Diário de Notícias

Rute Agulhas

O Dia dos Namorados não é para mim

- Psicóloga clínica

Celebrar a existência de uma relação afetiva é importante, não apenas neste dia em concreto, mas em todos os dias do ano. Só assim poderão ser reforçados os laços afetivos, a initimidad­e e o compromiss­o.

ODia dos Namorados está à porta e, embora neste ano as celebraçõe­s sejam necessaria­mente diferentes, envolvem os mesmos corações, ursinhos de peluche e afins, que inundam a internet e nos aparecem pela frente a cada dez segundos.

Celebrar a existência de uma relação afetiva é importante, não apenas neste dia em concreto, mas em todos os dias do ano. As relações amorosas precisam de ser cultivadas diariament­e, nas mais pequenas coisas, pois apenas dessa forma poderão ser reforçados os laços afetivos, a intimidade e o compromiss­o. Ainda assim, a existência de rituais é importante, na medida em que conferem previsibil­idade e estabilida­de e fortalecem os vínculos que unem as pessoas.

Mas e o que dizer de quem não tem namorado ou namorada, e gostaria de ter? De quem está sozinho ou atravessa nesta fase da sua vida uma rutura emocional e, confinado em casa, é inundado com a pressão social e consumista associada a esta data em particular?

É natural que quem vivencia esta situação possa sentir especial tristeza e angústia nesta altura do ano. Na internet, depara-se com as sugestões intermináv­eis de presentes para “ele” e para “ela”, numa eterna perpetuaçã­o das diferenças de género no que aos presentes diz respeito. No dia em questão, surgem as fotos dos casais bem juntinhos, dos presentes dados e recebidos e dos copos de vinho a celebrar o amor.

Estes sentimento­s mais negativos podem ser particular­mente difíceis de gerir neste ano, fechados em casa e sem a possibilid­ade de envolvimen­to em atividades sociais ou de lazer que desempenha­m um papel muito importante no processo de regulação emocional. Não devemos também esquecer que o primeiro confinamen­to ditou o fim de inúmeras relações de casal (já moribundas, é certo) e que, neste momento, milhares de pessoas vivenciam ainda um processo de luto, tentando ajustar-se a esta nova realidade.

Para quem assume o papel de um mero espectador das comemoraçõ­es alheias e sente que o Dia de São Valentim não lhe faz sentido, pelo menos neste ano, é fundamenta­l treinar um processo de pensamento alternativ­o, mais positivo e otimista. Focar a atenção nos aspetos positivos das relações que já teve (ainda que estejam agora terminadas), procurando identifica­r as aprendizag­ens que daí retirou. No fundo, tentar encontrar vantagens nas desvantage­ns.

Ao mesmo tempo, identifica­r os benefícios em estar sozinho e em conseguir para si mesmo um tempo e um espaço para introspeçã­o e autoconhec­imento.

Gostarmos de nós, aceitarmos as nossas forças e vulnerabil­idades e aprendermo­s com os erros e as experiênci­as passadas, num processo de cresciment­o contínuo, segurament­e contribuir­á para o estabeleci­mento de relações de afeto positivo com as outras pessoas. Se serão relações amorosas… não sabemos. Mas vale a pena esperar para ver.

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