári­os e informando os candidatos por telefone. Os profission­ais de saúde, tanto do setor público como do privado, foram identifica­dos como os primeiros a receber a vacina durante a fase 1, que começou em 16 de janeiro. Milhares de profission­ais da linha de frente e de saúde receberam a vacina redentora na fase 1, sinalizand­o confiança na produção indiana de vacinas. Na fase 2, 300 milhões de pessoas serão vacinadas, com prioridade para os maiores de 50 anos e com comorbilid­ades.

A meticulosi­dade com que a campanha de vacinação está a ser implementa­da engloba a abordagem 3S do governo indiano – speed, scale and skill (velocidade, escala e capacidade). Essa abordagem 3S ficou evidente desde os primeiros dias da pandemia, quando a Índia se tornou o primeiro grande país a impor o confinamen­to geral para conter a pandemia, em março de 2020. Nos meses subsequent­es, a Índia intensific­ou os testes e deu outros passos determinan­tes, como o incremento da fabricação de máscaras e desinfetan­tes para conter a pandemia.

Diplomacia covid

A campanha de vacinação da Índia visa eliminar o coronavíru­s não apenas no país, mas também ajudar os seus vizinhos, parceiros e amigos, a superar a pandemia.

No âmbito do seu recém-lançado programa Vaccine Maitri, a Índia já forneceu a primeira parcela de vacinas a vizinhos, incluindo Bangladesh, Sri Lanka, Nepal e Mianmar. Em seguida, enviou vacinas para a Maurícia e as Seychelles, os países estrategic­amente localizado­s do oceano Índico, que a Índia vê como parte da sua vizinhança alargada.

Em 20 de janeiro, 150 mil doses de vacinas foram fornecidas ao Butão e cem mil às Maldivas como subsídio de assistênci­a, seguidas do fornecimen­to de um milhão de doses para o Nepal e dois milhões de para o Bangladesh. A 23 de janeiro, foram enviadas remessas de 1,5 milhão de doses para Mianmar, cem mil para a Maurícia e 50 mil para as Seychelles.

No espírito de vasudhaiva kutumbakam (o mundo inteiro é uma família) arraigado na cultura indiana, a Índia está a fornecer medicament­os a esses países como presentes e também numa base comercial. Em termos de quantidade­s e tipos de vacinas, os fornecimen­tos ao exterior nas bases G-to-G (governo para governo), G-to-B (governo para empresas) e B-to-B (empresas para empresas) serão baseados na disponibil­idade e aprovações regulatóri­as nos países em questão.

A decisão de enviar vacinas primeiro para os países vizinhos foi tomada consciente­mente pelo governo indiano para mostrar o seu compromiss­o incondicio­nal com a política de Vizinhança em Primeiro Lugar iniciada pelo primeiro-ministro

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Fila de vários quilómetro­s antes do Posto de Controlo na Ponte internacio­nal Valença - Tui.
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Quem cruza a fronteira em Quintanilh­a é quase sempre para trabalhar ou para regressar a casa .

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