Diário de Notícias

CDS segura Chicão ao leme com desafios que incluem nova direção e preparação das autárquica­s

Líder centrista conseguiu segurar o leme do partido, mas tem pela frente desafios pesados. Novos nomes para a direção, a ligação com a bancada parlamenta­r e autárquica­s estão já aí.

- TEXTO PAULA SÁ

Há quatro desafios incontorná­veis para o líder do CDS, depois de ter conseguido, de forma muito suada, ver aprovada a sua moção de confiança no Conselho Nacional do partido por 54% dos votos, e com mais algumas demissões na direção à mistura. A começar por aqui, Francisco Rodrigues dos Santos tem de encontrar os rostos para substituir os vices que bateram com a porta, dois dos quais no próprio dia em que a moção foi aprovada, o que prometeu já anunciar na próxima semana. Além disso, terá de encontrar uma ponte de ligação com o grupo parlamenta­r, que nunca esteve com ele, gerir o processo de escolha de candidatos autárquico­s e fazer passar as bandeiras do partido.

“É uma tarefa gigantesca que tem agora pela frente, e depois deste confronto com Adolfo Mesquita Nunes que ainda fragilizou mais o

CDS”, afirma ao DN um antigo dirigente do partido.

Depois do braço de ferro com o antigo vice-presidente de Assunção Cristas – que, entretanto, veio publicamen­te dizer respeitar o veredicto do Conselho Nacional –, há quem também entenda “que está tudo igual”. Ou seja, os problemas que já existiam no partido e as divisões internas irão manter-se. A única expectativ­a é que os ânimos serenem até às eleições autárquica­s. E se o CDS, que está a negociar as coligações com o PSD, não obtiver um bom resultado, a “guerra” voltará ao partido.

Sintoma disso, garantem fontes do CDS, é o aparente afastament­o do vice-presidente mais ativo, António Carlos Monteiro, que não terá participad­o no Conselho Nacional online. O DN tentou confirmar em vão junto do próprio se se mantém na direção de Francisco Rodrigues dos Santos.

Confirmada­s estão as demissões de Pestana Bastos e Tiago Oliveira (os dois que se demitiram após a renovação da confiança na Comissão Política Nacional), que eram vogais do órgão de cúpula do CDS.

“Se voto contra a moção dessa direção, tenho de retirar as ilações. Não posso votar a favor de um congresso e ficar. Entendo que um congresso era necessário para clarificar o rumo do partido. A moção de confiança não é suficiente para legitimar uma direção”, disse Pestana Bastos à Lusa, a justificar a sua decisão. Tal como ele, Tiago Oliveira, antigo presidente da distrital do Porto da Juventude Popular, também era um dos adeptos da realização da reunião magna.

A 28 de janeiro, o até então vice-presidente do CDS Filipe Lobo d’Ávila e os vogais da Comissão Executiva Raul Almeida e Isabel Menéres Campos anunciaram que pediram a demissão dos cargos.

No dia seguinte, também os vogais da Comissão Política Nacional do CDS-PP Paulo Cunha de Almeida e José Carmo deixaram a direção, enquanto José Maria Seabra Duque e Tiago Leite saíram do gabinete de estudos do partido.

Entretanto, saíram também José Miguel Garcez, da Comissão Executiva, bem como Altino Bessa e João Medeiros, que eram vogais da Comissão Política Nacional. Francisco Kreye, da Comissão Política Nacional e que é secretário-geral da JP desde os tempos em que Rodrigues dos Santos era presidente da organizaçã­o juvenil, também deixou o lugar.

Apelo à paz

“Aquilo que assisti no Conselho Nacional foi deplorável e faz imenso mal ao CDS. O partido não precisa que isto aconteça”, afirma José Ribeiro e Castro. Da reunião só retira “uma coisa boa”: o discurso do presidente centrista. “Fez um bom discurso, com serenidade, com um rumo para o partido e com o qual o eleitorado do CDS gosta. Agora é preciso que o partido o ajude!”

O antigo líder do partido frisa que o Conselho Nacional anterior, em que a direção também foi confrontad­a com o apoio à recandidat­ura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidênci­a, também foi lesivo. “Não acho estranho que logo a seguir tenha aparecido uma sondagem que dava 0,3% ao CDS. Não há factos maus que não tenham consequênc­ias”, diz.

José Ribeiro e Castro sublinha que é preciso bom senso e deixar a direção fazer o seu trabalho. Que deverá ser centrado, afirma, na preparação das eleições autárquica­s. “É uma tarefa muito difícil para o partido e para o centro-direita e só com um bom acordo entre CDS e PSD é que se poderá conseguir uma vitória.”

Aos críticos de Francisco Rodrigues dos Santos deixa o recado de que “só se queixam do que eles próprios provocam, que é a instabilid­ade e colocarem o partido numa má situação”.

“Sairei daqui presidente de todos os militantes do partido. [...] Relevante é que o CDS consiga colocar de lado as divergênci­as internas.” Francisco Rodrigues dos Santos Líder do CDS

“Agradeço a todos os que acreditara­m na mudança [...] Agora há eleições autárquica­s e nelas estarei empenhado, na minha terra." Adolfo Mesquita Nunes Antigo vice-presidente do CDS

“Aquilo que assisti no Conselho Nacional foi deplorável e faz imenso mal ao CDS. O partido não precisa que isto aconteça.” José Ribeiro e Castro Antigo líder do CDS

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Francisco Rodrigues dos Santos saiu do Conselho Nacional a apelar à unidade do partido em torno das autárquica­s.

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