Diário de Notícias

Tigres à procura da glória inédita contra um Bayern que coleciona títulos

MUNDIAL DE CLUBES Joga-se hoje a final da competição. Apesar de reconhecer o enorme favoritism­o dos alemães, o treinador português Pedro Caixinha elogia o conjunto mexicano, uma equipa experiente, que preza o equilíbrio e tem um finalizado­r de categoria.

- TEXTO NUNO COELHO

Pela primeira vez na história do Mundial de Clubes FIFA, prova que arrancou em 2005 a substituir a Taça Interconti­nental (apesar de a primeira edição datar de 2000), um dos finalistas será o representa­nte da Concacaf, a confederaç­ão que agrega as equipas da América do Norte, Central e Caraíbas. À custa do Palmeiras, de Abel Ferreira, derrotado por um penálti na partida das meias-finais, os mexicanos do Tigres vão medir forças com o “rolo compressor” Bayern Munique (já tem três títulos na prova) e tentar tornar-se a primeira equipa de fora do binómio Europa-América do Sul a levantar o troféu que consagra o campeão do mundo de clubes.

Nas 16 edições já realizadas, apenas quatro não tiveram uma final entre o representa­nte europeu e o sul-americano. Em duas ocasiões, coube aos africanos estarem na partida decisiva (em 2010, o TP Mazembe, da RD Congo, caiu perante o Inter de Milão, por 3-0; em 2013, o Raja Casablanca, como clube anfitrião, foi superado pelo Bayern). E, nas outras duas, a surpresa teve origem na Ásia: em 2016, foi também a “equipa da casa” a disputar a decisão. Os japoneses do Kashima

Antlers só foram ao tapete no prolongame­nto perante o Real Madrid, com Ronaldo a assinar um hat trick no 4-2 final. Dois anos depois, nos Emirados Árabes Unidos, os merengues voltariam a defrontar o representa­nte local na final. Mas o Al-Ain não deu grande resistênci­a e foi goleado (4-1).

“Liga muito competitiv­a”

Cabe então ao Tigres a quinta tentativa para quebrar o duopólio que se verificou até agora. Fundado em 1960, tem sido uma das formações em destaque nos últimos anos no futebol mexicano, nos quais conquistou cinco dos seus sete títulos de campeão. O obtido no Torneio Clausura de 2019 valeu-lhe a qualificaç­ão para a Liga dos Campeões da Concacaf, prova que acabaria por vencer ao bater na final o Los Angeles FC, por 2-1, com o golo decisivo do francês Gignac, grande figura da equipa e melhor marcador da competição.

Se é verdade que o futebol mexicano já produziu craques de dimensão mundial, a verdade é que a liga local não tem muita visibilida­de internacio­nal. Algo que o técnico Pedro Caixinha, talvez o português com melhor conhecimen­to sobre o futebol do país – treinou

“Li numa estatístic­a que o Bayern só perde um em cada dez jogos. Mas nunca se sabe se essa derrota não poderá ser neste jogo”, diz Pedro Caixinha ao DN, ele que é o português que melhor conhece o futebol mexicano e deixa elogios à equipa do Tigres.

Santos Laguna (2012-15) e Cruz Azul (2017-19), obtendo cinco títulos e chegando a uma final da Liga dos Campeões (2013) – não consegue entender, dando como exemplo o portista Corona, melhor jogador da última Liga portuguesa e sucessor de outros nomes de qualidade naturais do país ou lá contratado­s: Herrera, Jiménez, Negrete, Diego Reyes (que estará na final de hoje), o colombiano Jackson Martínez ou argentino Marchesín.

“É uma liga muito competitiv­a. Tem os seus grandes, como em todo o lado e que lá são quatro – América, Guadalajar­a, Cruz Azul e Pumas –, depois há os dois clubes de Monterrey [Tigres e Monterrey CF], que têm dominado na última década, e mais umas quatro equipas, como o Santos Laguna ou o Pachuca, com muita qualidade. Além disso, tem um formato competitiv­o muito interessan­te, com o Apertura e o Clausura, mais a liguilha...”, assinala o treinador ao DN.

”Falta de confiança”

Talvez por isso, o domínio dos clubes mexicanos a nível continenta­l é arrasador. Na principal prova, a Taça/Liga dos Campeões (a designação e o formato mudaram a partir de 2008-09), é mesmo preciso recuar a 2005 para encontrar um vencedor de outro país (no caso, os costa-riquenhos do Saprissa). Com tanto talento e vitórias, como se explica então que só agora uma equipa atinja a final do Mundial?

“Os clubes mexicanos têm muita competitiv­idade, mas depois falta-lhes alguma confiança quando chegam a estes palcos”, explica Caixinha, não deixando ainda assim de lembrar que, quer a nível de clubes quer de seleções, o México tem a particular­idade de participar em provas de outras confederaç­ões. “Nunca venceram a Libertador­es mas já estiveram em várias finais. Aliás, este Tigres foi a última, tendo perdido com o River Plate [2015]”, assinala o ex-adjunto de Peseiro.

Sobre a equipa que hoje vai entrar no Education City Stadium (um dos palcos do próximo Mundial do Qatar), Caixinha destaca três virtudes: joga junta, na sua maioria, há vários anos, tem um treinador carismátic­o e a categoria do finalizado­r francês Gignac. “Dada a sua ascendênci­a cigana, aprendeu espanhol rapidament­e e integrou-se com facilidade. Está lá desde 2015 e já se tornou o melhor marcador de sempre do clube, superando Tomás Boy”, refere.

“É um clube patrocinad­o por uma cimenteira e tem um grande poderio económico, o que lhe permite, por exemplo, pagar quatro milhões por ano ao Gignac. Por outro lado, mantém um grupo estável há já alguns anos”, acrescenta o técnico, destacando nomes como o guarda-redes Guzmán, os laterais Luis Rodríguez e Dueñas, os médios Javier Aquino, Guido Pizarro e Rafael Carioca e até o do avançado francês, todos eles no Tigres desde pelo menos 2017.

Sobre o técnico Ricardo Ferretti, também conhecido por “Tuca”, que cumpre desde 2010 a terceira passagem pelo Tigres, Caixinha recorda: “Quando cheguei ao México, diziam-me que era um treinador defensivo, mas vi que não era assim. Tem um feitio especial, privilegia sobretudo o equilíbrio. As suas equipas marcam muitos golos e têm uma grande organizaçã­o. Além disso, domina todas as facetas do futebol mexicano.”

Pedro Caixinha, que depois de deixar os sauditas do Al-Shabab está a passar o confinamen­to na sua Beja natal, esperando que “lá para o verão” surja um novo desafio, tem consciênci­a de que apesar de todas as virtudes do Tigres, estes terão “muito poucas hipóteses” perante o rival alemão – que pode dar sequência ao absoluto domínio europeu na competição. “Li uma estatístic­a na imprensa mexicana que refere o facto de o Bayern só perder um em cada dez jogos. Mas nunca se sabe se essa derrota não poderá ser neste jogo. No futebol tudo é possível, até porque se olharmos para a equipa do Tigres há muita qualidade. E ser a primeira vez que uma equipa da Concacaf está na final pode dar uma motivação extra”, finaliza o técnico.

O Bayern Munique dispensa apresentaç­ões. Chega a esta final com o objetivo de vencer o seu quarto título na prova (1976, 2001 e 2013) e juntá-lo às várias conquistas da época passada: Liga dos Campeões, Liga alemã, Taça e Supertaça da Alemanha. E com um jogador em foco – Robert Lewandowsk­i, o atual melhor marcador dos campeonato­s europeus, com 24 golos.

A final tem início às 18.00 (RTP1) mas, às 15.00, Abel Ferreira vai tentar conduzir o Palmeiras ao último lugar do pódio frente aos egípcios do Al-Ahly, que curiosamen­te já conseguira­m uma vez esse posto sob o comando de Manuel José.

muitas nuances emocionais, Greengrass expõe-nos a saga de duas figuras dramaticam­ente fascinante­s, cada uma delas a tentar encontrar as razões do seu próprio destino: Tom Hanks é brilhante na definição do Capitão Kidd a partir de um misto de curiosidad­e humana e pragmatism­o político; no papel de Johanna, Helena Zengel (atriz alemã, atualmente com 12 anos) é um caso invulgar de precocidad­e e talento.

Memórias do western

Mais do que uma homenagem à riquíssima tradição do western, Notícias do Mundo acaba por ser um objeto que estabelece relações muito diretas com um período da produção de Hollywood – as décadas de 1960 e 1970 – em que o western, a par de outras matrizes da produção clássica, foi criticamen­te repensado e esteticame­nte reinventad­o a partir das suas bases históricas e narrativas.

Podemos, assim, definir Notícias do Mundo como um novo capítulo de uma linhagem que tem um momento decisivo em A Quadrilha Selvagem (1969), de Sam Peckinpah: em cenários da fronteira com o México, os heróis puros, ou purificado­res, davam lugar a personagen­s sem destino, “devoradas” pela violência da história. Aliás, vale a pena referir que uma componente muito particular da visão de Peckinpah – o realismo cru dos cenários, da lama das ruas à fragilidad­e das casas das cidadezinh­as do Oeste – ecoa também no trabalho de Paul Greengrass.

Notícias do Mundo encena a trajetória da pequena Johanna, aos ziguezague­s entre lugares e famílias, como expressão das contradiçõ­es da expansão para oeste, a ponto de o filme se desenvolve­r também como um exercício coral, cruzando a língua dos kiowas, o inglês e o alemão. Nesta perspetiva, creio que faz sentido evocar outra referência tutelar, também de 1969, realizada por Abraham Polonsky: O Vale do (título original: Tell Them

com Robert Redford e Robert Blake, tragédia íntima de um índio que, nos primeiros anos do século XX, já não tem o que Johanna talvez ainda possa encontrar: um lugar para viver.

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O Tigres chega pela primeira vez a uma final do Mundial de Clubes, depois de ter deixado o Palmeiras de Abel Ferreira pelo caminho.
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O Bayern tem como principal arma o polaco Lewandowsk­i, atual melhor marcador das ligas europeias.
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