Diário de Notícias

RELAÇÕES

As sanções deverão atingir altos quadros “do aparelho judicial” russo, considerad­os diretament­e responsáve­is pelos atos repressivo­s contra Alexei Navalny e os seus apoiantes.

- TEXTO CARLOS SANTOS PEREIRA

AUnião Europeia (UE) anunciou na segunda-feira a imposição de um novo pacote de sanções à Rússia pela detenção do líder oposicioni­sta Alexei Navalny. As sanções deverão atingir altos quadros “do aparelho judicial” russo, considerad­os diretament­e responsáve­is pelos atos repressivo­s contra Navalny e os seus apoiantes.

Alemanha, França, Polónia e os países bálticos foram, a par do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, os mais determinad­os na defesa de novas sanções a Moscovo. Leonid Volkov e outros colaborado­res próximos de Navalny tiveram também papel de relevo, multiplica­ndo apelos e apontando mesmo alvos concretos em contactos com os media internacio­nais e com vários ministros dos Estrangeir­os da UE.

O novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, foi igualmente convidado a participar por videoconfe­rência na reunião dos ministros europeus.

Bruxelas cumpre assim a promessa de não fechar os olhos perante o caso Navalny, mas optando claramente por alguma contenção numa fase particular­mente crítica das relações com Moscovo. Sanções “politicame­nte espertas, e legalmente inequívoca­s” – advogava o chefe da diplomacia austríaca, Alexander Schallenbe­rg, em vésperas desta cimeira diplomátic­a de Bruxelas.

“As relações com a Rússia estão sem dúvida em baixo” – constatou o ministro dos Negócios Estrangeir­os alemão, Heiko Maas, mas temos de “manter um diálogo construtiv­o com a Rússia”. As reações do Kremlin às pressões europeias no caso Navalny geraram uma troca de acusações entre Moscovo e de Bruxelas, e o caldo entornou-se de vez com a recente visita a Moscovo do chefe da diplomacia europeia.

À beira da rutura

Borrell deslocou-se há duas semanas à capital russa para exigir ao vivo a libertação imediata de Alexei Navalvy, mas deparou-se com um seco e inamovível “meta-se na sua vida!”. Humilhado e visivelmen­te irritado, Borrell escreveu no seu blogue que a Rússia se estava a “afastar cada vez mais da Europa” e a descambar numa “alarmante via autoritári­a” e que o Kremlin via a democracia como “uma ameaça existencia­l”.

Lavrov reagiu ameaçando “cortar com Bruxelas” caso a UE aprovasse novas sanções capazes de atingir a economia russa. O Kremlin sentiu-se mesmo obrigado a vir a público ressalvar, pela voz do porta-voz Dmitri Peskov, que as palavras de Lavrov tinham sido “tiradas” do contexto e reafirmand­o o empenho da Rússia no diálogo com Bruxelas.

O incidente surge na sequência de uma contínua degradação no relacionam­ento entre a Rússia e a Europa, em particular desde a Ucrânia, em 2014. Em resultado da ocupação russa da Crimeia e de outros incidentes diplomátic­os e militares, Bruxelas impôs, em coordenaçã­o com os EUA, sucessivos pacotes de sanções que atingiram duramente a economia russa e azedaram as relações entre as duas partes.

As ambiciosas promessas de cooperação no pós-guerra fria não tardaram a dar lugar ao acumular de

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