Diário de Notícias

O futuro raioso: TAP, aeroporto, comboio...

- Daniel Deusdado

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Em poucos dias o ministro Pedro Nuno Santos atuou em três dossiês que vão ditar o futuro do país. O tema mais complexo é obviamente a TAP, onde se chegou a um surpreende­nte acordo com os sindicatos. O português médio olha e não acredita: depois de anos e anos de permanente turbulênci­a e... afinal foi fácil. Os factos explicam-no: estamos a salvar uma companhia de bandeira com uma “tecnologia laboral” de tempos idos, ainda por cima numa empresa praticamen­te parada.

Manter o modelo existente vale a pena para quem nele está abrigado – daí a posição dos sindicatos. Porque o dilema-TAP é esse: todos os anos, novas empresas entram no mercado para arrasar com o modelo das antigas. O que dá trunfos às low-cost não são nem os aviões, nem os horários, nem as rotas. São os baixos custos laborais que todos patrocinam­os quando optamos pelos baixos preços. Em simultâneo, para continuar a funcionar, a transporta­dora aérea nacional tem de operar abaixo do custo. Aliás, os prejuízos ascendem a mais de mil milhões na última década (sem incluir 2020 onde, só aí, somou 700 milhões de perdas por via da pandemia).

Além disso, uma companhia aérea nacional deveria regular o mercado e garantir um serviço significat­ivo também nos aeroportos fora de Lisboa. Só que, para o fazer, perde ainda mais dinheiro. Portanto, a TAP serve hoje essencialm­ente o aeroporto da Portela, mas muito pouco o hub do turismo algarvio, está muito atrás da Ryanair no Porto, e vai erodindo gradualmen­te o seu peso na Madeira e nos Açores depois de décadas de um monopólio exasperant­e em qualidade e preço nas ligações ao continente.

Aos olhos dos portuguese­s, o perigo é este: já não bastava o Novo Banco... e agora a TAP. A situação precisa de um pacto quanto ao dinheiro que se vai lá colocar até 2024: são três ou quatro mil milhões? Há mesmo um limite? O número pode ficar escrito nas tábuas da lei?

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A TAP remete para os outros dois assuntos do momento: a expansão da rede ferroviári­a e a construção do novo aeroporto.

Como se vê no plano anunciado, o TGV desaparece­u. Linhas modernizad­as permitirão, sim, um “Alfa acelerado” e até o grupo Barraqueir­o (diz o Expresso) quer entrar. Portanto, finalmente uma hipótese de nos aproximarm­os de um transporte mais sustentáve­l que “torna o país mais pequeno” – é o lema da obra.

Só que a benignidad­e deste investimen­to apenas será evidente se o ministro Pedro Nuno Santos conceder que o modelo precisa de incluir os aeroportos já existentes, de forma a evitar um elefante branco – o novo aeroporto de Lisboa. Não podemos ir à aventura para o Montijo ou Alcochete quando há pistas em Alverca, mas também em Monte Real (para servir Fátima e o centro do país) e podemos dar uma oportunida­de ao já construído aeroporto de Beja, aproximand­o-o de Lisboa através de comboio rápido.

Não se pode ter tudo. Com o que não se gasta no aeroporto da Margem Sul, constrói-se uma parte da ferrovia. E mantém-se a Portela, que é estratégic­a para a aviação de qualidade (se quer manter a TAP, o ministro tem de garantir que ela fica no centro da cidade). Entretanto, mais uns anos e a tecnologia trará aviões mais limpos, com menos ruído e melhores aterragens e descolagen­s.

Depois da pandemia vamos acordar num pesadelo social e económico. Portanto, todos os investimen­tos ou salvações de elefantes brancos, mesmo que valiosos, merecem a máxima prudência. Pedro Nuno Santos não pode ter a tentação de fazer a sua ascensão ao topo através de betão e dívida. É um déjà vu.

No têxtil e vestuário, onde predomina a mão-de-obra feminina, o absentismo diário chega aos 20 mil trabalhado­res. tuário, um breve inquérito junto de um conjunto alargado de empresas mostrou taxas de absentismo que variavam entre os 17% e os 27%. Consideran­do os 90 mil trabalhado­res do vestuário, são quase 25 mil pessoas. “A situação é muito preocupant­e a vários níveis, desde logo porque pode causar dificuldad­es no processo produtivo. Julgo que o Estado deveria procurar arranjar soluções, tal como tem escolas a funcionar para os filhos dos profission­ais de saúde, poderia ter também para os filhos de alguns profission­ais da área industrial”, argumenta Mário Jorge Machado.

Não sendo possível, o presidente da ATP advoga que não sejam prejudicad­as as empresas, obrigando-as a suportar parte dos custos salariais com alguém que não está a trabalhar, mas também que não se penalizem os trabalhado­res. “A fiscalidad­e deste país já é pouco amiga de quem tem filhos, não faz sentido que ainda percam rendimento­s por ficarem em casa a tomar conta deles. Tal como somos todos nós, contribuin­tes, que pagamos o salário dos funcionári­os que estão em lay-off, e que agora recebem a 100%, alguém que está a olhar pelos filhos, as gerações que vão garantir os impostos do futuro, deve também receber o vencimento por inteiro. Tem é de ser o Estado a assegurá-lo”, sublinha.

Angústia na gestão diária

Na metalurgia e metalomecâ­nica, os dados mais recentes datam de novembro, quando 13% das empresas indicava ter mais de 10% de trabalhado­res em falta, a que se somavam 16% com 5% a 10% de absentismo. Mas o vice-presidente da AIMMAP não tem dúvida que a situação evoluiu, entretanto, de forma “claramente negativa”, designadam­ente por via do encerramen­to das escolas. “Tudo aponta para que haja agora mais empresas e com níveis de absentismo superiores”, diz Rafael Campos Pereira, que admite que as empresas tenham em falta, por dia, 25 mil pessoas. “À vontade”, frisa. O que está a gerar “grande angústia” na gestão diária das empresas. A forma como os diversos delegados de saúde determinam os isolamento­s profilátic­os também não ajuda. “É que o absentismo para a assistênci­a à família é factual e as empresas já sabem minimament­e com o que contam, o problema é a desorganiz­ação com que são confrontad­os com as informaçõe­s em cima da hora dos isolamento­s profilátic­os por contactos de risco, sendo que os delegados de saúde decidem com critérios diferentes uns dos outros e gerir recursos humanos, com a obrigatori­edade de desfasar horários, de colocar em teletrabal­ho quem pode estar em teletrabal­ho, e sem saber com quem se vai contar é uma preocupaçã­o muito grande”, frisa.

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