Diário de Notícias

Dívida das famílias subiu 6,3 milhões por dia desde que a covid chegou

Moratórias contribuem para subida da dívida dos portuguese­s. Endividame­nto dos particular­es, empresas e do setor público fixou novo recorde de 745,8 mil milhões de euros.

- TEXTO ELISABETE TAVARES elisabete.tavares@dinheirovi­vo.pt

No ano em que Portugal foi fustigado com uma das maiores crises económicas de sempre, o endividame­nto das famílias disparou para o nível mais alto dos últimos quatro anos. No total, o nível de dívida das famílias cresceu 2,3 mil milhões de euros para os 141,3 mil milhões, segundo dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal.

No total, o endividame­nto das famílias, empresas e setor público aumentou 3,8% em 2020 e fechou o ano num novo recorde de 745,8 mil milhões de euros. Deste montante, 342,5 mil milhões de euros correspond­em a dívida do setor público e 403,3 mil milhões ao setor privado. O endividame­nto da economia disparou e correspond­e já a 268,8% do produto interno bruto (PIB) nacional. “O drama vai ser quando todos saírem da piscina. Vamos ficar atolados numa piscina de lama”, avisa o economista João Duque.

No caso dos particular­es, as moratórias terão contribuíd­o para esta subida diária da dívida em 6,3 milhões de euros. “Este aumento do endividame­nto [nas famílias] também decorre de uma questão técnica já que as moratórias estão a impedir a amortizaçã­o de dívida”, considera Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiro­s. “Enquanto as moratórias não expirarem, a dívida vai continuar a aumentar, não tenho dúvidas”, afirma.

Portugal adotou um regime de moratórias no crédito que permite que fique suspenso o pagamento de prestações dos empréstimo­s de famílias e empresas. A moratória pública, que abrange inclusive o crédito à habitação, estará em vigor até ao final de setembro deste ano.

O Banco de Portugal estima que o montante que não vai entrar nos cofres dos bancos no período rondará os 13 mil milhões de euros, dos quais dois mil milhões de correspond­em a créditos de famílias.

As empresas também são abrangidas por moratórias no crédito. “O pior está nas micro e nas pequenas empresas que precisam de liquidez para que os empresário­s e alguns funcionári­os tenham dinheiro para sobreviver”, aponta João Duque. O economista lembra que, apesar de as taxas de juro estarem em níveis historicam­ente baixos, não irão ficar assim para sempre e já há sinais de poder haver uma inversão na tendência. “Assim que as coisas começarem a melhorar, a questão é o que vão fazer”, frisa.

“Quem está endividado é que deve estar preocupado. Ninguém sabe como vai ser a recuperaçã­o económica. As bolsas tendem a antecipar os ciclos económicos e atualmente apontam que a recuperaçã­o económica que vamos ter será forte”, salienta Filipe Garcia. “Quem está endividado deve ter cuidado”, alerta.

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As famílias portuguesa­s endividara­m-se no ano passado a uma média diária de 6,3 milhões de euros.

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