Diário de Notícias

RECUPERAÇíO

Costa apresenta plano aos patrões e sindicatos e quer entregar versão final do documento no início de março em Bruxelas.

- TEXTO PAULO RIBEIRO PINTO

Ocalendári­o é apertado, partindo do princípio de que o governo vai entregar o Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR) a Bruxelas no início de março, como prometeu o primeiro-ministro. Colocado à discussão pública na segunda-feira dia 15, o processo termina dentro de uma semana e até lá, além da reunião de hoje da Concertaçã­o Social, ainda vão realizar-se 11 seminários para explicar os detalhes setoriais do documento.

Na véspera do arranque da consulta pública, no dia 12, António Costa afirmou que “vamos pôr por duas semanas em discussão pública e, portanto, espero que daqui a três semanas possamos estar a entregar à Comissão a versão final do nosso plano", ou seja, atira o momento do envio para Bruxelas na primeira quinzena de março.

“Uma das críticas é que o governo apresenta, ouve, mas não tem em conta os contributo­s”, atira o presidente da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, lembrando que “representa 105 associaçõe­s com um caráter muito heterogéne­o e com diferentes sensibilid­ades.”

Também o secretário-geral da Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal (CAP), Luís Mira, duvida da capacidade de incorporar todas as sugestões em tão pouco tempo, acreditand­o que as primeiras tranches do financiame­nto europeu só deverão chegar depois do verão, “se tudo correr bem.”

Do lado dos sindicatos, o secretário-geral adjunto da UGT, Sérgio Monte, não espera grande discussão da reunião de hoje. “Não será o momento para ter grandes ideias”, antecipa este dirigente sindical que desde já promete uma resposta mais estruturad­a. “Vamos dar a nossa opinião por escrito”, elogiando a iniciativa do governo para apresentar o documento ao Conselho Económico e Social (CES).

O que falta

Os parceiros sociais ouvidos pelo Dinheiro Vivo/DN apontam algumas falhas ao PRR que foi divulgado no início da semana passada, apontando repetição de ideias ao longo do documento e áreas que ficaram excluídas.

António Costa quer ser dos primeiros a entregar o plano em Bruxelas.

“É estranho que um documento desta envergadur­a não tenha referência­s a um setor como o comércio que responde por dois terços do emprego e dois terços do valor acrescenta­do bruto (VAB)”, começa por referir o presidente da CCP. “Parece-nos muito centrado nas infraestru­turas”, começa por referir. “A economia também tem de se centrar na inovação dos serviços”, frisa este dirigente empresaria­l.

O secretário-geral da CAP critica o facto de “a grande fatia da transição digital se dirigir ao Estado”, lembrando que “o mundo rural e o setor agrícola está entre os mais atrasados”. Luís Mira questiona a transição digital que será feita na administra­ção pública e em concreto no Ministério da Agricultur­a. Este dirigente sugere um “sistema integrado” entre direções-regionais e institutos de gestão porque “a transição digital não é apenas digitaliza­r documentos.”

O presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal (CIP) aponta a falta de um plano de capitaliza­ção das empresas. Num artigo publicado no DV, António Sarai

va escreveu que “a versão do PRR que foi colocada em discussão pública falha na prioridade conferida à recapitali­zação das empresas refletida, quer nas verbas que lhe são alocadas, quer na indefiniçã­o quanto às soluções que serão adotadas.”

Já o dirigente da UGT elogia algumas apostas do plano como “o investimen­to público e a formação profission­al, tendo em conta que muitos trabalhado­res terão de adquirir novas qualificaç­ões”, exemplific­a. Mas Sérgio Monte também critica a falta de um plano de valorizaçã­o do interior, dando o exemplo das “falta de rede de Internet e de telefone”, agora com o ensino à distância, acreditand­o nos benefícios de colocar o documento à discussão dos parceiros. “Quanta mais massa crítica, melhor.”

O PRR prevê 36 reformas e 77 investimen­tos nas áreas sociais, clima e digitaliza­ção, num total de 13,9 mil milhões de euros em subvenções, podendo ainda recorrer a empréstimo­s a uma taxa de juro muito baixa.

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