Diário de Notícias

PIB Dívida de 2020 derrapa mais de 3 mil milhões de euros face ao orçamentad­o

Endividame­nto público aumenta mais de 8%, mas ainda assim fica aquém dos 31% registados em 2011. Peso da dívida deve furar meta de 2020 e ser superior a 136% do PIB.

- TEXTO LUÍS REIS RIBEIRO

Adívida pública total de 2020 subiu para novos máximos históricos em rácio (medido em proporção do produto interno bruto ou PIB) e em termos nominais (medido em euros).

O peso da dívida terá ficado acima dos 136% do PIB, acima dos 134,8% que o Ministério das Finanças estimou no Orçamento do Estado de 2021, entregue em outubro. Este valor de 136% resulta de cálculos do Dinheiro Vivo com base em dados novos ontem divulgados pelo Banco de Portugal (a entidade responsáve­l pelo apuramento da dívida na ótica do Tratado de Maastricht, a que interessa a Bruxelas) e assumindo a estimativa do governo para o PIB nominal de 2020, que rondaria os 198,3 mil milhões de euros.

Em termos nominais, as contas mostram que a República precisou de mais 3 a quase 4 mil milhões de euros em dívida do que se previa no final da primeira vaga da pandemia (junho).

Segundo revelou ontem o banco central governado por Mário Centeno (o ministro na altura dessa primeira vaga), o stock da dívida terá ficado nos 270,4 mil milhões de euros, também este um máximo histórico.

Por causa da pandemia e das medidas de confinamen­to, a crise económica abateu-se rapidament­e sobre as contas públicas, provocando uma pressão orçamental sem precedente­s.

O Governo tem tido (e continuará a ter) a ajuda da União Europeia), tem beneficiad­o da política ultra relaxada do Banco Central

Europeu (BCE) nos juros, mas mesmo isto não chega.

Como referido, no ano passado, para financiar o défice (que deve ficar em 6,3% do PIB) o Estado também precisou de ir mais vezes aos mercados da dívida para arranjar dinheiro.

Aliás, o momento é o mais propício para isso na História recente, pois a República está a conseguir endividar-se em várias maturidade­s a juros zero ou mesmo negativos. O País fica com mais dívida, mas a fatura dos juros (que vai ao défice) diminui, pois, essa dívida é muito mais barata.

De acordo com contas do DV, na altura da primeira vaga da covid-19, o Governo projetou que a dívida de 2020 ficaria em 134,4% do PIB, o que equivalia a cerca de 266,5 mil milhões de euros no final do ano passado. Não ficou. O Banco de Portugal apurou os tais 270,4 mil milhões de euros em dezembro.

São mais 3,9 mil milhões de euros face ao valor implícito no Orçamento retificati­vo ou suplementa­r conhecido em junho.

E a dívida só não terá subido mais porque houve uma parte do ano de 2020 que correu melhor do que o esperado, fazendo até com que o défice seja mais baixo.

Segundo as Finanças, “apesar do impacto muito acentuado da crise pandémica na economia em 2020, o comportame­nto do mercado de trabalho foi bastante mais favorável do que o previsto, o que deverá ter um impacto positivo nas contas públicas”.

A tutela do ministro João Leão referiu ainda que “a evolução mais positiva do emprego, com reflexo na receita fiscal e contributi­va, permite-nos antecipar que o défice orçamental em contas nacionais de 2020 deverá ficar abaixo dos 7,3% previstos no Orçamento do Estado para 2021, devendo ficar mais próximo do valor inicialmen­te previsto no Orçamento Suplementa­r de 2020.” São os tais 6,3%.

O Banco de Portugal explica que “no final de 2020, a dívida pública situou-se em 270,4 mil milhões de euros”, aumentando 20,4 mil milhões de euros em relação ao final de 2019. É um aumento superior a 8%. É preciso recuar a 2011, o ano da bancarrota e primeiro do programa de austeridad­e, para encontrar uma engorda maior. Em 2011, a dívida pública disparou mais de 30%, segundo as contas do DV.

Para esta subida, “contribuiu o aumento dos títulos de dívida (17,6 mil milhões de euros), dos empréstimo­s (1,7 mil milhões) e das responsabi­lidades em depósitos (1,1 mil milhões de euros), por via, principalm­ente, das emissões de certificad­os do Tesouro”.

“Os depósitos das administra­ções públicas ascenderam a 23,9 mil milhões de euros no final de 2020, aumentando 9,4 mil milhões de euros em 2020” pelo que mesmo a dívida líquida de depósitos (que servem para formar uma almofada de segurança) “subiu 11 mil milhões de euros em relação ao ano anterior”, diz o BdP.

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Ministério de João Leão diz que evolução mais positiva do emprego permite antecipar que o défice orçamental deverá ficar abaixo dos 7,3% previstos no OE 2021.
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