Diário de Notícias

Tem edição para invisuais

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e, com ele, tornaram visíveis os danos provocados por esse inimigo invisível.

Miguel Lopes explica que tudo começou por brincadeir­a num grupo de fotógrafos e fotojornal­istas no WhatsApp. Ao todo, seriam mais de meia centena. Decidiu, então, lançar-lhes um repto: que contribuís­sem, com os seus testemunho­s fotográfic­os, para a página de Instagram entretanto criada. Nenhum esperava o que rapidament­e aconteceu: uma adesão massiva.

“Chegámos a ser 119 fotógrafos a publicar imagens. Alguns publicavam uma fotografia, dois minutos depois tentavam colocar outra e o Instagram não aguentava, ia abaixo. Era preciso organizar as fotos para conseguir o máximo de qualidade”, acrescenta.

Mais de 20 mil seguidores

Para gerir a afluência e o caos, criaram um conjunto de regras e formaram uma equipa de responsáve­is constituíd­a por oito fotógrafos: André

Dias Nobre, Angelo Lucas, Gonçalo Borges Dias, Gonçalo Delgado, João Pedro Almeida, Miguel A. Lopes, Rui Soares e Rui Miguel Pedrosa. A este grupo coube editar as centenas de fotos que recebiam diariament­e. “Todas as noites, no Zoom, gastámos horas a discutir as fotos. Como somos todos muito diferentes, às vezes ficávamos mais de uma hora a discutir só uma imagem”, lembra. O coletivo conquistou mais de 20 mil seguidores durante o primeiro confinamen­to.

“Recebemos dezenas de mensagens todos os dias. Houve um dia em que começaram a restringir a mobilidade entre concelhos, houve

O livro

uma edição de autor, possui um caderno em braille e um QR Code que permite aos invisuais ouvirem a legenda de cada imagem. “Queríamos que o livro fosse o mais inclusivo possível. Daí incluirmos também esta possibilid­ade”, reforça Miguel Lopes. Assim, as mais de 500 imagens abrem as janelas e os olhos de todos.

Everyday Covid – Diários Fotográfic­os em Estado de Emergência,

uma operação stop numa ponte e as pessoas ficaram muito irritadas. Nesse dia, publicámos uma fotografia do Rui Duarte Silva, um senhor numa cama de hospital. E, de repente, tudo se tornou visível. As pessoas perceberam que estava mesmo a acontecer, apesar de o vírus ser invisível, de não dar para cheirar e de os mortos não estarem caídos no meio da rua”, sublinha Miguel Lopes. “Este projeto é um documento histórico, para que os meus filhos, daqui a dez anos, possam perceber o que aconteceu”, continua.

Aurora Diogo, coordenado­ra, percebeu rapidament­e o potencial do projeto. Foi assim que, pouco depois, e por sugestão de Angelo Lucas, foi criado um suporte não efémero: um livro. “Era ponto assente que esse livro não podia ter patrocinad­ores nem marcas envolvidas”, conta Aurora Diogo. Então, foi pedido o alto patrocínio da Presidênci­a da República. Marcelo Rebelo de Sousa escreveu o prefácio. “A partir daí, o trabalho foi o de contactar as autarquias para comprarem, por antecipaçã­o, o livro.” Já está presente em mais de 70 biblioteca­s municipais e disponível para venda online. As receita revertem para uma ação social direta dos fotógrafos. Nenhum profission­al envolvido neste projeto foi pago por isso. Aliás, nota Miguel Lopes, “muitos viviam situações precárias e ficaram sem trabalho durante o primeiro confinamen­to”. Como eles tornaram visível o vírus que não se vê

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