Dívida das famílias subiu 6,3 milhões por dia desde que a covid chegou
Moratórias contribuem para subida da dívida dos portugueses. Endividamento dos particulares, empresas e do setor público fixou novo recorde de 745,8 mil milhões de euros.
No ano em que Portugal foi fustigado com uma das maiores crises económicas de sempre, o endividamento das famílias disparou para o nível mais alto dos últimos quatro anos. No total, o nível de dívida das famílias cresceu 2,3 mil milhões de euros para os 141,3 mil milhões, segundo dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal.
No total, o endividamento das famílias, empresas e setor público aumentou 3,8% em 2020 e fechou o ano num novo recorde de 745,8 mil milhões de euros. Deste montante, 342,5 mil milhões de euros correspondem a dívida do setor público e 403,3 mil milhões ao setor privado. O endividamento da economia disparou e corresponde já a 268,8% do produto interno bruto (PIB) nacional. “O drama vai ser quando todos saírem da piscina. Vamos ficar atolados numa piscina de lama”, avisa o economista João Duque.
No caso dos particulares, as moratórias terão contribuído para esta subida diária da dívida em 6,3 milhões de euros. “Este aumento do endividamento [nas famílias] também decorre de uma questão técnica já que as moratórias estão a impedir a amortização de dívida”, considera Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “Enquanto as moratórias não expirarem, a dívida vai continuar a aumentar, não tenho dúvidas”, afirma.
Portugal adotou um regime de moratórias no crédito que permite que fique suspenso o pagamento de prestações dos empréstimos de famílias e empresas. A moratória pública, que abrange inclusive o crédito à habitação, estará em vigor até ao final de setembro deste ano.
O Banco de Portugal estima que o montante que não vai entrar nos cofres dos bancos no período rondará os 13 mil milhões de euros, dos quais dois mil milhões de correspondem a créditos de famílias.
As empresas também são abrangidas por moratórias no crédito. “O pior está nas micro e nas pequenas empresas que precisam de liquidez para que os empresários e alguns funcionários tenham dinheiro para sobreviver”, aponta João Duque. O economista lembra que, apesar de as taxas de juro estarem em níveis historicamente baixos, não irão ficar assim para sempre e já há sinais de poder haver uma inversão na tendência. “Assim que as coisas começarem a melhorar, a questão é o que vão fazer”, frisa.
“Quem está endividado é que deve estar preocupado. Ninguém sabe como vai ser a recuperação económica. As bolsas tendem a antecipar os ciclos económicos e atualmente apontam que a recuperação económica que vamos ter será forte”, salienta Filipe Garcia. “Quem está endividado deve ter cuidado”, alerta.