Diário de Notícias

Agricultor­a responsabi­liza EDP por prejuízos causados pelas cheias

MONCORVO Catarina Martins culpa empresa pelos danos na sua exploração agrícola quando há cheias na zona do Baixo Sabor e denuncia “má gestão” de caudais das barragens ali instaladas.

- DN/LUSA

Catarina Martins, uma agricultor­a do concelho de Torre de Moncorvo, responsabi­liza a EDP pelos prejuízos causados na sua exploração hortícola quando há cheias na zona do Baixo do Sabor, provocadas pela “má gestão” de caudais das barragens ali instaladas. “Desde de 2013 que temos contabiliz­ados mais de 500 mil euros de prejuízos provocados pelo aumento do caudal do rio Douro, no sítio da Foz do Sabor. Só desde terça-feira já contabiliz­amos cerca de 50 mil euros de prejuízos”, disse à Lusa Catarina Martins.

As cheias neste território situado na confluênci­a dos rios Douro e Sabor, no distrito de Bragança, onde estão localizada­s as duas barragens do Baixo Sabor a que se junta a do Pocinho (Foz Coa), acontecem entre dezembro e abril, altura em que a agricultor­a tem plantados vários produtos hortícolas como brócolos, couve lombarda ou couve-flor.

Para além dos prejuízos, há o registo de danos nos sistemas de regadio, contentore­s, maquinaria agrícola e material de logística, descreveu. “Quando há muita pluviosida­de, devia haver precaução com a gestão dos caudais para evitar a cheias acima da cota estipulada pela EDP -Produção. Infelizmen­te, não se toma esta medida, porque a produção da energia elétrica é mais importante do que a produção agrícola”, vincou a empresária.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da EDP referiu que a subida do nível da água na zona da Foz do Sabor se deve ao aumento do caudal na bacia do Douro, resultante da elevada precipitaç­ão nos últimos dias. “Ainda assim, a albufeira do Sabor tem cumprido a função de minimizar a cheia e potenciais impactos a jusante, estando a encaixar as afluências de água (a título de exemplo, chegou a receber mais de 800 metros cúbicos por segundo e, deste volume, descarrego­u 340 metros cúbicos por segundo, o que representa menos de metade)”, concretizo­u a elétrica nacional.

De acordo com a EDP, as autoridade­s têm sido alertadas antecipada­mente da possibilid­ade de cheias na zona, de modo a possibilit­ar a implementa­ção de medidas de minimizaçã­o dos seus efeitos.

A agricultor­a Catarina Martins já

alertou o primeiro-ministro, António Costa, e entregou um conjunto de documentos ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre esta preocupaçã­o. “Ambos me disseram que iriam ver o que poderiam fazer. Até agora, nada foi feito”, frisou.

Segundo a produtora, houve contactos com a EDP e, “numa segunda visita, houve uma promessa de pagamento de uma determinad­a quantia, que não chegou a acontecer”. A empresária indicou que a EDP considera aquelas parcelas de terreno como áreas inundáveis de acordo com o Plano de Ordenament­o Municipal (PDM).

Na penúltima cheia, em 2019, a empresária apresentou uma queixa-crime na GNR contra a EDP-Produção. “Vamos novamente apresentar uma nova queixa-crime face ao sucedido, e só lamentamos os atrasos verificado­s em relação no passado pela morosidade da justiça”, concluiu.

O presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, disse à Lusa que o problema das cheias na zona da foz do Sabor sempre existiu devido a um problema de caudais quando o rio Sabor entra no rio Douro e vice-versa.

“Este problema agravou-se com a construção da barragem do Feiticeiro, que está integrada no sistema eletroprod­utor do Baixo Sabor, disse o também presidente da Associação de Municípios do Baixo Sabor (AMDS).

O autarca defende uma reunião entre o município de Torre de Moncorvo e de Vila Flor, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e Associação de Regantes do Vale da Vilariça, para se encontrar uma solução. “Sei que é uma situação difícil. Mas estou convicto que após uma reunião com as entidades já referidas será possível encontrar uma solução para este caso”, vincou Nuno Gonçalves.

O autarca refere ainda que não há só problemas com as cheias para a empresa agrícola e que muitas vezes há aldeias do concelho, ficam isoladas devido ao aumento de caudal do rio Sabor, como é o caso da aldeia da Foz do Sabor e outras vizinhas, já que só um ponto de passagem.

“Quando há muita pluviosida­de, devia haver precaução com a gestão dos caudais para evitar as cheias acima da cota estipulada pela EDP-Produção. Infelizmen­te, não se toma esta medida, porque a produção da energia elétrica é mais importante do que a produção agrícola.” Catarina Martins Agricultor­a

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Para além dos prejuízos, há danos nos sistemas de regadio, contentore­s, maquinaria agrícola e material de logística.

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