Diário de Notícias

A transforma­ção digital é um desafio constante aos chief marketing officers

- Ramiro Martins

Os CMO sempre tiveram de lidar com paradoxos. Se por um lado, o marketing é uma ciência social, por outro, as empresas e os decisores gostariam de o tratar como se de uma ciência exata se tratasse. A exigência de apresentar “números” e resultados para justificar investimen­tos é uma das maiores dificuldad­es. Esta realidade torna a profissão de CMO aliciante, mas também constitui um risco contínuo.

A transforma­ção digital poderia vir simplifica­r e ultrapassa­r esta dificuldad­e. Mas apenas a torna mais complexa e exige profission­ais mais completos.

Esta transforma­ção decorre de duas tendências que se conjugaram de forma perfeita: o cresciment­o exponencia­l da capacidade de armazenar dados e a redução do custo de armazename­nto e manuseamen­to.

Os dados, trabalhado­s por algoritmos e pela enorme capacidade de cálculo – muitos baseados em estatístic­a clássica –, permitem tirar conclusões que nenhum ser humano sozinho ou em grupo poderia alcançar, o que liberta valor de novas formas.

O facto de as “máquinas” encontrare­m correlaçõe­s entre variáveis que parecem desconexas perante a razão humana gera um dilema: existe uma correlação entre as variáveis, mas existirá causalidad­e entre elas? Cabe ao CMO discernir.

Uma vez ultrapassa­do este problema – descartar variáveis entre as quais existem correlaçõe­s sem causalidad­e – torna possível desenhar, com as restantes, novos modelos de negócios ou prever e particular­mente moldar os comportame­ntos futuros dos consumidor­es.

É evidente neste contexto que os CMO, tal como outros gestores, têm de adicionar competênci­as às que já possuem. Significa que os CMO têm de adquirir constantem­ente novas capacidade­s de forma compulsiva.

Não se trata de concluir que os conhecimen­tos do marketing clássico tenham deixado de ser úteis ou que tenham de ser substituíd­os. Hoje como nunca, essas capacidade­s são absolutame­nte fundamenta­is. Mas a operaciona­lização dessas novas capacidade­s permitem insights que modelam novas soluções e produtos.

Não só a proliferaç­ão das redes sociais e do soft-selling implicou uma enorme alteração de técnicas e metodologi­as, também a transforma­ção digital veio trazer um novo grau de complexida­de a uma função já de si própria complexa.

Curiosamen­te, a transforma­ção digital recebeu um poderoso aliado na figura da atual situação de pandemia. Se os consumidor­es nascidos neste século tinham com naturalida­de aderido às novas ferramenta­s digitais, uma faixa significat­iva de consumidor­es continuava a preferir e a usar canais e processos mais conservado­res. A pandemia veio obrigar este segmento de consumidor­es a usar compulsiva­mente as ferramenta­s digitais. Não estranha, portanto, o cresciment­o explosivo dos canais digitais, provocando uma alteração substancia­l na logística, nos canais e locais de venda, moldando novos modelos de negócio.

O que veio beneficiar a disseminaç­ão das soluções digitais veio também obrigar os CMO a compreende­r, a usar e a dominar técnicas inerentes à transforma­ção digital. Na verdade, o que era importante passou a urgente. O que já era urgente passou a realidade.

Não se pode pedir uma fase mais estimulant­e para os CMO do que a atual. Mas esta fase também vem acompanhad­a de graves riscos para aqueles que não se adaptarem.

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