Milão prepara-se para os loucos anos 20
Antecipando futuros desejos dos consumidores, as marcas italianas apostam que os próximos anos serão de euforia. As pessoas estão desejosas de se vestir bem, diz o designer da Fendi. Será?
A covid-19 apanhou a indústria desprevenida e poucos imaginariam que o cenário fosse semelhante um ano depois, com perdas de 25% num negócio tão importante em Itália. Mas, como de costume, a moda adaptou-se.
Paleta neutra e minimalismo opulento foram expressões usadas por estes dias para definir a coleção da Fendi para o próximo outono-inverno. Kim Jones, diretor criativo da casa italiana, gosta de lã, peles (falsas) e pôs mesmo o castanho no mapa. E já está a pensar num mundo para lá da pandemia de covid-19, os novos loucos anos 20. Otimismo é uma palavra que o próprio usaria para marcar o ritmo do seu trabalho. “As pessoas estão desesperadas para se vestirem bem”, disse o designer. E contra o discurso da crise, lança: “Como deixaram de fazer o que faziam, estão a comprar muitas coisas.”
O trabalho de Kim Jones para a Fendi era um dos mais aguardados da semana da moda de Milão, que termina nesta segunda-feira. O designer inglês, 41 anos, tomou conta da marca em setembro, desenhou a coleção em pleno confinamento, a partir de Londres, a sua cidade, com um olho em Paris, onde mantém a colaboração com a Dior (e a moda masculina), e outro em Itália, preparando a primeira coleção de pronto-a-vestir de mulher. A pressão existia.Vinha da história da casa Fendi – fundada em 1925, dirigida por mulheres há três gerações, sob a batuta criativa de Karl Lagerfeld durante 54 anos. “Ninguém é o Karl e eu respeito isso”, respondeu Jones.
Faz agora um ano que Giorgio Armani teve de cancelar o seu desfile e mostrar o trabalho à porta fechada na semana da moda de Milão. A covid-19 apanhou a indústria desprevenida e poucos imaginariam que o cenário fosse semelhante um ano depois, com perdas de 25% num negócio tão importante em Itália, mas, como de costume, a moda adaptou-se. Tudo foi mostrado online, repetindo o que já tinha acontecido em Paris e Nova Iorque.
São nítidas duas tendências. Há aquela que antevê que o casual veio para ficar depois da pandemia e que as malhas Missoni materializa. “Eu devia fazer uma coleção só de casacos”, disse Angela Missoni, diretora criativa da marca e filha da fundadora, Rosita Missoni. Conforto em todas as situações, mesmo nas mais festivas, foi o que a designer quis mostrar na sua apresentação – trabalho, lazer ou festa.
A segunda corrente é aquela que considera que as pessoas estão desejosas de sair de casa e aperaltar-se. Kim Jones faz parte deste segundo grupo, mas não está sozinho.
A coleção de pronto-a-vestir Emporio Armani foi ao baú dos anos 1980, fonte de energia renovável, e trouxe as peças festivas e as cores. Viram-se néones, rosas e verdes juntos, calças largas com pregas e veludo.
O show psicadélico de Prada (desenhado por Rem Koolhaas), agora no reinado Miuccia Prada e Raf Simons, também entra na categoria de criativos que estão a antever um mundo pós-pandemia em que só se vai querer sair à rua e guardar as pantufas no armário. A originalidade neste caso é que quiseram fazer corresponder elegância e conforto. Pouca pele à vista e muita lã.
Armani, Valentino e Dolce & Gabbana serão os últimos a mostrar o que prepararam ao longo dos últimos meses, até segunda-feira. Outros, notadas ausências, optaram por dar a conhecer as suas coleções fora da semana da moda de Milão – Bottega Veneta, Gucci ou Versace, que mostrará as suas propostas no dia 5 de março.