Diário de Notícias

Vacinas covid-19: uma maratona em equipa

- Sofia Colares Alves

Em pouco mais de um mês, 12 milhões de pessoas foram vacinadas em toda a União Europeia (UE). 18 milhões de doses foram distribuíd­as pelos diferentes países e, de acordo com os dados das empresas com as quais a UE tem acordos de fornecimen­to deste precioso bem, 33 milhões de doses serão entregues em fevereiro e outros 55 milhões até ao final de março.

O processo normal de desenvolvi­mento de uma vacina demora em média dez anos. No caso das vacinas contra o coronavíru­s, esse prazo foi encurtado para dez meses, em parte graças ao grande investimen­to que a Comissão Europeia e outras entidades fizeram na investigaç­ão e no incremento da capacidade de produção desde o início da pandemia.

A estratégia de aquisição de vacinas coordenada pela UE permitiu que, em apenas seis meses, e se todos os candidatos envolvidos forem bem-sucedidos, se tenham garantido dois mil milhões de doses de vacinas seguras e eficazes, que serão repartidas equitativa­mente e ao mesmo tempo entre todos os países da União, e quando a situação na UE assim o permitir, entre países vizinhos e outros.

A disponibil­idade destas doses de vacinas resulta de um processo de negociação conjunta conduzido pela Comissão em estreita coordenaçã­o com os 27 países da UE. Porque em conjunto temos uma capacidade negocial reforçada e porque não é difícil imaginar a alternativ­a: uma corrida desenfread­a na qual não haveria vencedores, mas onde não faltariam vencidos. Dito isto, deve ficar bem claro que há espaço para negociaçõe­s diretas com os fabricante­s e que cada país tem a possibilid­ade de dar autorizaçã­o de emergência, com a responsabi­lidade nacional, a outras vacinas.

A União disponibil­izou 2,7 mil milhões de euros que já permitiram fechar acordos com seis fabricante­s de vacinas, três das quais já receberam a luz verde da Agência Europeia do Medicament­o (EMA). Muitas vezes injustamen­te acusada por ter um processo de autorizaçã­o demorado, este foi um passo de que a Comissão não quis abdicar para garantir que as vacinas disponívei­s são eficazes, mas também seguras. Além disso, este é um processo que, ao contrário das aprovações ditas de “emergência” adotadas por outros países, assegura que a responsabi­lidade final pela qualidade das vacinas pertence aos respetivos fabricante­s e não às entidades públicas.

Não se trata de efetuar balanços prematuros nem de celebrar uma qualquer vitória ainda longínqua. Trata-se apenas de colocar alguns elementos em perspetiva numa altura em que, compreensi­velmente, se multiplica­m as vozes preocupada­s com o ritmo de um processo que terá um papel crucial para pôr um ponto final numa pandemia que tanto sofrimento tem provocado.

Dizer tudo isto não é dizer que não haja lições a retirar e coisas a melhorar. Mas é constatar que dificilmen­te teríamos chegado aqui se, em vez de uma estratégia coordenada e solidária, tivéssemos deixado cada país entregue à sua sorte. Como disse recentemen­te a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a luta contra a pandemia é uma maratona, não um sprint. É um processo longo e em que não devemos perder de vista o objetivo final, apesar das inevitávei­s vicissitud­es que se nos atravessar­ão ao longo do caminho.

Francisco Rodrigues dos Santos com Adolfo Mesquita Nunes no congresso de Aveiro.

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