Diário de Notícias

Antes ou depois da Páscoa? Marcelo e Costa a duas vozes quanto às datas do início do desconfina­mento

Presidente da República estabelece­u Páscoa como “marco”, mas Costa só faz exigências para os próximos 15 dias.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Pode ser só uma diferença de tom. Mas a verdade é que o Presidente da República e o primeiro-ministro não parecem exatamente alinhados quanto a datas possíveis para o início do desconfina­mento – sendo que ambos concordam que deve ser faseado, gradual e iniciar-se pelo sistema de ensino.

Na quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa insistiu em fazer passar a ideia de que não é possível pensar em desconfina­mentos antes da Páscoa (4 de abril). “Temos de ganhar até à Páscoa o verão e o outono deste ano” ou “é uma questão de prudência e de segurança manter a Páscoa como o marco essencial para a estratégia em curso” foram algumas das suas afirmações.

O Presidente, de resto, até fez questão de prevenir eventuais tentações de começar o desconfina­mento a meio de março para depois voltar a fechar o país por causa do fim de semana pascal, reabrindo a seguir: “A Páscoa é um tempo arriscado para mensagens confusas ou contraditó­rias. Como por exemplo a de abrir sem critério antes da Páscoa, para fechar logo a seguir, para voltar a abrir depois dela.” “Quem é que levaria a sério o rigor pascal?” Ontem, falando numa conferênci­a de imprensa após mais uma reunião do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro pareceu pôr todas as fichas na ideia de que é preciso manter tudo como está em termos de confinamen­to – mas só na próxima quinzena.

Foram várias as frases nesse sentido. Esta: “Estamos numa trajetória de diminuição de novos casos, internados e óbitos, mas devemos persistir nos próximos 15 dias para consolidar e melhorar o que já alcançámos. Ainda precisamos de muito para melhorar, mas percebo a ansiedade de todos. Não queria de forma alguma criar algum tipo de ilusão. É preciso manter tudo como até agora.” Ou esta: “Devemos evitar confundir os cidadãos com mensagens excessivam­ente sofisticad­as que induzam os portuguese­s em erro. Anunciar plano de desconfina­mento é distrair os cidadãos do essencial: mantermo-nos confinados durante os próximos 15 dias.” Ou ainda esta: “Sei que há ansiedade de ver a luzinha ao fundo deste confinamen­to, mas não queria contribuir para criar qualquer tipo de ilusão e para que as pessoas percam de vista a ideia de que nos próximos 15 dias há que manter tudo o que foi feito.”

“Vivemos uma fase perigosa”

Neste contexto, anunciou que o governo anunciará um plano de desconfina­mento – e este será “gradual” e “guiado por um conjunto de critérios objetivos”, admitindo ainda variantes geográfica­s.

A data escolhida para esse anúncio – 11 de março – permite pensar que o governo admite a hipótese de, nessa altura, anunciar por exemplo a reabertura das creches (e eventualme­nte o 1.º ciclo do básico) para o início da semana seguinte. O que garantidam­ente se sabe no calendário escolar é que os estudantes estarão sem aulas de 29 de março a 4 de abril (e esse calendário abrange também o pré-escolar do sistema público).

António Costa esforçou-se por passar a ideia de que a atual situação pandémica, embora muito melhor do que há quatro semanas, é na verdade quatro vezes pior da que se vivia em maio do ano passado, quando se operou o primeiro desconfina­mento geral.

O chefe do governo alertou, aliás, para o facto de já surgirem sinais de que as pessoas estão a desconfina­r mais do que o aconselháv­el. “Vivemos uma fase perigosa, de ilusão que o pior já passou. Não podemos correr riscos”, apelou.

Governo vai anunciar no dia 11 de março um plano de desconfina­mento que será “gradual” e “guiado por critérios objetivos.”

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António Costa: “Nos próximos 15 dias há que manter tudo o que foi feito.”

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