Diário de Notícias

8727 mortos depois, o último confinamen­to geral de Marcelo I

Entra amanhã em vigor o último estado de emergência do 1.º mandato do PR. O DN faz o balanço da explosão pandémica do Natal.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Inicia-se às 00h00 de amanhã, terça-feira, 2 de março, o último estado de emergência de Marcelo I. No dia 9, o Presidente da República (PR) tomará posse do seu segundo mandato. Portanto, a próxima quinzena de estado de emergência, que se deverá iniciar às 00h00 de 17 de março (para terminar às 23h59 de 31 de março) já será decretada por Marcelo II . Isto, claro, se o Presidente cumprir a promessa de manter o confinamen­to geral por “março fora”, como disse no dia 11 de fevereiro, na 7.ª renovação do segundo estado de emergência.

Em 8 de janeiro passado, face a um aumento assustador do número de novos infetados e do número de óbitos – cresciment­o desencadea­do pela mistura explosiva entre um Natal sem confinamen­to e uma variante britânica ultraefica­z – o país voltou a viver em estado de emergência.

Isso já não acontecia desde o início de maio – e o primeiro-ministro até tinha prometido, porventura com o “otimismo irritante” que o PR já lhe assinalou, que Portugal não voltaria a viver neste estado de exceção constituci­onal, uma situação que, em tese, até dá ao governo o poder de limitar o direito à greve e mesmo direitos de liberdade de expressão (o que nunca fez, apesar de poder).

No dia 8 de janeiro, quando começou a segunda “vaga” dos estados de emergência, o boletim da DGS assinalava 118 mortos nas últimas 24 horas e 10 176 novos infetados. Ontem, passados 51 dias, o número de mortes diárias era de cerca de um terço (41) e o de novos infetados estava 14 vezes abaixo (718). Nos internamen­tos em unidades de cuidados intensivos a pressão baixou de 536 (em 8 de janeiro) para 484 (ontem) – mas em 5 de fevereiro chegaram a estar internadas nas UCI 904 pessoas, o valor mais alto desde o início da pandemia. Os números atuais das UCI são assim mais ou menos metade do que foram no pico da crise pandémica.

Já não há notícias de filas de ambulância­s à porta dos grandes hospitais. Muito menos problemas de fornecimen­to de oxigénio aos doentes como o que aconteceu no Hospital Dr. Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) na noite de 26 de janeiro – uma crise que remeteu imediatame­nte para as situações de caos absoluto que se viveram, também em janeiro, em Manaus, no Brasil.

A progressão no número de mortes , de infetados e de internamen­tos diminuiu substancia­lmente a partir do fim de janeiro – mas a verdade é que continuam a morrer pessoas todos os dias, e a infetar-se e a terem de ser internadas.

A verdade é que, em 8 de janeiro, o boletim da DGS indicava que já tinham morrido ao todo em Portugal desde o início da pandemia 7590 pessoas. Ontem esse valor era

de 16 317 mortos. Portanto: mais 8727 mortos. Dito de outra forma: o número total de vítimas mortais da pandemia de covid-19 em Portugal mais do que duplicou nos últimos 51 dias. Nesse período, o número de óbitos foi quase igual ao registado entre a primeira morte (17 de março do ano passado) e 16 de janeiro (8709).

Em 51 dias a pandemia progrediu – no que toca a vítimas mortais – quase o mesmo que tinha progredido nos 305 dias anteriores. Enfim: septuplico­u a velocidade. Até à explosão de janeiro, morriam 28,5 pessoas por dia – 1,2 por hora; nos 51 dias que já se levam no segundo estado de emergência, o número médio de óbitos diários passou para 171,1, isto é 7,2 por hora.

Em número total de mortos por milhão de habitantes, Portugal continua a ocupar o sexto lugar do mundo, só atrás da Bélgica (primeira posição), República Checa, Eslovénia, Reino Unido e Itália. Em valores absolutos, os EUA lideram, de longe (mais de 511 mil mortos), seguidos do Brasil (254 mil), mas a verdade é que, quando se divide esse número pela população, Portugal está mais mal colocado do que ambos. Per capita, os EUA surgem na oitava posição e o Brasil na 23.ª.

A vacinação vai entretanto progredind­o, mas lentamente. A média portuguesa por cem mil habitantes é apesar de tudo superior à média da UE. Mas os números ficam a milhas, por exemplo, dos do Reino Unido, onde ontem o ministro da Saúde se dizia “deliciado” por já terem sido vacinadas mais de 20 milhões de pessoas. Em Portugal já foram vacinadas 837,8 mil, e destas 263,8 mil já receberam as duas doses.

Contas feitas ontem pelo Público diziam que “se mantivermo­s o atual ritmo de vacinação, o objetivo de vacinar 70% dos adultos será atingido a 7 de julho de 2022” – ou seja, bastante para lá da meta temporal estabeleci­da pelo governo (final de agosto). Para se atingir este objetivo é preciso triplicar a velocidade da operação de vacinação, concluía o mesmo jornal.

A União Europeia estima que dentro de duas a três semanas “tudo vai funcionar normalment­e” na produção e na distribuiç­ão de vacinas contra a covid-19 nos Estados membros, segundo a comissária portuguesa Elisa Ferreira.

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