Diário de Notícias

ENTREVISTA

A alta-comissária para a covid-19 garantiu ao DN que não poupará esforços para angariar apoios financeiro­s e técnicos para o controlo da pandemia na Guiné-Bissau.

- ANTÓNIO NHAGA,

Quem são os responsáve­is pelo Plano de Vacinação contra a Covid-19 na Guiné-Bissau?

Um grupo de trabalho técnico sobre a vacinação contra a covid-19 foi instituído pelo Alto-Comissaria­do contra a Covid-19. O Plano Nacional deVacinaçã­o está a ser elaborado pela Direção-Geral da Saúde Maternoinf­antil, estrutura que integra o Programa Alargado de Vacinação e sob coordenaçã­o do Alto-Comissaria­do contra a Covid-19. A assistênci­a técnica é fornecida por OMS, Banco Mundial e UNICEF. Quantas pessoas está previsto serem vacinadas na Guiné-Bissau?

Na primeira fase, no grupo A, estão previstas 3% das pessoas do grupo-alvo, constituíd­o por pessoal de saúde diretament­e implicado no trabalho de assistênci­a/prestação de cuidados sanitários, pessoal de educação/professore­s e portadores de comorbilid­ades, correspond­endo a 56 751 vacinados. No grupo B, estão previstas 17% das pessoas do grupo-alvo, constituíd­o por adultos acima dos 50 anos, e outras pessoas em função dos fatores de risco pertinente­s, incluindo restante pessoal de educação, correspond­endo a 321 587 vacinados. Na segunda fase, estão previstas 50% das pessoas de risco. Nesta fase prevê-se atingir uma cobertura totalizand­o 70%, recomendad­o pela OMS a fim de interrompe­r a transmissã­o do vírus. O financiame­nto desta fase será assegurado pelo próprio país. Está previsto serem vacinadas aproximada­mente 1 324 182 de pessoas, no final das duas fases.

Quando terá início a vacinação e quanto tempo irá demorar? Segundo o cronograma de implementa­ção do plano, o início da vacinação está previsto para fins de março, dependendo do aprovision­amento de vacinas, materiais de vacinação e reforço da cadeia de frio e outros fornecimen­tos, atividades ligadas à capacitaçã­o dos recursos humanos, comunicaçã­o e sensibiliz­ação da população. Em princípio estão previstos cinco dias para a primeira fase.

Quais os laboratóri­os que irão fornecer as vacinas para a Guiné-Bissau?

Na primeira fase será a vacina da AstraZenec­a, cuja temperatur­a de conservaçã­o é de +2° a +8º. Na segunda fase , ainda não sabemos se continuare­mos com a mesma vacina.

Já se iniciou o processo de compra das vacinas?

A Guiné-Bissau aderiu à iniciativa COVAX, apoiada por Gavi, OMS, União Europeia e outros parceiros, que garante acesso ao mecanismo de financiame­nto no quadro de um acordo de parcerias. Por conseguint­e, na primeira fase as vacinas deverão ser fornecidas gratuitame­nte e distribuíd­as através da UNICEF. Existe dinheiro para a aquisição das vacinas?

O país tem imensas dificuldad­es financeira­s para garantir o funcioname­nto do sistema de saúde, cuja prestação de serviços essenciais de rotina, afetados pelo impacto da pandemia, testemunha carências de várias ordens. Por conseguint­e, sem o apoio da comunidade internacio­nal, a segunda fase estará comprometi­da. Por isso o Alto-Comissaria­do não poupa esforços no sentido de angariar apoios financeiro­s e técnicos para o controlo da pandemia na Guiné-Bissau.

Quem está a trabalhar nessa aquisição – alto-comissaria­do, governo, presidente da República?

Graças ao engajament­o das autoridade­s estatais juntamente com o Alto-Comissaria­do, o país aderiu à iniciativa COVAX que vai garantir as vacinas e o reforço da cadeia de frio e outros custos identifica­dos na proposta de pedido de subvenção.

Já há estruturas para a avaliação centraliza­da nos hospitais? Já estão criados pontos de vacinação?

O programa de vacinação fará recurso das estruturas de saúde e outras pertinente­s de outros setores, tanto a nível central como nas regiões. A identifica­ção destas estruturas será feita durante o exercício de microplani­ficação.

Ofutebol não é só golos e troféus, também é lesões, recaídas, frustraçõe­s e até desilusão. Que o diga Nélson Agra, que esteve 539 longos dias (ano e meio) afastado dos relvados devido a uma hérnia discal. Um problema cada vez mais comum entre a comunidade desportiva, mas que no caso dele demorou a ser resolvido, por entre recaídas, o medo de voltar a ser operado e os problemas com o seguro. O jogador doVarzim chegou a pensar que não voltaria a calçar as chuteiras e a pisar um relvado.

Nélson sabe os dias de cor.“Quem esqueceria este mais de ano e meio sem jogar futebol?”, questiona como quem espera aprovação. Começou por sentir “um desconfort­o muito grande” durante um treino, mas, longe de pensar que era um problema sério, desvaloriz­ou, sempre tinha tido problemas na coluna e dores nas costas. Como a situação persistia falou com o médico. Reduziu a carga nos treinos, mas o desconfort­o evoluiu para uma situação de dor. Tanto que deixou de poder treinar normalment­e. Parou durante duas semanas e não sentiu melhoras. À terceira semana foi a um especialis­ta. Depois a outro e mais outro… Durante três meses andou de especialis­ta em especialis­ta, na esperança de ouvir que “era possível evitar a operação”. Mas não era...

A dura realidade tomou então conta dos pensamento­s do jogador do Varzim quando recebeu o diagnóstic­o: uma hérnia discal a necessitar de operação. “Encarei a operação da melhor forma porque pensei que era a solução para o meu problema, pensei que ia ficar bem”, confessou ao DN, recordando que na mesma altura também William Carvalho (Bétis) foi operado a um problema idêntico. Depois de tentar o tratamento conservado­r, ainda fez duas infiltraçõ­es na esperança de reverter o cenário cirúrgico, mas acabou por ser operado no dia 15 de novembro de 2019, no Hospital de Santa Maria, no Porto, pelo ortopedist­a PedroVaran­das.

Foi uma cirurgia invasiva. A cicatriz nem dá para contar a história e medir o nível de sofrimento. A recuperaçã­o começou bem, mas passado algum tempo teve uma recaída. Tinha sido operado ao lado direito e começou a ter dores no lado esquerdo: “Voltei ao início do processo, às consultas com os especialis­tas, repeti os exames, mas desta vez não acusaram nada. Os médicos disseram que podia ser uma dor reflexiva.”

Nesta fase colocou o “futebol um bocado de parte” e só pensava “em ficar bem”. Queria mesmo era recuperar, depois pensava no futebol. “Quer dizer... cheguei a pensar o pior. Houve dias em que pensei que nunca mais voltava a pisar um relvado quanto mais jogar e fazer 90 minutos”, confessou ao DN.

Durante meses o estado natural de Nélson era “um misto de angústia, frustração e dor física e mental”. Até ficar sentado sem fazer nada lhe causava dor. Sem poder fazer nada para ocupar o tempo além dos tratamento­s e do descanso sagrado para uma boa recuperaçã­o, os pensamento­s fugiram-lhe muitas vezes. “Comecei a pensar o que seria de mim se tivesse de acabar a carreira, mesmo a jogar e sem ter problemas eu já pensava em ficar ligado ao futebol no pós-carreira, por isso era muito difícil para mim pensar num futuro sem futebol”, confessou, revelando que já começou a tirar o curso de treinador.

Durante muitos e longos meses o relvado deu lugar à piscina, ao ginásio, ao jardim ou à sala de casa. Só depois começou a treinar com bola. Quando regressou aos treinos o futebol parou por causa da pandemia e Nélson viu a evolução física sofrer um baque. Ele pensou que ia ser bom, porque ia recuperar tempo face aos colegas, mas não. Ele estava numa fase em que “precisava do treino com chuteiras e relvado e por vezes nem tratamento conseguia fazer devido às restrições colocadas pela covid-19”.

Quando o governo permitiu o treino individual ao ar livre ele voltou ao treino específico na Prime Neo Performanc­e & Rehab, em Braga, com o preparador Rui Filipe, com o objetivo de fazer reeducação muscular e promover a integração estrutural de uma forma mais equilibrad­a.

Tal como o futebol, voltou em junho. Sentiu-se bem, mas o regresso ao jogo ainda era pura ilusão: “Quando comecei a levar mais carga nos treinos, voltei a ter uma recaída, mas dessa vez recuperei depressa e passado um mês voltei a jogar.”

O receio no regresso aos jogos

Entretanto já tinham passado 539 dias desde o último encontro, por sinal, na última jornada da época 2018-19. Nélson Agra voltou a jogar no dia 7 de novembro de 2020, frente ao Académico de Viseu: “Foi um dia de muita ansiedade. As sensações foram boas, senti-me bem fisi

camente. Foi um alívio quando o médico disse ao treinador que eu estava apto clinicamen­te e depois quando o treinador me disse que me ia chamar. Nem quero pensar que podia não voltar a fazer aquilo que mais gosto, que é jogar futebol.”

Foi titular e jogou os 90 minutos. Os primeiros minutos “foram de receio”, pois “não sabia como o corpo ia reagir”. Afinal só tinha feito 45 minutos na pré-época durante mais de ano e meio. Desde então que se “sente bem” e agradece à família, à namorada, aos amigos, aos médicos e ao clube. Todos foram essenciais na recuperaçã­o, cada um à sua maneira, claro. Olhando para trás admite que houve muitos momentos em que estava só ele e os seus pensamento­s e que tentava não pensar muito na lesão e ocupar-se com outros assuntos, mas “não era fácil”.

E, pior, havia outras preocupaçõ­es e problemas com que lidar. “O seguro recusou o caso, não pagou nada e muito dinheiro tive de pagar do meu bolso durante ano e meio de tratamento­s e recuperaçã­o”, denunciou o jogador, explicando que pensou estar protegido pelo contrato de seguro coletivo que os atletas assinam no início da época com a Liga Portugal. Mas não: “O seguro alegou que era uma lesão de desgaste do dia a dia e não uma consequênc­ia da minha profissão, ignorando que o meu dia-a-dia era jogar futebol. E, pior, não tinha como provar que a lesão tinha sido provocada pelos treinos e jogos.”

O DN contactou a Liga Portugal e o Sindicato de Jogadores para esclarecer se este tipo de lesão faz ou não parte do contrato de seguro que os jogadores e os clubes assinam no início da época, mas ambos se furtaram a dar explicaçõe­s.

Nélson ficou a depender dele próprio e do clube, que lhe continuou a pagar o ordenado religiosam­ente: “O Varzim não falhou com nada.

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Nélson chegou a pensar que nunca mais voltaria a calçar as chuteiras e a jogar futebol.

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