Diário de Notícias

Dia 11, Costa anunciará que Marcelo tem razão

- Paulo Baldaia

Presidente da República e primeiro-ministro estão de acordo no essencial, mesmo que a cada momento o ponto de partida seja diferente, visto de Belém ou de São Bento. Isto mesmo nos é repetido à exaustão por Marcelo e por Costa.

Se é verdade que é ao poder executivo, ao governo portanto, que o povo pede responsabi­lidades quando chega a hora de avaliar o combate à pandemia, não é menos verdade que, em estado de emergência, o governo só pode fazer o que vier autorizado pelo decreto presidenci­al. Não tem de fazer tudo o que estiver plasmado nesse documento, mas não pode fazer nada para lá disso.

Mesmo que entendêsse­mos que da teoria à prática vai uma distância que responsabi­liza mais uns do que outros, bastaria atender ao discurso dos titulares dos dois órgãos de soberania para percebermo­s que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, por mais que às vezes pareça o contrário, estão profundame­nte unidos no caminho que todos teremos de percorrer. A estratégia está a dar resultado: diz-nos a sondagem da Aximage para DN, JN e TSF que o primeiro-ministro ficou imune ao descontrol­o da pandemia e a popularida­de do Presidente da República inverteu a tendência de queda e até atingiu um novo pico.

É espantosa a frequência com que o Chefe de Estado aparece a assumir a estratégia de combate à pandemia, num exercício de honestidad­e política que, embora um pouco exagerado, nos diz a verdade sobre uma responsabi­lidade partilhada em que apenas parecem contar os momentos de alegadas divergênci­as entre os dois palácios, por mais pequenas que sejam – como seja a lei do ruído, em que Marcelo pede alterações e Costa faz-se de surdo.

Olhemos para o mais importante e atendamos à experiênci­a destes 12 meses de pandemia. Presidente da República e primeiro-ministro estão de acordo no essencial, mesmo que a cada momento, o ponto de partida seja diferente, visto de Belém ou de São Bento. Isto mesmo nos é repetido à exaustão por Marcelo e por Costa. Daí que pensar que o Presidente quer o país a carregar a cruz até à Páscoa e o chefe do governo quer ressuscita­r o país antes disso, só pode resultar de uma vontade de descobrir divergênci­as profundas onde elas não têm razão de existir.

Uma coisa é o ruído que nasce de uma lei que o Presidente pediu duas vezes para ser alterada e o governo não lhe faz a vontade, outra, bem diferente, é ter os dois órgãos de soberania a defender datas diferentes para o início do desconfina­mento. O que Costa garantiu apresentar no dia 11 de março é o plano que Marcelo lhe tinha pedido, feito com base em consensos gerados entre os cientistas, não é o anúncio de abertura marcada para a segunda-feira seguinte.

Tenho insistido muito num ponto que pode parecer uma acusação infundada, mas que resulta apenas de um segredo sem sentido por parte dos dois palácios. A imagem do país milagroso sofreu um grave revés internacio­nal com a subida ao pódio do pior do mundo e Portugal preside aos destinos da União Europeia neste semestre. Quanto vale limpar a imagem do país, descendo os números para o mais perto possível de zero, realizando uma Cimeira Social presencial, em maio, no Porto? Vamos ter de fazer um esforço bem maior do que é expectável com base na informação disponível? Tem de haver uma razão maior para insistirem em manter as crianças e os jovens fora da escola.

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