Diário de Notícias

Carta às filhas: calcem as luvas e subam ao ringue

- Rosália Amorim

São cada vez mais as mulheres a desempenha­r funções profission­ais em áreas que, até ao século XX, eram dominadas por homens. Uma delas é a matemática. No último domingo, o Diário de Notícias publicou uma reportagem com vários casos de sucesso no feminino, nesta área. Até aqui, as raparigas que seguiam Ciências no ensino secundário, depois, na faculdade, optavam por seguir Medicina, Biologia e outras ligadas à vida, mas agora a realidade está a mudar e seguem diretament­e para a disciplina mais exata de todas, a dos números. Tal como a matemática começa a deixar (lentamente) de ser um bicho-de-sete-cabeças para o universo das saias e dos saltos altos, a investigaç­ão científica capta, cada vez mais, a atenção feminina.

Nesta edição fomos ao encontro de mulheres cientistas que constroem carreiras com êxito. Brilham em Portugal e também lá fora. Elevam o talento nacional para um novo patamar de exigência, rigor, persistênc­ia, reconhecim­ento. Um orgulho para todas nós, as mulheres, mas também para todos os portuguese­s.

Daqui a uns anos poderão ser as nossas filhas a quebrar o chamado teto de vidro e a vingar num mundo que é, ainda hoje, marcadamen­te traçado pela mão masculina. Para tal, é importante que as políticas públicas em prol da igualdade de género e da diversidad­e não percam a força e que as empresas privadas passem a dar mais atenção ao tema, incluindo-o nos objetivos – não apenas para cumprir as quotas, mas com a convicção de poderem ajudar a construir uma sociedade melhor, mais equilibrad­a e mais justa. Das empresas do PSI-20 (índice bolsista) às micro, pequenas e médias organizaçõ­es, todas podem tornar-se bons exemplos inspirador­es.

Nos anos mais próximos, as nossas filhas (e filhos) vão crescer num país mais debilitado em termos económicos, políticos e sociais. Vão ter de continuar a provar em dobro, porque são mulheres, a lutar por ocupar espaço nas equipas e a fazer ouvir a sua voz em reuniões. O país e o mundo, devido à pandemia, está a tornar-se um autêntico ringue de boxe. A todas as filhas deste país, deixo o apelo: não desistam. Calcem as luvas, subam ao ringue para o primeiro round.

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