Direção do Bloco de Esquerda criticada internamente
Moção subscrita por fundador do partido e por ex-deputado denuncia “a lógica de exclusão e a pobreza do debate interno”, culpabilizando direção.
Aproxima-se mais uma convenção nacional do BE – a 12.ª da sua história, desta vez no Porto, a 22 e 23 de maio – e a oposição interna à direção do partido volta a apresentar as suas ideias.
Subscrita, entre outros, pelo major Mário Tomé (militar de Abril e fundador do BE) e pelo ex-deputado Pedro Soares, a moção “Enfrentar o Empobrecimento – Polarizar à Esquerda”, do movimento interno Convergência, critica a direção acusando-a de “excessivo parlamentarismo” e “desvalorização” do trabalho local e autárquico, defendendo também a necessidade de o partido reforçar o seu papel de oposição.
As linhas gerais da moção foram enunciadas por Ana Sofia Ligeiro, dirigente do BE na concelhia de Torres Novas e na coordenadora distrital de Santarém, explicando que aquilo que move estes bloquistas até à convenção “é uma militância crítica” e “uma militância ativa”.
A militante bloquista começou por deixar claro que não será aceite por estes militantes a redução do número de delegados eleitos à convenção, esperando que esta “se realize dentro do prazo previsto” e “dentro da normalidade”.
Para os subscritores da moção, o objetivo traçado pela atual liderança do BE, “ser força de governo com uma nova relação de forças” não foi alcançado, considerando que o BE teve uma “perda eleitoral” e enfraqueceu a sua capacidade reivindicativa. “O Bloco esperou pelo OE 2021 para se opor às políticas do governo, mas com o acordo esgotado na anterior legislatura, há muito que se impunha um conjunto de propostas, exigências ao governo socialista. Mas até este voto contra o Orçamento, o Bloco vinha-se mantendo numa quase oposição, abdicando do confronto”, criticou.
Nas palavras de Ana Sofia Ligeiro, o BE “tem de ser uma oposição construtiva” e é imperativo que “reforce o seu papel de oposição até que seja alterada a legislação laboral”. “O Bloco não pode remeter-se ao silêncio enquanto se assiste ao regresso da austeridade, quando se instalam as crises sociais, económicas, ambientais, quando se desenvolvem as condições para o crescimento da extrema-direita”, defendeu.
As críticas a quem lidera o partido são também na “desvalorização do trabalho local e autárquico”, considerando que “este é um fator de desmobilização das bases, a par do centralismo, da verticalização e de um excessivo parlamentarismo”. Para estes bloquistas, “a lógica de exclusão e a escassez e pobreza do debate interno” tem consequências negativas na capacidade de intervenção do partido. O facto de a atual direção “reservar para si a discussão política e as decisões sobre o rumo do Bloco” resulta numa “desvalorização do trabalho de base”, criticam ainda.
Em relação às eleições autárquicas, Ana Sofia Ligeiro defendeu que o BE deve apresentar listas próprias, “com programas e propostas alternativas à austeridade que reforcem a democracia, a defesa da regionalização, o combate à corrupção e à especulação imobiliária”. “Deve ser feito este esforço para apresentar listas próprias do Bloco, assentes na capacidade de decisão das concelhias, tanto quanto ao programa como quanto aos candidatos.”