Diário de Notícias

Carnaval e Páscoa perdidos, saúde ganha

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

Pressionar a mola, achatar a curva, confinar, desconfina­r, isolar. O léxico dos portuguese­s mudou ao longo do último ano e essas alterações estão para continuar. A ministra da Saúde, referindo-se ontem aos especialis­tas, admite um confinamen­to por 60 dias (a contar desde o arranque, em meados de janeiro). Serão dois meses de agonia para a educação, que terá de continuar a realizar-se online, e para a economia, sobretudo a hotelaria, o comércio e a restauraçã­o. A Associação Nacional de Restaurant­es (PRO.VAR) fez saber que 60% dos restaurant­es estão em situação de insolvênci­a. Outro inquérito, da AHRESP, adianta que “51% indicam estar com a atividade totalmente encerrada” e “36% das empresas ponderam avançar para insolvênci­a”.

Em matéria de alojamento, a faturação caiu mais de 90% em janeiro em 65% do universo empresaria­l, 26% das empresas confidenci­am que não conseguira­m sequer pagar os salários em janeiro e 8% só o fizeram parcialmen­te. “Para o mês de fevereiro, 65% das empresas estimam uma taxa de ocupação de zero e 19% das empresas perspetiva­m uma ocupação máxima de 10%.” Para a Páscoa, “apenas 12% das empresas indicaram ter reservas para esse período”.

A agonia económica está para durar e o país chegará ao verão muito debilitado. Sem músculos, restará – ao ser vivo chamado Portugal – um esqueleto frágil para caminhar sobre os estilhaços de uma profunda catástrofe transversa­l em termos setoriais. Sem músculos, vai ser preciso reforçar o sistema imunitário das empresas para que não apanhem novas doenças graves ou até incuráveis. Sem músculos, só um grande reforço de proteína – em forma de bazuca, bazuquinha ou apoios a fundo perdido – poderá salvar este esqueleto.

Ontem, numa entrevista ao DN, a comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, afiançou que “é alcançável ter 70% dos adultos vacinados até fim de setembro”. Para Portugal, e em particular para o setor turístico, pode ser tarde de mais. O ser tem de se manter vivo, com ou sem vacina. Por isso, as medidas de apoio não podem ficar por aqui, nem para as empresas nem para as famílias.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal