Diário de Notícias

PANDEMIA

Em Portugal, os três dias de festa ficam neste ano marcados pelas memórias. E por muitas ligações online, mesmo quando até para essas “não há clima”. Da Mealhada ao Funchal, de Torres Vedras a Loulé, há milhões de euros perdidos e foliões que desaparece­m.

- TEXTO PAULA SOFIA LUZ

Num misto de emoções à flor da pele, Filipe Gonçalves prepara-se para viver o Carnaval que nunca imaginou, sem disfarces nem música, nem corso, nem folia, logo neste ano, em que o faria na qualidade de presidente da Associação de Animação Geringonça, no centro do Funchal. Quando era miúdo, “ficava inebriado com os desfiles que passavam na TV, e imaginava-me um dia a fazer parte de todo aquele cenário”, conta ao DN. É jornalista na televisão pública e por isso hoje sabe bem como é importante mostrar ao mundo o que faz na ilha da Madeira, com a responsabi­lidade acrescida de dirigir agora uma associação que soma 34 anos de existência, apenas menos seis do que ele.

A 4 de dezembro, quando no arquipélag­o ainda se acreditava ser possível fazer o Carnaval sair à rua, Filipe entregou o projeto na Secretaria Regional do Turismo (que organiza o evento) com toda a confiança. Mas no último dia do ano, os 12 grupos que integram o programa foram informados que não havia condições para realizar o evento. Chorou. Como de resto terá acontecido com muitos entusiasta­s do Carnaval, à medida que a pandemia avançou, fazendo recuar um desfile de ideias e sonhos.

Estes são dias difíceis para os que há um ano se despediram da folia sem saber que não era só por uns meses. Passariam poucas semanas até Portugal ver confirmado­s os primeiros casos de covid-19, e a partir daí o mundo nunca mais foi o mesmo. Filipe Gonçalves ergueu a sua Geringonça para não deixar o samba morrer neste Carnaval. E encontrou nas redes sociais o soluto possível para minorar a tristeza de não sambar na Avenida Arriaga: desafiou os foliões a partilhare­m vídeos caseiros, a dançar, e a iniciativa tem sido um êxito.

Como a Secretaria Regional do Turismo apenas “congelou” os projetos apresentad­os para este ano, em 2022 a Associação Geringonça – bem como os 12 grupos que integram o Carnaval do Funchal – tem mais tempo para planear os 35 anos. O tema do ano passado era o circo, o deste ano é segredo guardado. Porque só sairá à rua daqui por um ano.

“Quando ainda pensávamos fazer o Carnaval, mesmo que adaptado, imaginámos logo que neste ano nunca poderia ser assim, porque ao longo de todo o desfile criávamos uma interação muito grande com o público”, conta o presidente da Associação Geringonça, que habitualme­nte mobiliza 200 pessoas, no universo de 1100 figurantes que integram o corso. São meses seguidos de trabalho voluntário, para mostrar em quatro dias de festa o melhor que fizeram. O último orçamento rondava os 43 600 euros. O governo regional compartici­pou as despesas com mais de 28 mil euros, sendo que cada despesa tem de ser escrupulos­amente justificad­a.

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