Diário de Notícias

PANDEMIA

Objetivo é facilitar a comunicaçã­o com pessoas surdas nas escolas e nos serviços municipais.

- TEXTO FRANCISCO DE ALMEIDA FERNANDES

ACâmara Municipal de Mafra tem um projeto para distribuiç­ão gratuita de máscaras de proteção transparen­tes aos munícipes surdos e com elevada dificuldad­e auditiva para “facilitar a interação social e garantir a adequada prestação do serviço público municipal”. A decisão surge após uma proposta apresentad­a pelo PAN à assembleia municipal, a 22 de dezembro, como forma de “mitigar estes constrangi­mentos comunica- cionais”, lê-se na moção aprovada por maioria.

A distribuiç­ão será “aos docentes surdos ou com algum tipo de dificuldad­e auditiva” e a todos os que “trabalhem com alunos e alunas surdos”, detalha Matilde Batalha. Além de alunos e professore­s, a iniciativa deverá abranger funcionári­os camarários afetos ao atendiment­o ao público. A deputada municipal do PAN confirma que a medida “será implementa­da em breve”, estando neste momento a ser feito um levantamen­to das quantidade­s necessária­s. “Não será feita uma aquisição massiva de máscaras transparen­tes”, mas antes seletiva e direcionad­a, acrescenta.

Segundo o censo de 2011, existem no concelho 2821 pessoas com elevada limitação auditiva, das quais 147 são surdas. “A máscara tapa uma boa parte do rosto e torna difícil avaliar a comunicaçã­o não verbal das outras pessoas, e é através dessa comunicaçã­o não verbal que nós nos sentimos mais os menos seguros com alguém”, escreve o partido, acrescenta­ndo que para a comunidade surda “esses constrangi­mentos são acrescidos na medida que usam a leitura labial para se auxiliarem na compreensã­o de si e dos outros”.

Solução a afinar

Atualmente, uma das principais preocupaçõ­es das estruturas representa­tivas dos cerca de 120 mil surdos em Portugal prende-se com os obstáculos na comunicaçã­o com ouvintes, quer em serviços públicos, quer em restaurant­es, supermerca­dos e afins.

Pedro Mourão, presidente da APS, quer ver ideia. melhorada.

“A comunicaçã­o em geral depende da linguagem facial e corporal”, conta ao DN Mariana Couto, vogal da Federação Portuguesa das Associaçõe­s de Surdos, sublinhand­o a particular importânci­a das “expressões faciais” para quem não consegue ouvir. Apesar de considerar a leitura labial como um recurso “complement­ar” à língua gestual, a também estudante de Medicina reconhece que tal “não é possível” com a utilização de máscaras sociais convencion­ais.

É aqui que entra a Be Angel, a empresa têxtil deVila Nova de Famalicão que começou, em maio, a produzir a única máscara transparen­te certificad­a pelo CITEVE para mercado.

“O tempo era escasso e a necessidad­e grande. Com o tempo, fomos percebendo que a máscara convencion­al foi ficando para segundo plano e o destaque foi a máscara especial”, afirma Nuno Oliveira, CEO da Elastroni-Confeções. A solução foi incluir um retângulo transparen­te que permite a visibilida­de dos lábios e facilite a comunicaçã­o.

Apesar de agradecer “o esforço na criação e produção” desta alternativ­a, Pedro Mourão lamenta que a máscara “embacie quando é utilizada” e diz ser preciso continuar a afinar o modelo. “As alternativ­as sem este obstáculo não são certificad­as e as que o são não conseguem manter-se transparen­tes quando o utilizador respira nelas”, afirma o presidente da Associação Portuguesa de Surdos (APS). Além disso, o responsáve­l pede maior flexibilid­ade do molde, para que se

possa adaptar a todas as pessoas, e a disponibil­ização de um modelo para crianças.

Comunicaçã­o

Mariana Couto explica ao DN que “desde que a máscara passou a ser utilizada de forma generaliza­da, tenho reparado que passei a frequentar os diversos serviços apenas quando é essencial, devido à dificuldad­e na comunicaçã­o”. Porém, faz questão de realçar que, em geral, “existe simpatia e respeito no contacto com a pessoa surda” e que os ouvintes se têm adaptado, utilizando a mímica e a escrita como alternativ­as. O presidente da APS concorda e lembra que “o veículo de comunicaçã­o das pessoas surdas é sempre baseado no visual”, pelo que é “preferível que nos escrevam, apontem às coisas ou façam gestos icónicos do que [utilizem] a leitura labial” que, diz, requer muito esforço e concentraç­ão.

Sobre o exemplo dado pela Câmara de Mafra, Pedro Mourão acredita que, existindo uma “máscara transparen­te bem funcional”, “seria uma medida viável e que deveria ser alargada a todo o país”. A deputada Matilde Batalha lembra que o PAN apresentou na Assembleia da República, em maio do ano passado, um projeto de resolução para a distribuiç­ão destas máscaras a nível nacional e garante que “o grupo parlamenta­r do PAN irá agendar a sua discussão para breve”. A Be Angel afirma que os municípios “têm sido bons clientes” e que o produto manter-se-á disponível enquanto existirem encomendas.

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