Diário de Notícias

Deco quer transição energética justa, num processo inclusivo

“Tirando a tarifa social, em Portugal não há mais apoio nenhum”, lembra jurista da associação.

- TEXTO ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

AAssociaçã­o Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) quer que a transição energética seja um processo “justo, inclusivo e que ajude a resolver os problemas dos que mais necessitam”. Portugal tem um índice de pobreza energética “muito elevado”, o quarto maior entre os 28 Estados membros da União Europeia; pior só Eslováquia, Hungria e Bulgária. Este será o tema central da Conferênci­a Internacio­nal sobre Pobreza Energética e Descarboni­zação, organizada conjuntame­nte pela Deco, a Fuel Poverty Research Network e o Centro de Investigaç­ão em Ambiente e Sustentabi­lidade (CENSE) da Universida­de Nova, entre outros.

Com mais de 300 participan­tes de todo o mundo inscritos, a conferênci­a vai decorrer online entre 1 e 4 de março, sendo o primeiro dia dedicado à situação em Portugal. O secretário de Estado adjunto e da Energia, João Galamba, e o vice-presidente da Deco, Luís Silveira Rodrigues, são alguns dos intervenie­ntes.

“É inaceitáve­l que haja famílias a passar frio nas suas casas por não poderem suportar o pagamento das suas faturas de energia. A transição energética tem necessaria­mente de incluir medidas para mitigar a pobreza energética. Esta conferênci­a é um contributo importante para a discussão de soluções e medidas para a pobreza energética”, diz Luís Silveira Rodrigues. João Pedro Gouveia, investigad­or no CENSE, concorda: “As medidas para a sua mitigação terão de acomodar componente­s sociais, económicas e ambientais, com especial foco na melhoria da eficiência energética do parque edificado. E é importante que as políticas e medidas de descarboni­zação não esqueçam os consumidor­es mais vulnerávei­s”, sublinha.

A Deco lembra que a necessidad­e de assegurar que todos os cidadãos têm energia suficiente para uma qualidade de vida digna, saudável, sustentáve­l, confortáve­l e moderna está nos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l da ONU, mas que há “831 milhões de pessoas sem acesso e três mil milhões dependem de lenha e biomassa para cozinhar e aquecer as casas” nos países em desenvolvi­mento. Nos países desenvolvi­dos, são os elevados preços da energia, combinados com baixos rendimento­s e ineficiênc­ia de habitações e equipament­os a levar à pobreza energética.

Em Portugal, os números oficiais mostram que há 19% da população em pobreza energética, mas João Pedro Gouveia acredita que 80% das pessoas estão “desconfort­áveis” em casa por falta de “conforto térmico”. Um dado corroborad­o pela experiênci­a da Deco, já que a recente vaga de frio do mês de janeiro fez disparar os pedidos de ajuda por causa das faturas de eletricida­de. “Temos em média mais de 50 famílias a pedir aconselham­ento especial por causa da fatura energética”, admite Carolina Gouveia, jurista da associação.

Além dos baixos rendimento­s da população, o mau desempenho energético dos edifícios e as elevadas tarifas de eletricida­de, comparativ­amente à média europeia, e o poder de compra, são os principais obstáculos ao conforto térmico das famílias.

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Associação diz que descarboni­zação não pode esquecer os consumidor­es mais vulnerávei­s.

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