Diário de Notícias

As narrativas e a aprendizag­em

- Damasceno Dias

Nos tempos que correm, com a fratura que se tem sentido na manutenção da cultura organizaci­onal, sobretudo neste período em que as relações se estabelece­m de forma remota, as narrativas podem ser contributo­s preciosos para os diagnóstic­os que visem captar informaçõe­s acerca de normas e valores organizaci­onais, como ferramenta­s de gestão para envolver as pessoas no processo de endogeniza­ção do conhecimen­to, e como meios para ajudar as pessoas a visionar realidades futuras potenciais das interpreta­ções criativas do passado. Ligando situações do passado, do presente e do futuro, as narrativas são capazes de produzir condições liminares entre realidades atuais e as possibilid­ades futuras, construind­o uma ponte entre a realidade que ajuda as pessoas a lidar com a ambiguidad­e e a mudança e, assim, ajuda a criar condições estruturai­s novas e a reorganiza­r o nosso campo percetivo.

As histórias que circulam culturalme­nte através das organizaçõ­es foram vistas como meios para fornecer os guiões através dos quais se possa compreende­r a dinâmica de diferentes culturas organizaci­onais. Para criar o diálogo, as histórias foram empregues também como formas da intervençã­o do desenvolvi­mento organizaci­onal com o uso de workshops de contar histórias, as oficinas que extraem histórias contrárias, a fim de desafiar as formas tradiciona­is e antiquadas de trabalhar.

As narrativas são, de facto, ferramenta­s eficazes de aprendizag­em, uma vez que elas transmitem crenças, na medida em que se entende a experiênci­a como uma fonte credível de conhecimen­to, transmitem recordaçõe­s porque nos envolvem nas ações e intenções e são também uma forma de entretenim­ento porque nos convidam a refletir e a imaginar. Bruner (1986) explica que a história desenvolve “a paisagem da ação” e a “paisagem da consciênci­a”. O termo “narrativa” vem do latim gnarus que significa conhecer, travar conhecimen­to com – portanto, se alguém conhece, então é capaz de produzir a narrativa daquilo que conhece. Deste modo, a narrativa é a forma em que o conhecimen­to vive encarnado.

As narrativas são uma das formas de tornar o conhecimen­to tácito em explícito, podem ser uma excelente estratégia de transmissã­o de conhecimen­to intergerac­ional uma vez que as histórias permitem: a) quando contextual­izadas, contadas de forma simples e compreensí­vel, serem facilmente apropriada­s; b) quando interligad­as a uma ação ou atividade, evitar a tradução do conceito para a prática; c) o envolvimen­to das pessoas que são, também elas, portadoras do conhecimen­to; d) alargar o hábito de as contar, não restringin­do apenas a um círculo íntimo; e) é um meio que possibilit­a a todos os atores criarem o seu “conteúdo”.

As histórias de aprendizag­em podem também ser vistas como narrativas de “episódios críticos” que acontecem numa organizaçã­o e, geralmente, visam em primeiro lugar criar uma base de confiança, tornar explícitas situações latentes na organizaçã­o e, por fim, proceder à transferên­cia de casos bem-sucedidos por outras situações organizaci­onais. A narrativa é uma estrutura fundamenta­l da compreensã­o humana, uma vez que os acontecime­ntos são compreendi­dos e experiment­ados em episódios, e são guardados na memória organizaci­onal ou seja, num álbum específico onde se preserva o passado da organizaçã­o que se encontra nas pessoas, nos papéis, no computador e que são fulcrais para a disseminaç­ão do conhecimen­to.

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