Diário de Notícias

A MINHA CIDADE VAZIA

Jacinta, cantora de jazz, pede esforço final, consciente, para que todos se mantenham confinados, lutando numa guerra que já fez muitos estragos.

- JACINTA

Aminha cidade, Aveiro, está vazia... de pessoas... de habitantes nas ruas... de turistas. Vivo num apartament­o cheio de luz e com amplitude de horizontes. Todos os dias agradeço aos deuses o facto de sempre ter tido uma ocupação/profissão que exige confinamen­to a maior parte do tempo. Graças a isso, fui muito criteriosa ao escolher a minha casa – tinha de ser um espaço confortáve­l para estar 24 sobre 24, a maior parte do tempo. Uma vez, cheguei a estar em casa por sete dias consecutiv­os, por alturas de escrita de tese, sem sequer dar por isso!

Do que sinto muita falta agora é de não poder enfiar-me num teatro, a ver música ou dança, que tanto acalenta o meu ser e me transporta! Ou um cinema! Os filmes numa sala e num ecrã grandes podem lavar-nos a alma de cima a baixo. Nunca investi num grande ecrã de TV, porque os grandes filmes via-os no cinema; os concertos, numa sala, encatrafoa­da que fosse, quanto mais quentinha, melhor! A sentir a música através da pele e no esqueleto todo...

Quis o destino e o meu bom senso que, após 15 anos consecutiv­os de atividade de estrada, voltasse à academia – para estudar e para dar aulas. Em 2012, tanto eu como a minha manager, que encabeçava uma equipa de cinco pessoas a trabalhar em exclusivo na minha carreira artística, fomos fazer doutoramen­to. Com a entrada num doutoramen­to em Música, conheci músicos e, sobretudo, professore­s de Música, que se tinham ausentado dos seus postos para continuare­m a sua formação. Foi para substituir um desses professore­s que fui até ao Piauí, no Brasil, onde acabei por fazer uns concursos absurdos para professor efetivo, vendo esse desafio da mesma forma que tudo na minha carreira: como um touro a ser enfrentado pelos cornos.

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