No poder desde 2012, o Sonho Georgiano perdeu popularidade num cenário de estagnação económica e de ataques aos princípios democráticos.
Milhares de simpatizantes da oposição saíram ontem às ruas na Geórgia após a detenção de um de seus líderes, uma medida que pode agravar a crise política que o país do Cáucaso vive desde as legislativas do ano passado.
Os manifestantes reuniram-se diante da sede do governo na capital Tbilisi para protestar contra a detenção de Nika Melia, líder do principal partido de oposição da Geórgia, o Movimento Nacional Unido (MNU), e exigir eleições antecipadas.
Melia foi retirado pela polícia da sede do seu partido e colocado em prisão preventiva, de acordo com imagens do canal de televisão Mtavari.
Centenas de polícias usaram gás lacrimogéneo contra simpatizantes e dirigentes de todos os partidos da oposição que estavam acampados diante do edifício desde a semana passada. Dezenas de opositores foram detidos. A operação policial aconteceu poucos dias após a renúncia do primeiro-ministro Giorgi Gakharia, na quinta-feira passada.
Gakharia disse ter tomado a decisão devido a uma divergência no seu partido a respeito da aplicação da decisão judicial de deter Melia.
A operação policial provocou a revolta da oposição e uma advertência dos aliados ocidentais desta ex-república soviética.
O líder do partido Lelo, Mamuka Khazaradze, também de oposição, convocou um “combate pacífico e incansável para defender a democracia georgiana”. “A libertação dos presos políticos e eleições antecipadas representam a única saída possível para a crise”, declarou à imprensa.
Um dos dirigentes do MNU, Giorgi Pataraia, disse à AFP que a polícia “roubou servidores de computadores” da sede do partido. Em comunicado, o Ministério do Interior afirma que a polícia empregou “força proporcional”, assim como “recursos especiais” na operação.
“Chocado com as cenas na sede do MNU”, escreveu o embaixador britânico Mark Clayton no Twitter. Já a embaixada dos EUA afirmou em comunicado que está “profundamente preocupada” com a detenção de Nika Melia.
A ordem de detenção do opositor aprofundou uma crise política que afeta a Geórgia desde as legislativas de outubro. Os partidos de oposição afirmaram que o escrutínio foi fraudulento, depois de o partido do governo, Sonho Georgiano, ter reivindicado uma vitória apertada.
Nika Melia é acusado de organizar manifestações violentas contra o governo em 2019 e pode ser condenado a nove anos de prisão. Ele rejeita as acusações, que considera políticas. Na segunda-feira, o Parlamento confirmou a nomeação do ministro da Defesa, Irakli Garibashvili, como novo primeiro-ministro. No poder desde 2012, o Sonho Georgiano perdeu popularidade num cenário de estagnação económica e de ataques aos princípios democráticos.
Polícia usou gás lacrimogéneo contra dirigentes e simpatizantes da oposição reunidos diante da sede do governo em Tbilisi.