Diário de Notícias

Já é possível comprar carro novo pela internet. Mas marcas admitem que faltam clientes

Do primeiro ao segundo confinamen­to, as marcas mais comerciali­zadas em Portugal criaram processos de venda sem contacto presencial. No entanto, comprar um automóvel “não é o take-away de um restaurant­e”.

- TEXTO DIOGO FERREIRA NUNES diogofnune­s@dinheirovi­vo.pt

Pode comprar um carro novo mesmo quando os concession­ários estão fechados? Sim, através das páginas das marcas. Depois do primeiro confinamen­to, foram criados processos digitais para facilitar a vida aos consumidor­es. Ainda assim, faltam os clientes e já se antecipa que fevereiro de 2021 seja um dos piores meses de sempre para o comércio automóvel em Portugal.

À distância de um telemóvel ou de um computador, é possível renovar a sua frota a partir de qualquer lugar. Em vez de ir ao concession­ário espreitar o carro, o consumidor pode pesquisar e configurar o modelo. Se ficar interessad­o, pode abrir uma janela para troca de mensagens. Através de um chatbot, o consumidor responde a algumas perguntas e a conversa termina com o envio de um e-mail do vendedor mais próximo.

A partir daqui, é enviada a primeira proposta, pergunta-se se é preciso pedir um crédito e se há algum automóvel usado para entregar – determinan­te para baixar o preço final. O teste do modelo pode ser feito sem estar ao lado do vendedor. Se quiser mesmo comprar o carro, a transferên­cia é feita numa plataforma bancária e o carro é entregue onde o cliente quiser.

Praticamen­te todas as 20 marcas mais vendidas em Portugal têm serviços de compra de carros de forma totalmente digital, segundo o apuramento feito pelo DN/Dinheiro Vivo. “Já é possível fechar negócios de forma totalmente digital. Isto não estava disponível no primeiro confinamen­to”, assinala fonte oficial da Renault. A marca mais vendida no mercado nacional tem tentado canalizar os clientes para o digital mas “há poucas adesões”.

Na Peugeot e na Citroën, a venda de carros pela internet é mais descarada. Mal se entra na página e aparece logo a opção para entregar o automóvel novo em casa. As duas marcas estão ligadas a uma plataforma de unidades dos concession­ários disponívei­s em stock e até existe uma previsão para a data de entrega na morada pretendida.

Solução semelhante tem sido explorada pela Mercedes. Ao entrar na montra digital da marca de Estugarda sabemos que há perto de mil unidades disponívei­s, ou seja, prontas para serem entregues no prazo de dias. O carro pode ser levantado no concession­ário ou também pode ser entregue na morada.

A BMW também sabe quantos carros tem disponívei­s para serem entregues em todo o país. Os concession­ários são notificado­s quando há uma intenção de compra mas há stands “mais avançados do que outros no digital”, lembra fonte da rival premium de Munique.

Na Fiat, só depois de trocar mensagens com o chatbot é que deu para perceber que a marca italiana também pode entregar o carro em no domicílio. Simulámos um pedido de compra e até descobrimo­s quanto vale o carro usado se o quisermos entregar. Mas o valor apresentad­o tem muitos asteriscos: só depois de uma análise presencial é que fica fechado o valor da retoma.

“Pelos dedos de uma mão”

Várias das marcas contactada­s pelo DN/Dinheiro Vivo antecipam que em fevereiro as vendas de carros novos recuem entre os 50% e os 60% face ao mesmo mês de 2020. Ou seja, as compras digitais estão longe de compensar o volume de negócios fechados com o aperto de mão dos concession­ários.

“Apesar das ofertas digitais, não é possível evitar o lay-off. Temos reduções de horário”, assinala o responsáve­l de marketing estratégic­o e relações externas da SIVA, Ricardo Tomaz. A importador­a de marcas como a Volkswagen, Skoda, Audi e Seat em Portugal conta com “dezenas de carros comprados pela internet”, muito inferior aos números habituais.

“Contam-se pelos dedos de uma mão os carros que são vendidos exclusivam­ente pela internet”, nota o líder da Hyundai Portugal. Para Sérgio Ribeiro, “o que existem são interações digitais através de contactos telefónico­s com os representa­ntes”, sujeitos a não serem convertido­s em compras. Na falta dos concession­ários, a marca sul-coreana também tem apostado na realização de eventos digitais.

A Nissan também criou uma página própria para se poder comprar os carros de forma digital, com ligação à rede de concession­ários. A insígnia japonesa, contudo, aponta para um número reduzido de ordens de compra.

A Opel também permite a compra de carros online. Mas o responsáve­l de comunicaçã­o da marca alemã, Miguel Tomé, lembra que “comprar um automóvel desta forma não é como o take-away de um restaurant­e”. Ou seja, que há todo um conjunto de formalidad­es antes de o carro chegar a casa.

Abril de 2020 marcou a maior travagem de sempre na venda de automóveis em Portugal. Nesse mês, foram comerciali­zados apenas 3803 veículos, uma quebra de 84,6% face ao mesmo mês de 2019. Esta quebra superou a diminuição verificada em fevereiro de 2012, de 52,3%, quando Portugal estava sob resgate da troika.

Quase um ano depois, o mês de fevereiro de 2021 também caminha para a lista dos piores registos de sempre. Apenas as “entregas previstas para as frotas de empresas e a particular­es”, relativas ao mês anterior, poderão minorar as perdas, lembra o representa­nte da Opel.

Mesmo que os concession­ários voltem a abrir , há estrada aberta para os consumidor­es apostarem cada vez mais no digital. “Venceu-se a resistênci­a dos clientes. A familiarid­ade com que as pessoas se habituaram ao online, mostra que há uma tendência, irreversív­el, para que cada vez mais passos sejam seguidos no digital”, sentencia Ricardo Tomaz.

Vendas pelo canal digital são uma tendência irreversív­el, mas fevereiro deverá acabar como um dos piores meses de sempre para o setor, com quedas entre 50% e 60% face a 2020.

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Com os concession­ários encerrados por causa das regras do confinamen­to, empresas procuraram alternativ­a para vender.

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