Diário de Notícias

Estado de emergência Governo tenta fugir a pressões para reabrir escolas a 2 de março

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Depois da 16.ª reunião do Infarmed, políticos e técnicos tentam atrasar reabertura do país. Primeiro-ministro e ministra da Saúde usam internados em cuidados intensivos para travar expectativ­as. E lembram que PR aconselha a abrir só com 200 internados. Concordam começar pelas escolas, mas não antes de dia 15.

Os políticos e os técnicos voltaram a encontrar-se em mais uma reunião do Infarmed, a 16.ª desde que a pandemia começou. O primeiro-ministro e a ministra da Saúde usam os números dos internados em cuidados intensivos para travar expectativ­as quanto às escolas.

Na próxima quinta-feira o Parlamento vai renovar por mais quinze dias o estado de emergência (o que está em vigor terminará às 23.59 de 1 de março). O Presidente da República e o Governo já vão começando a preparar os novos decretos e a curiosidad­e vai-se centrando num único ponto: a reabertura das escolas. O Executivo tenta, por todos os meios, argumentar que ainda é cedo. E assenta todo o seu argumentár­io num número: o das pessoas internadas em Unidades de Cuidados Intensivos (ver coluna de números ao lado). Pelo meio, vai-se recordando que o Presidente da República estabelece­u uma fasquia, neste índice, para desconfina­r: 200 doentes internados. Ontem a DGS revelava que ainda são atualmente 627.

Ontem à tarde a elite da classe política portuguesa – começando pelo Presidente da República – voltou a reunir com a elite dos médicos que vão monitoriza­ndo a evolução da pandemia em Portugal – a 16ª reunião do Infarmed. E no final a ministra da Saúde, Marta Temido, tentou de novo arrefecer todas as expectativ­as no sentido de uma reabertura a curto prazo do sistema de ensino (eventualme­nte começando pelo pré-escolar e pelo 1º ciclo do ensino básico.

“Este não é o tempo de falar do tempo e de falar do modo”, disse Temido – reconhecen­do no entanto que será pelo sistema de ensino que o desconfina­mento começará.

A ministra, aliás, até foi mais longe. Disse que “na última semana, o índice de mobilidade aumentou ligeiramen­te e este é um aspeto que deve suscitar atenção, na medida em que sabemos que os valores a que chegámos são valores que resultam de um esforço e, se esse esforço se inverter, voltaremos a atingir números de incidência e números de risco de transmissã­o que não são compatívei­s com o que precisamos de garantir”. Ou, em síntese: sente-se “algum relaxament­o sem nenhuma alternação legislativ­a”. Segundo a Lusa, o primeiro-ministro fez na reunião uma intervençã­o semelhante: “O nível de incidência é ainda muito elevado, nomeadamen­te na utilização dos serviços de saúde.”

Transmissi­bilidade baixa

O tom geral das intervençõ­es dos técnicos foi no sentido de salientar a evolução positiva da pandemia em Portugal.

Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSRJ), referiu, por exemplo, que o Índice de Transmissi­bilidade – o famoso “R” – é agora de 0,67, o valor mais baixo da Europa e o mais baixo em Portugal desde o início da pandemia.

Contudo, o mesmo Baltazar Nunes acrescento­u que o número de doentes nos cuidados intensivos é ainda “muito elevado”, só se podendo esperar que desça até aos 200 no final de março.

Um outro especialis­ta do mesmo instituto, João Paulo Gomes, sublinhou que o poder da variante britânica é preocupant­e – afetando já cerca de metade dos infetados ativos (cerca de 40 mil pessoas).

Segundo disse, esta variante cresce atualmente muito menos do que no princípio, devendo-se isso ao confinamen­to. Antes, no princípio de dezembro, a incidência desta variante duplicava todas as semana e atualmente já só cresce a valores entre 4% e 10%. Dito isto, ficou um aviso: a variante britânica terá tendência, com um futuro desconfina­mento, a “crescer exponencia­lmente”.

Imunidade em agosto

Intervençã­o importante foi também a do vice-almirante Gouveia e Melo. Trajando a sua farda de camuflado, o novo chefe da task force da vacinação disse que a imunidade de grupo poderá ser atingida no verão. “Há uma expectativ­a mais positiva relativame­nte ao segundo trimestre e muito mais positiva relativame­nte ao terceiro e quarto trimestres. Se estas expectativ­as de disponibil­idades de vacinas se mantiverem e materializ­arem num futuro próximo, o período em que se pode atingir a imunidade de grupo - 70% - pode eventualme­nte reduzir-se relativame­nte ao fim do verão para passar para meados do verão, em volta de meados ou início de agosto.”

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Ministra da Saúde, Marta Temido, sumarizou conclusões da reunião

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