Diário de Notícias

Felipe Pathé Duarte

Ponto de situação. Aforismos do poder russo

- João Melo Jornalista e escritor angolano, publicado em Portugal pela Caminho

Os Estados Unidos ficaram agastados com o recente acordo entre a União Europeia e a China, após sete anos de complexas negociaçõe­s.

Como serão, após a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, as relações entre esse país e a China? Essa é, possivelme­nte, a grande incógnita do futuro imediato no plano das relações internacio­nais, com repercussõ­es autenticam­ente globais.

A verdade é que a China saiu reforçada, para já, da atual crise pandémica, por duas razões. A primeira foi a maneira como soube lidar com o novo coronavíru­s, pondo em execução um plano nacional unificado para combater a sua disseminaç­ão. A segunda foi a sua rápida recuperaçã­o económica, apesar da covid. “A China foi a única economia mundial que cresceu 2,3% durante a pandemia”, lembra a pesquisado­ra brasileira Melissa Cambuhy, da Universida­de Federal do Rio de Janeiro.

Os dois países, entretanto, continuam a disputar a liderança do comércio e da economia mundiais. Os primeiros sinais apontam para a continuida­de, por parte da nova administra­ção americana, da política de confronto com Pequim. Por isso, os EUA ficaram agastados com o recente acordo entre a União Europeia e a China, após sete anos de complexas negociaçõe­s.

A maioria dos observador­es considerou a decisão europeia, impulsiona­da pela Alemanha, como uma manifestaç­ão de autonomia, o que poderá ser benéfico para o equilíbrio geopolític­o mundial.

Duas questões políticas estão no centro da atitude da administra­ção Biden em relação à China, pelo menos nestas primeiras semanas: a repressão dos uigures por parte de Pequim e a situação em Hong Kong.

Os referidos temas são considerad­os pelas autoridade­s chinesas como sendo estritamen­te “problemas internos” do país, o que é obviamente discutível, mas a análise precisa de ser ponderada.

Assim, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou no recente Fórum Económico Mundial, em Davos: “Não há civilizaçã­o humana sem diversidad­e e diferenças históricas. Em vez do ódio e do preconceit­o, a escolha certa é a coexistênc­ia pacífica.”

O fator tecnológic­o desempenha também um papel decisivo na polarizaçã­o sino-americana. Refiro-me à tecnologia 5G. “Sem 5G não existe indústria 4.0”, lembrou Melissa Cambuhy. De facto, a mesma é essencial para ter acesso às inovações que permitirão o aumento da produtivid­ade e do valor agregado. Ou seja, o 5G terá uma implicação direta na sofisticaç­ão produtiva.

Recorde-se aqui que a China, cuja empresa líder neste setor é a Huawei, já está envolvida com a elaboração da tecnologia 6G.

A influência externa é o terceiro domínio onde os dois países disputam atualmente a liderança. Há anos que a China tem vindo a estabelece­r relações com um conjunto crescente de países em vários continente­s, a fim de combater a hegemonia americana. A aproximaçã­o com a Rússia também faz parte desse jogo.

Devido ao aumento da influência internacio­nal chinesa, incluindo em África, mas não só, os adversário­s de Pequim têm acusado o país de ter uma política imperialis­ta. Outros observador­es, contudo, lembram que, enquanto a China faz investimen­tos no exterior, os EUA mantêm uma série de bases militares em todo o mundo. Para esses observador­es, aquela acusação é “absurda”.

Para finalizar, há um assunto em relação ao qual os dois países parecem condenados a cooperar: as mudanças climáticas. Disse Xi Jinping em Davos: “Só há uma Terra e um futuro compartilh­ado pela humanidade. Precisamos de ficar juntos, dar as mãos e deixar o multilater­alismo guiar-nos.” John Kerry, o czar do ambiente nomeado por Biden, disse a mesma coisa, por outras palavras, algumas semanas depois.

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