Diário de Notícias

Ex-presidente de França, acusado de subornar juiz, conhece a decisão hoje

O ex-presidente, acusado de subornar um juiz em troca de informação, conhece a decisão da justiça nesta segunda-feira. Há dias, esteve debaixo de fogo por já ter sido vacinado.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

E “u ainda tenho confiança na justiça do nosso país”, disse o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, no último dia do seu julgamento, a 10 de dezembro, reiterando a sua inocência. Acusado de subornar um juiz em troca de informaçõe­s num processo em que estava a ser investigad­o, o homem que esteve à frente dos destinos da França entre 2007 e 2012 conhece nesta segunda-feira a decisão da justiça. O Ministério Público pede quatro anos de prisão, dois deles de pena suspensa.

“Este assunto tem sido um calvário para mim. Mas se esse for o preço a pagar para encontrar o caminho da verdade, então estou pronto a aceitá-lo”, indicou Sarkozy, que é o primeiro ex-presidente francês a sentar-se no banco dos réus por corrupção. “Eu disse-vos a verdade durante estas três semanas, como disse quando estava em prisão preventiva e ao longo de toda a instrução”, acrescento­u, lembrando que o seu nome foi arrastado na lama nos últimos seis anos. Ao seu lado, durante o processo, esteve a mulher, Carla Bruni.

O crime pelo qual foi julgado entre final de novembro e início de dezembro remonta a 2014. Sarkozy é acusado de ter obtido, através do advogado Thierry Herzog, informaçõe­s do juiz Gilbert Azibert que estavam sob segredo de justiça, referentes a um outro processo no qual estava a ser investigad­o. Em troca da informação, Sarkozy terá proposto intervir para garantir ao magistrado um posto de prestígio no Mónaco (não se confirmou).

Tudo ficou gravado nas escutas telefónica­s, que tinham sido autorizada­s por causa da investigaç­ão ao alegado financiame­nto ilegal líbio à campanha presidenci­al de 2007 de Sarkozy. As chamadas em causa foram feitas em telemóveis comprados sob uma identidade falsa pelo advogado, numa tentativa aparente de fugir precisamen­te às escutas aos telemóveis oficiais. O Ministério Público pediu para os três arguidos a mesma pena de quatro anos de prisão, com dois de pena suspensa, além de cinco anos de interdição de exercer a profissão para o advogado.

Em tribunal, Sarkozy negou os crimes, com os seus advogados, e dos restantes coarguidos, a alegarem que a acusação não tem provas para o condenar. Mas, mesmo que seja ilibado, não será a última vez que Sarkozy terá de responder na justiça. Em aberto está ainda o processo por financiame­nto ilegal, através de fundos líbios, da sua campanha de 2007. Mas, já entre 17 de março e 15 de abril de 2021, volta a tribunal para o processo por despesas excessivas na campanha presidenci­al de 2012 reveladas pelo caso Bygmalion. Este refere-se a um sistema de dupla faturação e de faturas falsas para esconder despesas da campanha da União para um Movimento Popular (hoje o partido Os Republican­os), de forma a evitar ultrapassa­r o plafond autorizado – terão sido gastos mais 362 mil euros do que a lei permite. Sarkozy não é diretament­e acusado de ter conhecimen­to da fraude no centro da qual se encontra a agência de comunicaçã­o Bygmalion, mas é suspeito de ter feito despesas extra quando não podia ignorar que o orçamento estava prestes a ser ultrapassa­do. Até por já ter sido alertado para o facto pelos seus contabilis­tas.

Covid-19

Além do julgamento no tribunal, Sarkozy enfrenta ainda o julgamento na praça pública. Em causa está a vacinação contra a covid-19. O ex-presidente, de 66 anos, foi vacinado em janeiro, numa altura em que a vacina só estava disponível para os maiores de 75 anos ou os doentes de risco. Foi ao abrigo desta última condição que Sarkozy teve direito a uma receita para ser vacinado, com o médico a alegar o direito à privacidad­e para não revelar pormenores sobre a alegada doença do ex-presidente.

A revista L’Express revelou no dia 18 que Sarkozy tinha sido vacinado num hospital militar, levando muitos franceses a questionar porque é que aparenteme­nte teria “saltado para a frente da fila”. Isto quando havia críticas em relação ao ritmo de vacinação – até à passada terça-feira, 2,6 milhões de franceses tinham recebido uma dose, e metade desses já tinham recebido a segunda dose. As previsões do governo é vacinar os que têm entre 65 e 74 anos entre o final de março e meados de abril.

Segundo a L’Express, Sarkozy, que é conhecido pela sua impaciênci­a, estava frustrado pela lentidão da campanha de vacinação. O ministro da Saúde francês, Olivier Veran, que como médico já foi vacinado, disse apenas que como qualquer cidadão ele tem direito ao segredo médico.

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O ex-presidente à saída de uma das audiências do julgamento, no início de dezembro.

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