CIA: príncipe aprovou morte de Khashoggi
Serviços secretos norte-americanos concluíram que príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman autorizou a morte de jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do seu país em Istambul a 2 de outubro de 2018.
Os serviços secretos norte-americanos acusaram ontem o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, de ter “validado” o assassínio do jornalista também saudita Jamal Khashoggi, em 2018.
“Chegámos à conclusão de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita validou uma operação em Istambul para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”, escreve a direção da CIA, num pequeno documento de quatro páginas que foi desclassificado.
“O príncipe herdeiro considerou Khashoggi como uma ameaça para o reino e apoiou totalmente o uso de medidas violentas, se necessárias, para o silenciar”, acrescenta-se no documento.
A desclassificação do documento pode aumentar a pressão sobre a administração de Joe Biden para responsabilizar o reino por um assassínio que provocou grande indignação nos Estados Unidos e a nível internacional.
A conclusão central do relatório era amplamente esperada, visto que vários funcionários da CIA tinham chegado a esse entendimento logo após o brutal assassínio de Khashoggi, a 2 de outubro de 2018, um crítico da consolidação autoritária do poder do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Ainda assim, como a descoberta não fora oficialmente divulgada até agora, a atribuição pública de responsabilidade representou uma repreensão extraordinária ao ambicioso do príncipe herdeiro.
Segundo a agência noticiosa AP, a divulgação pública do documento vai, “provavelmente, dar o tom” para o relacionamento da nova administração norte-americana com um país que Biden criticou, mas que a Casa Branca considera que, nalguns contextos”, constitui “um parceiro estratégico”.
Kashoggi, 59 anos, residente nos Estados Unidos e cronista do jornal TheWashington Post, foi assassinado no consulado do seu país em Istambul, na Turquia, por agentes sauditas.
O Senado norte-americano, que teve acesso às conclusões dos serviços de informações, considerou na altura que o príncipe herdeiro era “responsável” pelo assassínio.
Riade inicialmente negou qualquer responsabilidade, mas mais tarde disse que o jornalista foi morto acidentalmente por agentes que tentavam extraditá-lo. A versão oficial da Arábia Saudita é que esses agentes, ligados a Mohammed bin Salman, agiram por conta própria e que o príncipe herdeiro não esteve envolvido.
Oito pessoas foram condenadas na Arábia Saudita pela morte de Khashoggi, cinco das quais à pena capital. Mais tarde estas sentenças foram comutadas para 20 anos de prisão.