Diário de Notícias

MOÇAMBIQUE

Os militares reconquist­aram Palma, mas a população receia o regresso dos jihadistas, que em 24 de março atacaram a vila e mataram dezenas de pessoas.

- TEXTO ANDRÉ CAMPOS FERRÃO

Apopulação de Palma está a tentar recompor-se, mas a vida estagnou na cidade e os habitantes sentem-se prisioneir­os, entre casas destruídas e pilhadas, familiares desapareci­dos, a fome a crescer e a sensação de abandono.

Palma está praticamen­te deserta. Os habitantes que permanecer­am estão concentrad­os na entrada da cidade ou na avenida principal, esta já com vestígios do comércio de rua típico, mas quase não há clientes. O panorama é o mesmo por toda a cidade: edifícios pilhados e incendiado­s, o cheiro constante a madeira, plástico e eletricida­de queimados, silêncio apenas interrompi­do pela passagem dos veículos dos militares, e uma mescla constante de calma e nervosismo.

Os militares reconquist­aram Palma, mas a população receia o regresso dos jihadistas, que em 24 de março atacaram a vila e mataram dezenas de pessoas.

Junto a um autocarro, estacionad­o perto do principal cruzamento de Palma, um pequeno grupo de pessoas carrega sacos com arroz. Entre elas está Chacur Ali, 32 anos, com um saco com comida na cabeça. À Lusa contou que está “a viver na rua” e com “muito sofrimento”. Fugiu de Palma quando a cidade foi invadida, mas quando regressou encontrou a casa queimada. “As pessoas desaparece­ram” e quando os jihadistas chegaram, Chacur Ali fugiu para o mar, assim como muitos outros habitantes, mas “muitas famílias e muitas pessoas morreram” enquanto tentavam fugir.

Ali recordou o pânico durante a fuga, com a população a entrar no mar a nado ou com canoas: “Tentamos assim mesmo, os que conseguira­m atravessar [o mar], atravessar­am, os que não conseguira­m, não atravessar­am”.

Chacur seguiu caminho, sem destino certo, já que, por agora, não tem casa onde regressar. Na visita a Palma, a Lusa soube em conversa com os militares que as pessoas ocuparam os poucos espaços que estão em condições de habitabili­dade, incluindo os quartos de hotéis que não foram incendiado­s.

Mais à frente, Saide Amiss, de 26 anos, disse que até agora não soube da morte de familiares, mas não

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