PANDEMIA
Objetivo é facilitar a comunicação com pessoas surdas nas escolas e nos serviços municipais.
ACâmara Municipal de Mafra tem um projeto para distribuição gratuita de máscaras de proteção transparentes aos munícipes surdos e com elevada dificuldade auditiva para “facilitar a interação social e garantir a adequada prestação do serviço público municipal”. A decisão surge após uma proposta apresentada pelo PAN à assembleia municipal, a 22 de dezembro, como forma de “mitigar estes constrangimentos comunica- cionais”, lê-se na moção aprovada por maioria.
A distribuição será “aos docentes surdos ou com algum tipo de dificuldade auditiva” e a todos os que “trabalhem com alunos e alunas surdos”, detalha Matilde Batalha. Além de alunos e professores, a iniciativa deverá abranger funcionários camarários afetos ao atendimento ao público. A deputada municipal do PAN confirma que a medida “será implementada em breve”, estando neste momento a ser feito um levantamento das quantidades necessárias. “Não será feita uma aquisição massiva de máscaras transparentes”, mas antes seletiva e direcionada, acrescenta.
Segundo o censo de 2011, existem no concelho 2821 pessoas com elevada limitação auditiva, das quais 147 são surdas. “A máscara tapa uma boa parte do rosto e torna difícil avaliar a comunicação não verbal das outras pessoas, e é através dessa comunicação não verbal que nós nos sentimos mais os menos seguros com alguém”, escreve o partido, acrescentando que para a comunidade surda “esses constrangimentos são acrescidos na medida que usam a leitura labial para se auxiliarem na compreensão de si e dos outros”.
Solução a afinar
Atualmente, uma das principais preocupações das estruturas representativas dos cerca de 120 mil surdos em Portugal prende-se com os obstáculos na comunicação com ouvintes, quer em serviços públicos, quer em restaurantes, supermercados e afins.
Pedro Mourão, presidente da APS, quer ver ideia. melhorada.
“A comunicação em geral depende da linguagem facial e corporal”, conta ao DN Mariana Couto, vogal da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, sublinhando a particular importância das “expressões faciais” para quem não consegue ouvir. Apesar de considerar a leitura labial como um recurso “complementar” à língua gestual, a também estudante de Medicina reconhece que tal “não é possível” com a utilização de máscaras sociais convencionais.
É aqui que entra a Be Angel, a empresa têxtil deVila Nova de Famalicão que começou, em maio, a produzir a única máscara transparente certificada pelo CITEVE para mercado.
“O tempo era escasso e a necessidade grande. Com o tempo, fomos percebendo que a máscara convencional foi ficando para segundo plano e o destaque foi a máscara especial”, afirma Nuno Oliveira, CEO da Elastroni-Confeções. A solução foi incluir um retângulo transparente que permite a visibilidade dos lábios e facilite a comunicação.
Apesar de agradecer “o esforço na criação e produção” desta alternativa, Pedro Mourão lamenta que a máscara “embacie quando é utilizada” e diz ser preciso continuar a afinar o modelo. “As alternativas sem este obstáculo não são certificadas e as que o são não conseguem manter-se transparentes quando o utilizador respira nelas”, afirma o presidente da Associação Portuguesa de Surdos (APS). Além disso, o responsável pede maior flexibilidade do molde, para que se
possa adaptar a todas as pessoas, e a disponibilização de um modelo para crianças.
Comunicação
Mariana Couto explica ao DN que “desde que a máscara passou a ser utilizada de forma generalizada, tenho reparado que passei a frequentar os diversos serviços apenas quando é essencial, devido à dificuldade na comunicação”. Porém, faz questão de realçar que, em geral, “existe simpatia e respeito no contacto com a pessoa surda” e que os ouvintes se têm adaptado, utilizando a mímica e a escrita como alternativas. O presidente da APS concorda e lembra que “o veículo de comunicação das pessoas surdas é sempre baseado no visual”, pelo que é “preferível que nos escrevam, apontem às coisas ou façam gestos icónicos do que [utilizem] a leitura labial” que, diz, requer muito esforço e concentração.
Sobre o exemplo dado pela Câmara de Mafra, Pedro Mourão acredita que, existindo uma “máscara transparente bem funcional”, “seria uma medida viável e que deveria ser alargada a todo o país”. A deputada Matilde Batalha lembra que o PAN apresentou na Assembleia da República, em maio do ano passado, um projeto de resolução para a distribuição destas máscaras a nível nacional e garante que “o grupo parlamentar do PAN irá agendar a sua discussão para breve”. A Be Angel afirma que os municípios “têm sido bons clientes” e que o produto manter-se-á disponível enquanto existirem encomendas.