TOMADA DE POSSE
Primeiro-ministro deve submeter-se ao voto de confiança no parlamento na próxima semana.
J “uro lealdade à República”, garantiu Mario Draghi ao prestar juramento como primeiro-ministro de Itália, pondo fim a semanas de instabilidade na terceira economia da zona do euro.
Numa cerimónia no palácio presidencial, com a presença do presidente Sergio Mattarella e transmitida em direto pela televisão, o ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) anunciou a lista de 23 ministros, composta por políticos de diferentes correntes e por tecnocratas, que terão a tarefa de resgatar o país após a pandemia. “Trabalhemos juntos para relançar o país. Vimos de experiências e correntes diferentes, mas estamos juntos nesta fase difícil”, afirmou o chefe do governo que nos seus tempos de BCE ganhou a alcunha de Super-Mario pela forma como lutou contra a crise do euro.
Draghi substitui Giuseppe Conte, depois de conseguir o apoio de quase todos os partidos políticos para formar um governo de unidade que tire o país das duas crises que atravessa, sanitária e económica.
Draghi deverá submeter-se ao voto de confiança no parlamento na próxima semana, na quarta-feira no Senado e na quinta-feira na Câmara dos Deputados, o último ato oficial.
A Itália vive uma crise política em plena pandemia e com a pior recessão da sua história recente.
Hora do recomeço
“Começa a era Draghi”, escreveu o jornal Corriere della Sera, ao fazer uma análise do novo executivo e do seu líder, que começa com 62% de popularidade, segundo as sondagens.
No fim das cerimónias, o ex-presidente do BCE convocou o seu primeiro Conselho de Ministros, no qual participaram personalidades da sua total confiança. Entre elas está Daniele Franco, especialista em finanças públicas e vice-governador do banco central, o Banco da Itália, que ocupa o Ministério da Economia e Finanças. Franco terá de administrar a gestão do fundo de 200 mil milhões de euros (240 mil milhões de dólares) concedidos pela União Europeia para encarar a pandemia e reativar a economia.
O novo primeiro-ministro italiano escolheu perfis técnicos para as áreas onde implantará as maiores reformas, entre elas justiça, transação ecológica e digital.
O maior partido no parlamento, os antissistema do Movimento 5 Estrelas, aprovou na quinta-feira com uma votação interna o governo de Draghi. No entanto, o resultado gerou agitação interna e desencadeou o protesto de cerca de 30 parlamentares que podem votar contra Draghi, que consideram um defensor das elites. A designação de um novo ministério para a “transação ecológica”, de responsabilidade do físico e informático Roberto Cingolani, que trabalhava na gigante italiana da aeronáutica Leonardo, deve acalmar as bases.
As dificuldades estão apenas a começar para Draghi, de 73 anos, conhecido pela discrição, a seriedade e a determinação.
Itália, que se aproxima das cem mil mortes por covid-19, registou uma das piores quedas do PIB da zona do euro em 2020, com uma perda de 8,9%.
A chegada de Draghi ao poder foi aplaudida pelos mercados financeiros e representa uma novidade para a história da Itália.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu no Twitter que a experiência de Draghi “será um recurso excecional para Itália e para a Europa” e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson parabenizou Draghi também no Twitter.
Governo Draghi junta tecnocratas e ministros de quase todos os partidos.