Diário de Notícias

À conversa com Luís Filipe Vieira

Entre ataques à oposição interna, presidente do clube defende equipa técnica e atletas, assume responsabi­lidade pelo falhanço nos objetivos, mas diz que o fator principal foi a covid.

- TEXTO CÉSAR AVÓ

“Os benfiquist­as não devem minimizar a covid. Os jogadores não corriam mais de sete quilómetro­s quando antes corriam 11, 12. Não é uma desculpa, é uma realidade. Tirando os lares, nunca vi um caso assim.”

Luís Filipe Vieira Presidente do Benfica

Adata era de celebração pelos 117 anos do clube, e foi esse o pretexto da entrevista de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica desde 2003, ao canal televisivo da agremiação. Mas o mau momento desportivo da equipa principal de futebol e a contestaçã­o dirigida quer à direção quer à equipa técnica levaram Vieira a jogar em contra-ataque aos críticos internos, mais do que aos externos. “É revoltante a pressão que fazem”, afirmou, no dia em que Noronha Lopes, candidato derrotado nas últimas eleições, fez uma homenagem ao antigo presidente Borges Coutinho, exaltando os valores do Benfica, numa indireta à liderança atual.

A primeira mensagem de Luís Filipe Vieira foi a de assumir responsabi­lidades, mas sem falar em consequênc­ias. “Só pode haver um responsáve­l, sou eu. Na hora da derrota não vale a pena procurar fantasmas, sou eu”, assumiu na entrevista à BTV. A segunda é a de que o treinador, Jorge Jesus, vai cumprir o contrato. “Logicament­e que tem de continuar e cumprir o contrato. Toda a gente dizia que era o melhor treinador para o Benfica. Depois de ir ao Brasil [contratar Jesus] toda a gente, até das outras listas, defendia o Jorge Jesus”, disse.Vieira recordou que houve adeptos que queriam a saída de Jorge Jesus após a perda do campeonato para o FC Porto na derrota aos 92 minutos, em 2013, e que depois obteve vários títulos, ou seja, realçou aí e noutras ocasiões a importânci­a da estabilida­de. Depois desabafou: “É revoltante a pressão que fazem, este clube não pode ser vivido assim. Temos de estar unidos na derrota e na vitória, senão levam-nos de volta ao passado.” Mais à frente voltou a insistir no tema. “É uma falta de respeito, para não dizer uma pulhice que fazem, a mim não, que sou uma rocha, mas ao clube.” Continuou: “O que vier a seguir a mim, a família não terá descanso e vai passar por ladrão.”

Para o presidente do Benfica o principal fator para os maus resultados foi a pandemia. “Na semana em que tentámos adiar o jogo com o Nacional foi uma tempestade perfeita, 27 casos de covid”, disse. Confidenci­ou também que o presidente do Nacional só aceitaria o adiamento da partida caso o Benfica emprestass­e Diogo Gonçalves. “A única coisa que os benfiquist­as não devem fazer é minimizar” a covid, e deu o seu exemplo, quando antes subia as escadas a correr e agora ainda não consegue: “Não está tudo resolvido, se não está para mim não está para os atletas. Os jogadores não corriam mais de sete quilómetro­s quando antes corriam 11, 12 quilómetro­s. Quando não se pode, não se pode. Não é uma desculpa, é uma realidade. Tirando os lares, nunca vi um caso assim.”

Para Vieira, o mês de janeiro foi a “componente principal” pelos insucessos, mas também reconheceu “situações de culpa”, como a falta de adaptação de alguns jogadores. Sobre a arbitragem disse que não queria falar, mas acabou por dar o exemplo do jogo do Moreirense –“como é que o VAR não viu os penalties?” – e disse que pediu ao presidente da federação a realização de uns “estados gerais”. Também lamentou a ausência do chamado “12.º jogador”: “Esse público arrastava a equipa para as vitórias. Faz-nos muita falta, influencia o comportame­nto dos jogadores.”

Toni, Carlos Manuel e Bagão Félix perguntara­m sobre o ziguezague na aposta da formação. Vieira defendeu-se, tendo dito que “não é dono do clube” e que sabe ouvir e depois tomar as decisões, pelo que neste ano a aposta foi numa “mescla de experiênci­a com juventude”. “Se alguém aposta na formação sou eu. É ali que temos de investir. O Seixal é a menina dos meus olhos”, afirmou.

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Em mais do que uma ocasião Luís Filipe Vieira referiu-se aos “pulhas” e à “pulhice” de quem critica a direção do Benfica.

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