Diário de Notícias

URBANISMO

A aquisição de terreno da Águas do Porto, na zona do Fluvial, permite ter uma alternativ­a de circulação dos moradores, que assim podem evitar, durante o dia, o local de consumo de drogas em via pública.

- TEXTO CYNTHIA VALENTE

ACâmara Municipal do Porto (CMP) avançou com a aquisição de um terreno que permite aos moradores “contornar” a zona do Jardim do Fluvial, no Porto, local onde o consumo de drogas se faz em plena luz do dia. Um problema que, segundo os moradores, se arrasta há cerca de dois anos. “Este problema começou a aparecer com a deslocação dos consumidor­es do Bairro do Aleixo para outras zonas da cidade.”

“O consumo na via pública era feito no Aleixo e passou para aqui. Faz-se em plena luz do dia e de forma violenta. É algo agressivo, com injeções no pescoço, pernas e barriga. Agora os consumidor­es compram no Bairro da Pasteleira e consomem no Jardim do Fluvial. Trata-se de uma zona que abrange a ciclovia que sai da Pasteleira e passa aqui. Essa avenida tem uma encosta e é a zona mais problemáti­ca no que se refere ao consumo”, explica Rui Carrapa, morador e responsáve­l pelo movimento Jardim Fluvial sem Drogas.

A aquisição do terreno, admite, “ajuda muito os moradores, mas não resolve o problema”. “A CMP tem feito um trabalho fantástico. Em termos de segurança pública não podem fazer nada, mas disponibil­izou uma equipa para diariament­e limpar o jardim e tem feito muito para além do que lhe compete porque a responsabi­lidade é das autoridade­s policiais e do SICAD [Serviço de Intervençã­o nos Comportame­ntos Aditivos e nas Dependênci­as]”, sublinha.

Rui Carrapa tece duras críticas ao organismo que “detém a responsabi­lidade nesta problemáti­ca”. “O orçamento do SICAD foi de 18 milhões de euros em 2018. O de 2019 e 2020 nem se sabe ainda. É um organismo que devia defender as pessoas com esta adição, mas não o faz. Nunca vi uma equipa do SICAD aqui. Nunca”, afirma. O morador descreve a situação como “dramática” e “complexa”. “Os consumidor­es usam os kits e deixam o lixo no chão. Só têm algum cuidado com as seringas. É um problema de saúde pública. Muitas dessas pessoas têm problemas com doenças como sida e tuberculos­e”, diz.

O consumo de drogas na via pública que era feito no Bairro do Aleixo, passou para a zona do Jardim Fluvial.

Rui Carrapa vai mais longe e pede uma solução urgente para as “salas de chuto”. “Os consumidor­es querem um sítio seguro e higiénico para consumir. É da responsabi­lidade do SICAD os critérios de exploração desses locais. Estes consumidor­es perderam parte da sua humanidade e precisam de ajuda. A maioria é sem-abrigo, que pernoita na zona da ETAR, no tal terreno que vai ser comprado pela CMP. São necessária­s salas de chuto com equipas especializ­adas e médicos”, defende. Para Rui Carrapa, o SICAD “é o problema e a solução” para este “drama”.

O morador refere ainda a existência de problemáti­cas paralelas ao consumo em via pública, como “pequenos assaltos e pequena delinquênc­ia”. Há registos de garagens arrombadas, carros assalta

dos. Ou seja, a chamada pequena delinquênc­ia, o que causa muita inseguranç­a aos moradores. É preciso não esquecer, também, que o imobiliári­o fica prejudicad­o. As casas perdem valor no mercado”, conclui Rui Carrapa.

De acordo com as declaraçõe­s do presidente da CMP, Rui Moreira, proferidas em reunião de executivo, o acesso ao “novo caminho” será aberto durante o dia e fechado no período noturno, por questões de segurança.

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