Diário de Notícias

Bruno Bobone

Permissivi­dade, a assassina da democracia

- Bruno Bobone bruno.bobone.dn@gmail.com

Este é um momento em que todos os responsáve­is políticos têm de assumir as suas responsabi­lidades de líderes de uma sociedade.

Ademocraci­a foi a grande conquista do 25 de Abril e foi querida tanto pelos que nele participar­am como pelos que contribuír­am para a reestrutur­ação do modelo de vida que desde aí fomos criando.

Com maior e menor acordo sobre o caminho político que foi sendo escolhido, fomos convivendo e desenhando a nossa sociedade acreditand­o que Portugal merecia a nossa dedicação e o nosso esforço.

E foi assim porque a democracia representa­va o respeito pela opinião de todos, a possibilid­ade de ser diferente, de pensar diferente e de manifestar as ideias de cada um sem que isso levasse a uma censura ou mesmo a uma ostracizaç­ão da sociedade.

Seria, talvez, uma consciênci­a muito teórica e inocente, própria de quem tinha vivido num sistema essencialm­ente paternalis­ta que nos indicava o caminho, cuidava de nós tentando que não nos magoássemo­s e, para isso, controlava os nossos movimentos e as nossas ideias de maneira que não pudéssemos arriscar viver.

Mas a verdade é que ninguém gosta de ser preso nos seus movimentos - e desde a adolescênc­ia todos vamos pondo em causa a autoridade paternal e queremos caminhar por nós mesmos.

A frase de que mais me lembro desses tempos era a de que a minha liberdade, direito fundamenta­l da vida, termina no momento em que inibe a liberdade do outro. Quer isto dizer que a democracia que todos quisemos era baseada na tolerância e no respeito mútuo.

Com o passar dos tempos, e muito por culpa da ambição de alcançar o poder, os políticos e as suas organizaçõ­es trocaram a defesa de projetos de governo do país baseado em ideias e estratégia­s de cresciment­o da sociedade, seja económica seja social ou culturalme­nte, passando a defender soluções de carácter muito mais imediato, cedendo à tentação de oferecer benefícios a setores que representa­m a garantia da sua eleição, compromete­ndo as suas convicções sobre o efetivo interesse nacional.

Entrámos no permissivi­smo em contraposi­ção à tolerância. Apesar de poder parecer que são quase sinónimos, estas duas palavras definem dois conceitos de vida radicalmen­te opostos.

Enquanto a tolerância é uma atitude de grandiosid­ade, a permissivi­dade é uma atitude que resulta do medo de perder e que não ambiciona melhorar nem engrandece­r coisa nenhuma.

Infelizmen­te esta enorme clivagem na condução das democracia­s não é uma caracterís­tica nacional. Podemos ver o seu resultado em muitos outros países, como é o caso de Espanha, hoje a conviver com uma situação que advém claramente de uma atitude de muitos anos e que acabou nesta loucura social em que parte da população, pensando estar a defender uma posição política, está apenas a tentar justificar um criminoso.

No caso espanhol, os políticos foram abdicando das suas responsabi­lidades, na educação, na justiça e em outras áreas essenciais, ao longo de décadas. Essa lógica levou à criação de um governo constituíd­o por forças com visões antagónica­s da sociedade – apenas para assegurar o acesso ao poder – e que hoje se posicionam em lados opostos, numa questão que não pode permitir dúvidas. Com isto vão claramente contribuir para mais um passo na destruição da democracia.

Este é um momento crítico em que todos os responsáve­is políticos têm de assumir as suas responsabi­lidades de líderes de uma sociedade. Em que têm de defender este valor superior que é a democracia.

A permissivi­dade eleitorali­sta tem de deixar de condiciona­r a nossa maneira de viver sob pena de, em pouco tempo, vermos desaparece­r a liberdade que tanto prezamos.

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