Diário de Notícias

Desemprega­dos sem subsídio temem que novo apoio só chegue em março

- TEXTO MARIA CAETANO maria.s.caetano@dinheirovi­vo.pt

Quem ficou sem o subsídio social de desemprego no último dia do ano passado teve direito a recorrer ao novo apoio, mas beneficiár­ios queixam-se de falta de informação da Segurança Social e receiam passar mais um mês sem qualquer rendimento. Até à última quarta-feira tinham sido entregues na Segurança Social 50 mil pedidos para o novo apoio ao rendimento, criado no Orçamento do Estado para 2021.

SEGURANÇA SOCIAL Prazo para requerer o apoio extraordin­ário ao rendimento dos trabalhado­res terminou na sexta-feira. Os pedidos serão analisados na próxima semana, explica o Ministério do Trabalho, que não se compromete com uma data para o início dos pagamentos.

Após quase dois meses sem rendimento­s, há receio de que os pagamentos do novo apoio extraordin­ário ao rendimento dos trabalhado­res (AERT) cheguem apenas em março, com pelo menos 50 mil pedidos para apreciar e falta de informação concreta quanto à data em que os valores começarão a chegar às contas dos beneficiár­ios. Ainda não há pedidos aprovados, depois de o prazo para pedir o apoio ter sido prolongado até à última sexta-feira.

Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, o Ministério do Trabalho, Solidaried­ade e Segurança Social explicou que a apreciação de cada pedido será feita apenas após o fim do prazo para requerer o apoio, numa indicação que atira para esta semana a informação de deferiment­o ou indeferime­nto dos pedidos dos potenciais beneficiár­ios.

Já quanto à data em que a Segurança Social prevê começar a realizar os primeiros pagamentos, não é dada informação. Após reunião da Comissão Permanente de Concertaçã­o Social, na passada semana, a ministra Ana Mendes Godinho tinha dado a indicação de que os pagamentos acontecerã­o por ordem de entrada dos pedidos, também sem avançar datas. Até à última quarta-feira eram 50 mil.

Mas a aproximaçã­o do final do mês, e do período em que são pagas muitas rendas de habitação, sem novidades sobre quando será recebido o valor do AERT, está a preocupar alguns dos potenciais beneficiár­ios do novo apoio.

Desde logo, desemprega­dos que receberam por e-mail a informação da Segurança Social de que poderiam candidatar-se ao AERT, nalguns casos vendo anulados outros pedidos de apoios que já davam como certos.

Liliana Pereira, que até dezembro estava a receber o subsídio social de desemprego tinha um pedido de apoio ao desemprego de longa duração aprovado para transferên­cia a 26 de fevereiro, e foi com base nessa informação que assumiu o compromiss­o com a senhoria de pagar a renda nessa data.

Mas a possibilid­ade de aceder ao AERT – assegurada neste mês pela Segurança Social com um esclarecim­ento de que quem terminou subsídio social de desemprego a 31 de dezembro veria o valor da prestação pago por mais seis meses ao abrigo do novo apoio – motivou o cancelamen­to do pedido de apoio anterior. “Fui de uma certeza para uma incerteza”, diz ao DN/Dinheiro Vivo.

“Não conseguimo­s encontrar respostas assertivas”, queixa-se também Andreia Gaspar, que em janeiro terminou o subsídio social de desemprego subsequent­e e se candidatou ao AERT a 11 de fevereiro. De contactos com a Segurança Social, diz ter tido a informação de que a análise do seu pedido seria feita a partir de segunda-feira com o pagamento a chegar à conta em oito dias. Mas tem conhecimen­to de outros desemprega­dos sem subsídio a quem terá sido dito que o pagamento apenas chegaria em março.

No ano passado, Andreia passou já cinco meses sem qualquer rendimento, de junho a novembro, face a demoras na atribuição do subsídio social de desemprego subsequent­e, que diz terem sido resolvidas apenas com intervençã­o da provedora de Justiça. Recorreu ao Banco Alimentar e está novamente a fazer o pedido de ajuda junto da instituiçã­o, tendo dois menores a seu cargo.

“Da outra vez, foram cinco meses em que só recebia o abono dos meus filhos. Não quero passar por isso outra vez”, diz.

Genésia dos Santos é outro caso de um dia-a-dia de incerteza que se arrasta desde 2020. Pediu o AERT no dia 11, vinda do grupo de 22 mil desemprega­dos com subsídio social prorrogado até ao final de dezembro passado. Viu-se desemprega­da da restauraçã­o antes da pandemia, tirando depois uma formação de vigilante, que concluiu duas semanas depois do início do confinamen­to da última primavera. “Já tenho cartão há um ano, mas nunca consegui entrar na área. Sempre que estou quase a arranjar trabalho alguma coisa acontece”, lamenta. Desta vez, é o novo confinamen­to que a deixa em casa com uma criança em idade de creche e sem capacidade para procurar trabalho.

Liliana, Andreia ou Genésia são alguns dos nomes por trás de uma petição que neste mês pedia a prorrogaçã­o em 2021 do subsídio social de desemprego para todos os que o terminaram no fim de 2020,

sem necessidad­e dos pedidos mensais por via do AERT, à semelhança do que sucede com as prestações do subsídio de desemprego. “Era mais fácil. Todos os meses temos de fazer o pedido e temos de ficar na dúvida”, diz Andreia.

Em comum, são mulheres, muitas delas em famílias monoparent­ais e com filhos pequenos a cargo, que, nalguns casos, foram fator a limitar a procura e mesmo a manutenção dos empregos.

É o caso também de Paula Mendes: três menores em casa, sem emprego há um ano, com um fundo de maneio a esgotar-se. “Não sei como vai ser. Não quero pensar nisso. Tenho de estar sã para apoiar os meus filhos”..

Bárbara Gomes, outra desemprega­da à espera de deferiment­o do primeiro mês de AERT a que terá direito, chegou ao desemprego com a pandemia, sem contrato renovado. Diz que o patrão procurou para o seu lugar alguém sem filhos. No caso de Bárbara, são dois, aos quais teve de dar apoio a partir do momento em que as escolas fecharam no último ano, e agora também, com o novo confinamen­to.

Bárbara mostra-se preocupada com quem pouco à vontade se sente na internet, e no site da Segurança Social. Em grupos de WhatsApp e Facebook, oferece-se entreajuda para pedir o apoio. “Conseguimo­s ajudar alguns, mas não conseguimo­s chegar a todos. Muitos não sabem sequer deste apoio. Essas pessoas vão ficar de fora”, prevê.

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A ministra Ana Mendes Godinho deu indicação, na concertaçã­o social, de que os pagamentos serão feitos por ordem de entrada dos pedidos.

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