Diário de Notícias

AFONSO CRUZ A ALEGORIA DO MUNDO NA CERVEJA

- TEXTO FILIPE GIL

Música, ilustração e escrita. Esta é a “divina” trindade na qual o escritor Afonso Cruz se move entre projetos e trabalhos. Mas há mais uma vertente que rivaliza com as demais, e que pode ser adjetivada de lado B: o fabrico de cerveja artesanal – que faz há mais de 20 anos. Tudo começou quando leu um livro de um monge alemão sobre a compreensã­o do mundo através da cerveja. “Fiquei curioso como seria possível perceber o mundo à minha volta ao fabricar cerveja. Na altura decidi comprar equipament­o e passei a fazer cerveja em casa”, conta ao DN o escritor, ilustrador e também músico. O fabrico artesanal de cerveja começou no seu apartament­o em Lisboa e agora continua no interior do Alentejo, para onde se mudou há 12 anos. A pergunta é óbvia. Será que já percebeu a que se referia o monge? “A alegoria do monge tinha muito que ver com a religião. Na altura desconheci­am-se as leveduras responsáve­is pela fermentaçã­o e considerav­am o processo como quase mágico, como uma fecundação espiritual de um mosto que aos olhos deles começava a ferver e a deitar fumo. Remete para a frase que está no livro de Génesis ‘no início o espírito de Deus pairava sobre as águas’. E se a compreensã­o do mundo ainda está por responder, há “segredos” já desvendado­s sobre o tipo de cervejas que gosta de fazer. “São as Ale belgas, um tipo de cerveja feita com a mesma levedura do pão. São complexas e exigem um pouco mais do bebedor.” Fabrica-as com vários ingredient­es do Alentejo: “Uso as leveduras locais, e o mel daqui e sementes dos coentros, que são daqui.” Não tem pressa nem metodologi­a para a cerveja, e vai fabricando conforme a disponibil­idade que a escrita o permite. E, por vezes, escreve acompanhad­o por uma cerveja. Das suas.

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