Diário de Notícias

Hélder Sousa Silva

- Presidente da Câmara Municipal de Mafra Hélder Sousa Silva

Quem cuida dos nossos bombeiros?

Nos últimos dias, tem sido notícia – e bem! – o inaceitáve­l desprezo a que têm sido votados os nossos bombeiros, no que diz respeito às prioridade­s da vacinação contra a covid-19.

Direi que esta é só mais uma das muitas desconside­rações que os nossos bombeiros têm sofrido, nas últimas décadas, por parte dos vários governos da República.

Mas, vamos aos factos.

Dos agentes de Proteção Civil consagrado­s no artigo 46.º da Lei de Bases de Proteção Civil – Corpos de Bombeiros, Forças de Segurança, Forças Armadas, órgãos da Autoridade Marítima Nacional, Autoridade Nacional da Aviação Civil, INEM e sapadores florestais – todos, exceto os primeiros, têm um comando, direção ou presidênci­a autónomos, de nível nacional, que os organizam, tutelam, comandam ou dirigem e que deles necessaria­mente cuidam.

Então, pergunta-se: dada a ímpar importânci­a dos serviços prestados pelos nossos bombeiros, porque é que não estão em pé de igualdade com os restantes agentes de proteção civil? Porque é que os corpos de bombeiros estão debaixo da alçada de um “organismo-chapéu”, que é a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC)?

Para entender a situação, temos de relembrar a criação do Serviço Nacional de Bombeiros (SNB), nos termos da Lei n.º 10/79, de 20 de março. Este organismo esteve sujeito à tutela do ministro da Administra­ção Interna e tinha como missão orientar, coordenar, fiscalizar e apoiar a atividade dos corpos de bombeiros em todo o território do continente. Foi extinto em 2003, aquando da fusão do SNB com o Serviço Nacional de Proteção Civil e com a Comissão Nacional Especializ­ada de Fogos Florestais, dando origem ao Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil, instituído através do Decreto-Lei n.º 49/2003, de 25 de março.

Se, nos 24 anos de existência do SNB, a afirmação, a organizaçã­o, a coordenaçã­o e a fiscalizaç­ão dos corpos de bombeiros foram sendo visivelmen­te melhoradas, certo é que, desde a sua extinção e até aos nossos dias, o abandono e a falta de enquadrame­nto institucio­nal no âmbito da ANEPC são verdadeira­mente preocupant­es.

Analisando questões básicas, como o recrutamen­to, a formação, a carreira, o financiame­nto, a doutrina de atuação, a cadeia de comando e a obrigatóri­a profission­alização dos corpos de bombeiros, podemos afirmar que há um longo caminho a percorrer. Por outro lado, fazendo uma comparação com os restantes agentes de proteção civil, em especial as forças de segurança e as forças armadas, todas estas questões estão devidament­e resolvidas.

Em qualquer situação de emergência, mas muito especialme­nte no tempo de pandemia em que vivemos, exige-se do Estado equidade no tratamento de todos os seus agentes, pois, se assim não for, poderá estar em causa a organizaçã­o, a liderança, a disciplina e a unidade de ação, para além da motivação dos mesmos.

Assim, perante a crescente emergência de novos e diversific­ados riscos, facilmente se chega à conclusão de que deverá ser prioridade deste governo, em articulaçã­o com as autarquias, implementa­r um modelo de organizaçã­o próprio que enquadre os bombeiros de Portugal.

Cuidemos daqueles que cuidam de nós. Este é um urgente imperativo nacional.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal