Dia 11, Costa anunciará que Marcelo tem razão
Presidente da República e primeiro-ministro estão de acordo no essencial, mesmo que a cada momento o ponto de partida seja diferente, visto de Belém ou de São Bento. Isto mesmo nos é repetido à exaustão por Marcelo e por Costa.
Se é verdade que é ao poder executivo, ao governo portanto, que o povo pede responsabilidades quando chega a hora de avaliar o combate à pandemia, não é menos verdade que, em estado de emergência, o governo só pode fazer o que vier autorizado pelo decreto presidencial. Não tem de fazer tudo o que estiver plasmado nesse documento, mas não pode fazer nada para lá disso.
Mesmo que entendêssemos que da teoria à prática vai uma distância que responsabiliza mais uns do que outros, bastaria atender ao discurso dos titulares dos dois órgãos de soberania para percebermos que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, por mais que às vezes pareça o contrário, estão profundamente unidos no caminho que todos teremos de percorrer. A estratégia está a dar resultado: diz-nos a sondagem da Aximage para DN, JN e TSF que o primeiro-ministro ficou imune ao descontrolo da pandemia e a popularidade do Presidente da República inverteu a tendência de queda e até atingiu um novo pico.
É espantosa a frequência com que o Chefe de Estado aparece a assumir a estratégia de combate à pandemia, num exercício de honestidade política que, embora um pouco exagerado, nos diz a verdade sobre uma responsabilidade partilhada em que apenas parecem contar os momentos de alegadas divergências entre os dois palácios, por mais pequenas que sejam – como seja a lei do ruído, em que Marcelo pede alterações e Costa faz-se de surdo.
Olhemos para o mais importante e atendamos à experiência destes 12 meses de pandemia. Presidente da República e primeiro-ministro estão de acordo no essencial, mesmo que a cada momento, o ponto de partida seja diferente, visto de Belém ou de São Bento. Isto mesmo nos é repetido à exaustão por Marcelo e por Costa. Daí que pensar que o Presidente quer o país a carregar a cruz até à Páscoa e o chefe do governo quer ressuscitar o país antes disso, só pode resultar de uma vontade de descobrir divergências profundas onde elas não têm razão de existir.
Uma coisa é o ruído que nasce de uma lei que o Presidente pediu duas vezes para ser alterada e o governo não lhe faz a vontade, outra, bem diferente, é ter os dois órgãos de soberania a defender datas diferentes para o início do desconfinamento. O que Costa garantiu apresentar no dia 11 de março é o plano que Marcelo lhe tinha pedido, feito com base em consensos gerados entre os cientistas, não é o anúncio de abertura marcada para a segunda-feira seguinte.
Tenho insistido muito num ponto que pode parecer uma acusação infundada, mas que resulta apenas de um segredo sem sentido por parte dos dois palácios. A imagem do país milagroso sofreu um grave revés internacional com a subida ao pódio do pior do mundo e Portugal preside aos destinos da União Europeia neste semestre. Quanto vale limpar a imagem do país, descendo os números para o mais perto possível de zero, realizando uma Cimeira Social presencial, em maio, no Porto? Vamos ter de fazer um esforço bem maior do que é expectável com base na informação disponível? Tem de haver uma razão maior para insistirem em manter as crianças e os jovens fora da escola.