Jorge Conde
E depois o confinamento?
E depois do confinamento? Vamos precisar de recuperar um povo doente, com muitas outras doenças objetivamente percecionadas e diagnosticáveis que aguardam tratamento.
Obviamente, o confinamento está a melhorar a situação pandémica em Portugal. São residuais as opiniões dos que não concordam, nem concordaram, com a necessidade de um confinamento. Uma larga maioria da população cedo percebeu a sua inevitabilidade e tarde – mas antes tarde que nunca – o governo resolveu adotar esta medida que (já percebemos todos) é parte da solução para a redução do número de doentes por covid-19.
Planeámos mal e o excesso de confiança com que saímos do verão levou-nos a acreditar que o pior tinha passado. António Costa várias vezes anunciou que não voltaríamos a confinar... não podíamos... a economia não aguentava. Mas cá estamos novamente nesse confinamento tido como impossível.
A seu tempo a vacinação fará o seu papel, com alguns chicos-espertos a intrometerem-se na ordem estabelecida, e esperamos ter toda a população vacinada até ao final do ano.
E depois do confinamento? Vamos precisar de recuperar um povo doente, com muitas outras doenças objetivamente percecionadas e diagnosticáveis que aguardam tratamento, mas também com um número crescente de patologias da área da saúde mental nem sempre percebidas pelos doentes a tempo de um diagnóstico atempado. O esforço que o sistema de saúde está a fazer para suster a covid-19 terá de ser prolongado para recuperarmos a saúde dos doentes de outra natureza que se viram afastados das instituições de saúde nesta fase.
Vamos precisar de recuperar todo um Serviço Nacional de Saúde fatigado e também ele por vezes doente, a necessitar de uma compensadora intervenção nos seus recursos humanos e também materiais. É preciso olhar para a falta de profissionais e para a “deserção” de muitos dos que se cansaram da falta de meios e de compensação.
Vamos precisar de recuperar e reconstruir uma economia desfeita num país feito de pequenas e médias empresas que não sobreviveram, ou não sobreviverão se o Estado e a União Europeia não intervierem urgentemente. A célebre “bazuca” não poderá demorar muito tempo a chegar e a sua aplicação terá de ser célere e objetiva. É preciso que as estruturas responsáveis pela distribuição das ajudas sejam certeiras e diligentes, sob pena de a execução das verbas ficar comprometida, o seu aproveitamento ser nulo e a sua devolução um cenário provável. É preciso apoiar as empresas para se desenvolverem, criarem emprego e diversificarem os seus produtos e os seus mercados. E é preciso também apostar na investigação e no desenvolvimento, para que o país e a Europa se tornem menos dependentes dos mercados externos, nomeadamente naquilo que podemos produzir em quantidade suficiente e a preço competitivo. É aqui que as instituições do sistema científico, nomeadamente as universidades e politécnicos, podem ser parceiros da reconstrução da economia, ajudando as empresas a desenvolver novos produtos e a criar novos processos. Mais do que recuperar a economia, é preciso reconstruí-la.
Mas, para começar, temos de traçar um plano de ação que garanta que a “bazuca” enquanto “vacina para a economia” será aplicada pela ordem certa e na medida certa, sem intromissões dos espertos do costume.