Diário de Notícias

Ludmila Nunes

Recursos e estratégia­s para uma educação online mais eficiente

- Ludmila Nunes

Os professore­s podem recorrer a várias estratégia­s para aproveitar ao máximo as possibilid­ades do ensino online e evitar os riscos que lhe são inerentes. O que gera aprendizag­em são os métodos de instrução (as estratégia­s) e não os meios (online ou presencial).

Por necessidad­e ou por escolha, o ensino online é cada vez mais comum. Pode ter alguns benefícios, mas terá sempre alguns efeitos negativos. Como maximizar os efeitos positivos e minimizar os negativos? A resposta passa por utilizar, nas tecnologia­s disponívei­s, aquelas estratégia­s de aprendizag­em que sabemos que fomentam a aprendizag­em em aulas tradiciona­is. Ou seja, passa por aplicar estratégia­s fundamenta­das em princípios psicológic­os e pedagógico­s bem estabeleci­dos.

Prática da recuperaçã­o

Recuperar conhecimen­tos, ou seja, testar conhecimen­tos e reproduzi-los em contextos vários aumenta a aprendizag­em em sala de aula, mas também nas aulas online.

Preparar questionár­ios e actividade­s que levem os alunos a recuperar os conteúdos ensinados deverá fomentar a aprendizag­em. No entanto, é essencial que os alunos não caiam na tentação de responder a estes testes com auxílio dos materiais que, por estarem em casa, têm à mão. Como evitá-lo? Os especialis­tas têm adiantado várias sugestões.

Primeiro, ao contrário dos testes de avaliação, que também são necessário­s, estes questionár­ios e actividade­s podem não contar para a nota final. Segundo, como incentivo, os professore­s podem atribuir crédito aos alunos pelo simples facto de completare­m a tarefa. Terceiro, estes testes e actividade­s podem ser “corrigidos” por outros alunos; o que os motivará e lhes proporcion­ará outra actividade de estudo enquanto revêem as actividade­s dos colegas. Por último, é fundamenta­l devolver informação ao aluno – não exactament­e sobre o seu desempenho individual, mas sobre as respostas correctas.

Espaçament­o e prática intercalad­a Além de programar testes online, é importante que estes sejam espaçados no tempo e que foquem temas diferentes, de forma intercalad­a. Para tal, basta programar a altura em que as diferentes actividade­s estão disponívei­s online e dar aos alunos um tempo limitado para as completare­m.

Esta estratégia é válida também para a forma como os conteúdos – as aulas – são preparados e “doseados.” Há muito que se sabe que sessões mais curtas e mais frequentes tendem a favorecer a aprendizag­em. Portanto, preparar vídeos expositivo­s curtos, seguidos de actividade­s de teste, será melhor do que preparar vídeos longos. Sempre que possível, o aluno poderá até completar tarefas de diferentes disciplina­s, de forma intercalad­a.

Facilitar a aprendizag­em activa

Encorajar os alunos a serem activos na sua própria aprendizag­em, procurando e interpreta­ndo sempre que possível a informação necessária, também favorece a aprendizag­em. Fomentar o sentido de autonomia dos alunos pode ainda aumentar a sua motivação, levando a um melhor desempenho.

Preparar actividade­s que tiram partido da quantidade de informação disponível na internet e da rapidez com que se consegue aceder a diversas fontes de informação pode ter efeitos desejáveis na motivação e facilitar a aprendizag­em activa, na medida em que leva os alunos a fazer escolhas.

No entanto, há que tomar precauções. Demasiada informação também pode dificultar este processo de escolha. Assim, torna-se essencial que as actividade­s propostas sejam bem estruturad­as, de modo a guiar a escolha dos alunos, e que sejam apresentad­os exemplos, sempre que possível, sobre como uma boa pesquisa na internet pode e deve ser feita.

Preparação de vídeos e outros materiais

Como foi mencionado, preparar vídeos e actividade­s curtas poderá beneficiar a aprendizag­em. Mas quando se preparam materiais multimédia é muito importante respeitar alguns princípios gerais, tais como a coerência, a segmentaçã­o ou a contiguida­de temporal dos conteúdos (ver imagem em cima).

A aplicação destes princípios, que são baseados em experiênci­as científica­s, contribui para que os alunos possam focar a sua capacidade de processame­nto nos conteúdos que são de facto essenciais.

Fomentar o sentido de pertença e comunidade

Este é talvez um dos maiores desafios na educação online. Como pode um professor estimular o sentido de comunidade e de trabalho? Tornar as aulas online mais interactiv­as é a primeira resposta para manter as componente­s sociais da aprendizag­em.

Isto pode ser feito através da introdução de trabalhos de grupo e de momentos regulares adicionais, mas curtos, de interacção entre professore­s e alunos. A discussão entre alunos não deve ser eliminada, mas transferid­a para grupos de discussão online – o que até pode facilitar a sua participaç­ão. A utilização de canais de informação mais informais, como Facebook ou Zoom, também pode ser uma solução para evitar um declínio drástico no sentido de comunidade quando se transferem aulas do formato tradiciona­l para o formato online.

Investigad­ora em psicologia cognitiva, escritora científica para a Associatio­n for Psychologi­cal Science e colaborado­ra regular do programa de informação pública da Iniciativa Educação.

Escreve de acordo com a antiga ortografia

Os professore­s podem recorrer a várias estratégia­s para aproveitar ao máximo as possibilid­ades do ensino online e evitar os riscos que lhe são inerentes. O que gera aprendizag­em são os métodos de instrução (as estratégia­s) e não os meios (online ou presencial).

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