Trabalho à noite e fins de semana cai a pique com a pandemia
Número de trabalhadores a fazerem horas extraordinárias também sofreu uma quebra pela primeira vez desde 2017 e mais de metade ficaram por pagar.
Onúmero de trabalhadores a fazerem horários diferenciados diminuiu no ano passado, com a maior queda a verificar-se à noite e aos fins de semana, de acordo com a análise do DN/Dinheiro Vivo com base nos dados do Inquérito ao Emprego, do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em 2020, quase 440 mil pessoas responderam ter trabalhado à noite, menos 86 mil do que um ano antes, correspondendo a uma quebra de 16,3%. Trata-se do maior decréscimo da série do INE iniciada em 2011, sendo que também emagreceu a proporção de pessoas no total da população empregada (9,1% face a 10,7% em 2019).
Esta redução pode estar relacionada com o encerramento obrigatório de restaurantes e espaços de diversão noturna, como as discotecas que estão há quase um ano de portas fechadas. Também os horários mais curtos de funcionamento da restauração implicaram menos horas de trabalho à noite.
Mas o trabalho aos fins de semana também se ressentiu da paragem ou da redução de atividade de muitos setores, muitos ligados ao turismo, como o caso dos hotéis e outros alojamentos ou serviços de transporte.
Os dados do INE mostram que no ano passado quase 1,8 milhões de pessoas trabalharam ao sábado, correspondendo a 37,3% da população empregada, mas representa uma queda de 14% face a 2019, ou seja, menos 282 mil pessoas. Desde 2011 que não havia tão pouca gente a trabalhar ao sábado.
No trabalho ao domingo, a queda é mais ligeira, mas mesmos assim registou um decréscimo de 13% face a 2019. No ano passado 986 mil pessoas trabalharam aos domingos, correspondendo a um quinto da população empregada, o número mais baixo desde 2012, em plena crise financeira.
Menos horas extra
Mas também houve menos trabalhadores a fazerem horas extraordinárias ao longo do ano passado. O Inquérito ao Emprego do INE aponta para 477 mil pessoas a trabalhar para além do horário normal, correspondendo a 12% de trabalhadores por conta de outrem, a proporção mais baixa desde 2011.
Em termos do número de pessoas a fazerem horas extra, este é o número mais baixo desde 2013 e o primeiro decréscimo desde 2017. Em todo o caso, a média de horas extraordinárias manteve-se inalterada face a 2019 nas oito horas.
Já quanto ao pagamento, no ano passado, mais de metade voltou a ser uma “borla” para os patrões. Os dados do INE mostram que apenas 49,4% das horas trabalhadas fora do horário normal foram pagas.
Ainda em termos de horários, no ano passado houve mais pessoas a trabalharem entre 36 e 40 horas semanais, correspondendo a 54% da população empregada, um aumento de 2,2 pontos percentuais face ao ano anterior.
Mas nos restantes horários considerados pelo gabinete de estatística verificaram-se quebras e a mais expressiva foi no escalão acima das 41 horas. No ano passado houve menos 124 mil pessoas a fazerem mais do que o limite máximo do horário legal de trabalho.