O futuro raioso: TAP, aeroporto, comboio...
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Em poucos dias o ministro Pedro Nuno Santos atuou em três dossiês que vão ditar o futuro do país. O tema mais complexo é obviamente a TAP, onde se chegou a um surpreendente acordo com os sindicatos. O português médio olha e não acredita: depois de anos e anos de permanente turbulência e... afinal foi fácil. Os factos explicam-no: estamos a salvar uma companhia de bandeira com uma “tecnologia laboral” de tempos idos, ainda por cima numa empresa praticamente parada.
Manter o modelo existente vale a pena para quem nele está abrigado – daí a posição dos sindicatos. Porque o dilema-TAP é esse: todos os anos, novas empresas entram no mercado para arrasar com o modelo das antigas. O que dá trunfos às low-cost não são nem os aviões, nem os horários, nem as rotas. São os baixos custos laborais que todos patrocinamos quando optamos pelos baixos preços. Em simultâneo, para continuar a funcionar, a transportadora aérea nacional tem de operar abaixo do custo. Aliás, os prejuízos ascendem a mais de mil milhões na última década (sem incluir 2020 onde, só aí, somou 700 milhões de perdas por via da pandemia).
Além disso, uma companhia aérea nacional deveria regular o mercado e garantir um serviço significativo também nos aeroportos fora de Lisboa. Só que, para o fazer, perde ainda mais dinheiro. Portanto, a TAP serve hoje essencialmente o aeroporto da Portela, mas muito pouco o hub do turismo algarvio, está muito atrás da Ryanair no Porto, e vai erodindo gradualmente o seu peso na Madeira e nos Açores depois de décadas de um monopólio exasperante em qualidade e preço nas ligações ao continente.
Aos olhos dos portugueses, o perigo é este: já não bastava o Novo Banco... e agora a TAP. A situação precisa de um pacto quanto ao dinheiro que se vai lá colocar até 2024: são três ou quatro mil milhões? Há mesmo um limite? O número pode ficar escrito nas tábuas da lei?
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A TAP remete para os outros dois assuntos do momento: a expansão da rede ferroviária e a construção do novo aeroporto.
Como se vê no plano anunciado, o TGV desapareceu. Linhas modernizadas permitirão, sim, um “Alfa acelerado” e até o grupo Barraqueiro (diz o Expresso) quer entrar. Portanto, finalmente uma hipótese de nos aproximarmos de um transporte mais sustentável que “torna o país mais pequeno” – é o lema da obra.
Só que a benignidade deste investimento apenas será evidente se o ministro Pedro Nuno Santos conceder que o modelo precisa de incluir os aeroportos já existentes, de forma a evitar um elefante branco – o novo aeroporto de Lisboa. Não podemos ir à aventura para o Montijo ou Alcochete quando há pistas em Alverca, mas também em Monte Real (para servir Fátima e o centro do país) e podemos dar uma oportunidade ao já construído aeroporto de Beja, aproximando-o de Lisboa através de comboio rápido.
Não se pode ter tudo. Com o que não se gasta no aeroporto da Margem Sul, constrói-se uma parte da ferrovia. E mantém-se a Portela, que é estratégica para a aviação de qualidade (se quer manter a TAP, o ministro tem de garantir que ela fica no centro da cidade). Entretanto, mais uns anos e a tecnologia trará aviões mais limpos, com menos ruído e melhores aterragens e descolagens.
Depois da pandemia vamos acordar num pesadelo social e económico. Portanto, todos os investimentos ou salvações de elefantes brancos, mesmo que valiosos, merecem a máxima prudência. Pedro Nuno Santos não pode ter a tentação de fazer a sua ascensão ao topo através de betão e dívida. É um déjà vu.
No têxtil e vestuário, onde predomina a mão-de-obra feminina, o absentismo diário chega aos 20 mil trabalhadores. tuário, um breve inquérito junto de um conjunto alargado de empresas mostrou taxas de absentismo que variavam entre os 17% e os 27%. Considerando os 90 mil trabalhadores do vestuário, são quase 25 mil pessoas. “A situação é muito preocupante a vários níveis, desde logo porque pode causar dificuldades no processo produtivo. Julgo que o Estado deveria procurar arranjar soluções, tal como tem escolas a funcionar para os filhos dos profissionais de saúde, poderia ter também para os filhos de alguns profissionais da área industrial”, argumenta Mário Jorge Machado.
Não sendo possível, o presidente da ATP advoga que não sejam prejudicadas as empresas, obrigando-as a suportar parte dos custos salariais com alguém que não está a trabalhar, mas também que não se penalizem os trabalhadores. “A fiscalidade deste país já é pouco amiga de quem tem filhos, não faz sentido que ainda percam rendimentos por ficarem em casa a tomar conta deles. Tal como somos todos nós, contribuintes, que pagamos o salário dos funcionários que estão em lay-off, e que agora recebem a 100%, alguém que está a olhar pelos filhos, as gerações que vão garantir os impostos do futuro, deve também receber o vencimento por inteiro. Tem é de ser o Estado a assegurá-lo”, sublinha.
Angústia na gestão diária
Na metalurgia e metalomecânica, os dados mais recentes datam de novembro, quando 13% das empresas indicava ter mais de 10% de trabalhadores em falta, a que se somavam 16% com 5% a 10% de absentismo. Mas o vice-presidente da AIMMAP não tem dúvida que a situação evoluiu, entretanto, de forma “claramente negativa”, designadamente por via do encerramento das escolas. “Tudo aponta para que haja agora mais empresas e com níveis de absentismo superiores”, diz Rafael Campos Pereira, que admite que as empresas tenham em falta, por dia, 25 mil pessoas. “À vontade”, frisa. O que está a gerar “grande angústia” na gestão diária das empresas. A forma como os diversos delegados de saúde determinam os isolamentos profiláticos também não ajuda. “É que o absentismo para a assistência à família é factual e as empresas já sabem minimamente com o que contam, o problema é a desorganização com que são confrontados com as informações em cima da hora dos isolamentos profiláticos por contactos de risco, sendo que os delegados de saúde decidem com critérios diferentes uns dos outros e gerir recursos humanos, com a obrigatoriedade de desfasar horários, de colocar em teletrabalho quem pode estar em teletrabalho, e sem saber com quem se vai contar é uma preocupação muito grande”, frisa.