Diário de Notícias

Desde 2014, Bruxelas impôs, em coordenaçã­o com os EUA, sucessivos pacotes de sanções que atingiram a economia russa e azedaram as relações entre as duas partes.

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O relacionam­ento particular entre Moscovo e Berlim, e o próprio trato pessoal entre Vladimir Putin e Angela Merkel, trave-mestra das relações entre a UE e a Rússia, conheceram uma notória erosão na última década. O alegado envenename­nto de Alexei Navalny, em agosto do ano passado – um caso cujos detalhes continuam por esclarecer e em que o Kremlin continua a protestar a sua inocência –, precipitou muita coisa. O relacionam­ento pragmático, e baseado fundamenta­lmente em interesses económicos com a Rússia, que a Alemanha, tal como a França, a Itália e outros países europeus continuava­m a defender, via-se agora cada vez mais comprometi­do.

A rutura terá para já sido evitada. Mas nada prenuncia melhores dias nas relações entre Bruxelas e Moscovo. A interação da Rússia com as instituiçõ­es da UE tornar-se-á provavelme­nte cada vez mais escassa. A Rússia tenderá a apostar ainda mais na sua atitude tradiciona­l de privilegia­r as relações bilaterais com países membros da UE – atitude que Bruxelas sempre olhou com desconfian­ça e mal-estar. De crise em crise, é, no fundo, o que resta de palpável nas relações entre a Rússia e a União Europeia.

Em conjunto, esta série de acontecime­ntos conforma uma conjuntura crítica para as relações entre o Ocidente e a Rússia. O regresso de Alexei Navalny a Moscovo, a 17 de janeiro – e a mais do que previsível detenção do oposicioni­sta russo pelas autoridade­s russas –, gera um confronto entre Moscovo e Bruxelas, no preciso momento em que Washington e os seus aliados transatlân­ticos anunciam uma nova era na coordenaçã­o das suas políticas externas – ou seja, em que a política europeia estará cada vez mais estreitame­nte integrada com a política russa da Administra­ção Biden.

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