Diário de Notícias

INTERNACIO­NAL Birmaneses nas ruas: general defende golpe e avisa que ninguém está acima da lei

- TEXTO HELENA TECEDEIRO

No seu primeiro discurso televisivo desde o golpe de dia 1 de fevereiro, o general Min Aung Hlaing garantiu que os militares só voltaram ao poder na Birmânia porque as eleições de novembro, que a Liga Nacional para a Democracia, de Aung San Suu Kyi, venceu por larga margem, foram fraudulent­as. Mais preocupado em justificar o golpe que resultou na detenção do presidente Win Myint e de Suu Kyi, a Nobel da Paz e a líder de facto do governo do país (proibida pela Constituiç­ão de ser presidente por ter sido casada com um estrangeir­o) do que em ameaçar os manifestan­tes, o general Min Aung Hlaing não deixou de recordar que ninguém está acima da lei.

O homem que assumiu o poder depois do golpe e impôs um estado de emergência durante um ano garantiu que a comissão eleitoral não investigou de forma correta irregulari­dades nos cadernos eleitorais, além de não ter permitido uma campanha justa. Afirmando-se empenhado numa “democracia verdadeira e disciplina­da, o general ignorou os protestos que na última semana encheram as ruas das principais cidades do país, limitando-se à tal referência de que a lei é igual para todos.

Tanto em 1988 como em 2007, as ondas de protesto que nasceram na Birmânia foram recebidas com uma violenta repressão por parte da Junta Militar que governou o país, por eles rebatizado de Myanmar, entre 1962 e 2011.

Para já, os militares começaram a impor restrições apenas em algumas zonas. Depois de ter sido palco de alguns confrontos durante os protestos dos últimos dias, os militares colocaram alguns bairros de Mandlay, a segunda cidade birmanesa, sob recolher obrigatóri­o entre as 20.00 e as 04.00, limitando os ajuntament­os a grupos de cinco pessoas no máximo.

Ontem, dezenas de milhares de pessoas voltaram a juntar-se em Nay Pyi Taw, com a capital a aderir a uma greve nacional convocada pelos apoiantes de Suu Kyi que, tal como a comunidade internacio­nal , não se cansam de pedir a libertação da Nobel. Esta tem sido fortemente criticada nos últimos anos por pouco ou nada fazer para proteger os rohingyas, uma minoria muçulmana, da violência dos militares e dos extremista­s budistas. Segundo a BBC, os manifestan­tes vêm de todos os setores da sociedade: professore­s, advogados, funcionári­os de bancos ou do governo.

As redes sociais têm sido essenciais para organizar os protestos, com apelos aos trabalhado­res para se juntarem à greve. “Este é um dia de trabalho, mas não vamos trabalhar mesmo que nos cortem os salários”, afirmou à AFP Hnin Thazin, um trabalhado­r fabril de 28 anos. E há quem leve a família toda para as manifestaç­ões. É o caso de Hnin Hayman Soe, que saiu às ruas acompanhad­a dos filhos e dos sobrinhos. “Podemos ver que muitos jovens não aceitam a junta militar. Podemos ver adolescent­es na rua”, afirmou, citada pela BBC.

Até agora, as manifestaç­ões foram marcadas por alguns ferimentos ligeiros, mas pouca violência, apesar de ontem a polícia ter usado canhões de água para dispersar os protestos em Nai Pyi Taw.

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Desde o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro, os birmaneses têm saído às ruas das principais cidades para exigir a libertação de Suu Kyi e o regresso à democracia. Ontem, a polícia usou canhões de água para dispersar os protestos em Nay Pyi Taw. E manifestan­tes LGBT juntaram-se às manifestaç­ões e a uma greve que têm unido vários setores da sociedade.
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