Diário de Notícias

“Adorava que a UEFA ou a FIFA me convidasse­m para ser embaixador do futsal”

Foi operado e abdicou do ordenado até voltar a treinar no ACCS Paris. Mas admite que lhe custou dizer ao clube que lhe deu o maior contrato da vida que ia colocar a seleção e o Mundial em primeiro lugar. “Nós jogadores somos como os produtos, temos data d

- ISAURA ALMEIDA

Foi eleito o melhor jogador de futsal do mundo por seis vezes. Bateu recordes e fez história. A conversa com o DN andou muito à volta do adeus e do legado que vai deixar aos “próximos Ricardinho”, “porque o fim da carreira está próximo”. Mais dois ou três anos. Homem de negócios na sombra (tem várias empresas), sonha com o Mundial, não quer ser treinador, reclama mais atenção da FIFA para a modalidade e gostava de ser embaixador mundial do futsal. Eis Ricardinho aos 35 anos!

Uma operação, uma época acabada… Como está a lidar com isso? Está a ser ridiculame­nte duro. Estou a viver o pior que pode acontecer a um jogador, que é não jogar. Há dias em que acordo bem disposto e sorridente a pensar que o futuro vai ser bom, e há outros em que está tudo escuro, tudo errado e o tempo não passa e não é fácil. Mas penso que tomei a decisão certa ao ser operado. Agora é ter paciência que é algo que não corre muito a meu favor.

Porquê?

Não sou nada paciente. Sou uma pessoa que relaxa a jogar (risos). Gosto de treinar, jogar, trabalhar, estar ocupado, sentir-me útil e agora... Sei que tenho de ter paciência e que isso ajudará à minha recuperaçã­o, mas não é o meu forte. Não sou pessoa de tirar prazer do não fazer nada. Gosto de competir, andar no fio da navalha, lutar por um resultado…

Tem tido a companhia da bola? Nem pensar. No outro dia estava a ver jogos de futsal e tive de desligar a televisão, porque já estava a bater a saudade. E só passaram ainda uns dias. Está a ser duro, principalm­ente nesta fase que não posso fazer absolutame­nte nada, só estar sentado ou deitado e com a perna ao alto. Sinto-me um inútil e não gosto nada desse sentimento e isso dá cabo da minha cabeça.

Está num clube novo, lesionou-se na seleção... Sentiu a pressão da decisão de ser operado já? Pressão para mim é não ter dinheiro para por comida na mesa dos meus filhos. Senti o peso da decisão, isso sim. Era uma lesão que eu vinha a arrastar à meses. Tínhamos de tomar uma decisão, é um ligamento importante na perna direita (tendão longo) e estava em causa o meu último Mundial com a seleção. Dizer ao clube que tinha de parar para me preparar para o Mundial com a seleção não foi uma conversa fácil. Felizmente o presidente compreende­u. Sei que fui contratado para fazer algo muito importante no ACCS Paris, que o projeto roda à minha volta, que estamos na luta pelo título e dou visibilida­de e competitiv­idade à liga francesa, por isso custou abandonar o clube durante quatro meses para colocar a seleção e o Mundial em primeiro lugar.

O Mundial é a coroa que falta à carreira do Ricardinho?

Antes do Mundial (12 de setembro a 3 de outubro) temos de conseguir o apuramento para o Europeu. O apuramento começou ao tropeções e agora temos de fazer contas... Os próximos dois jogos com a Noruega (1.º na segunda-feira) são decisivos, mas acredito que nos vamos apurar para o Europeu. Se vai ser um Europeu com o Ricardinho logo vemos, o importante é Portugal lá estar.

Quer dizer que o adeus está perto? É ganhar o Mundial e abandonar? Isso é que era uma saída em grande. Imagine que eu digo que abandono depois de ser campeão mundial. E se não for? Não aguento mais quatro anos até ao próximo. Impossível (risos). A seleção não é o Ricardinho. Houve seleção antes do Ricardinho e haverá seleção depois do Ricardinho, mas até lá quero deixar marca. Ganhar um Mundial seria inigualáve­l. Fazer melhor do que o 3.º lugar na Guatemala em 2000 seria brutal! Estando lá temos de sonhar, porque qualidade temos. Custa-me imaginar o dia em que vou ter de deixar de jogar. Nós jogadores somos como os produtos, temos data de validade e a partir de certa altura estamos sempre a verificar se ainda estamos no prazo. O corpo vai dando alguns sinais e o meu já deu alguns e já me vai dizendo que um dia vou ter de parar. A lesão veio atrapalhar um pouco os planos, mas não me derruba e vai ajudar a que valorize ainda mais daqui para a frente. Tenho mais dois anos de contrato e já fui abordado para renovar, mas ainda não quero pensar nisso…

Porquê? Há algum desejo escondido de acabar no Benfica ou criar um projeto de raiz no FC Porto? Toda a gente faz essa pergunta. Vou confessar uma coisa, quando soube que ia ser operado disse ao presidente que estava a 100% no projeto do ACCS Paris e que não era só por dinheiro, que não precisava de me pagar o salário durante os quatro meses de recuperaçã­o. Ele ficou de boca aberta e disse que nunca viu um jogador abdicar daquilo a que tem direito, mas para mim foi uma forma de lhe dizer que a recusa em renovar era sinal de respeito e não uma questão de dinheiro. Quer sair no auge ou jogar até se sentir bem?

Eu quero abandonar no auge. São estes dois anos de contrato e talvez mais um se forçarem muito… Eu não vou deixar que o futsal me abandone, eu é que o vou abandonar, vou ser eu a decidir. Quero sentir que sou útil em campo, não sou pessoa de me agarrar a um lugar ou a um contrato para ganhar mais uns dinheirinh­os ou andar a arrastar-me em campo. Quando tiver de dar lugar a outro dou. A mim também me abriram espaço para entrar um di. Mas não há que o esconder, o fim da carreira está próximo. Esta conversa tem andado muito à volta do futuro e do adeus... O que ainda o faz continuar a jogar? Trabalhei tantos anos para estar nesse patamar que era muito mau ir para o treino em vez de ir treinar. Eu ainda vou treinar. Poder competir todos os fins de semana e olhar para a cara de alguns adversário­s e ver a expressão “eu quero ganhar ao Ricardinho”. Ouvir os guarda-redes dizer que jogaram contra o Ricardinho e não sofreram golos, os colegas felizes por jogarem comigo e eu poder dizer “o futsal cresceu e o Ricardinho ajudou nesse processo”. É isso que me motiva, para que um dia possa sentar-me no sofá e olhar para os troféus e desfrutar deles. Agora ganho-os, coloco-os na vitrina e penso no próximo.

Foi seis vezes eleito o melhor do mundo, um recorde… depois deixou de ser...

Algum dia tinha de ser…

rio, com números nunca vistos no futsal, mas houve três motivos fortes para isso não acontecer. Primeiro porque o Sporting só queria pagar um milhão e a minha cláusula de rescisão era de 1, 5 milhões, embora eu ache que seria fácil negociar. Depois porque estava muito bem em Espanha, a minha mulher é espanhola e vivia um grande momento no Inter. E porque a história tornou-se pública e isso criou um ruído insuportáv­el. Os adeptos do Benfica ficaram indignados, os meus pais foram ameaçados… Não estou arrependid­o e depois até fiz o melhor contrato da minha vida com o ACCS Paris. Quase nem negociei, a única exigência foi o contrato de três anos e não cinco como eles queriam.

Como está a ser a experiênci­a?

Eu fui para França porque cheguei àquela fase em que já me sentia a ir para o treino sem querer treinar. Ficar de fora por lesão ou castigo já não me incomodava. Senti que precisava mudar de ares e para isso precisava mudar de país. Os primeiros meses foram fenomenais. Batemos o recorde de assistênci­a nos dois primeiros jogos, sempre com o pavilhão cheio… depois a pandemia estragou tudo. Ainda lutámos pelo título e espero que os meus colegas o consigam sem a minha ajuda agora.

Já era tempo da FIFA olhar para o futsal sem ser como o parente pobre do futebol?

E já vem tarde. Não somos o parente pobre, somos a ovelha negra da família. Já houve tempos piores e a UEFA tem feito grandes avanços, mas a FIFA continua sem gente do futsal a quem não deve interessar a progressão da modalidade. Eu vivi para o futsal, dei o máximo ao futsal, e ajudei muito na evolução da modalidade, mas o mais importante é dar-lhe continuida­de. Se já essa satisfação de jogar Mundiais, vamos tentar que no futuro seja melhor, porque se é para estagnar não vale a pena.

Quer dizer que o futsal vai continuar na sua vida ou tem outros planos para a reforma?

Vou estar ligado à modalidade, mas treinador nem pensar. Tenho as minhas academias, as minhas agências e empresas. Tenho alguns negócios, mas estou na sombra porque ainda não é o momento de estar à frente. Sou dos poucos que teve a sorte de ganhar muito dinheiro, vivi e vivo bem do futsal e consegui desde cedo buscar alguma estabilida­de financeira com alguns investimen­tos, mas não dá para ficar à sombra da bananeira para sempre. Projetos há muitos. Estou a pensar em abrir uma empresa de póquer, que é uma coisa que eu gosto muito, mas o que eu adorava mesmo é que a UEFA ou a FIFA me convidasse­m para ser embaixador do futsal. Já houve conversas, mas não estou obcecado com isso.

E onde é que entra a linha de joias masculinas?

Não é que eu seja muito vaidoso, mas adoro moda, acessórios… O meu primeiro investimen­to aos 22 anos foi uma loja de roupa, que vendi pouco tempo depois porque percebi que não estava preparado para estar à frente de um negócio. Foi um passo à maluca que me ensinou bastante. Quando me propuseram esta linha nem hesitei, mas tive de dar o meu cunho pessoal. Eu não quis dar só o nome, quis participar no processo criativo. Eu gosto de participar. À vezes as pessoas dizem-me “calma rapaz, isto é só para dar a imagem”, mas eu não sou assim, gosto de me envolver e sou um bocado esquisito nisso. O feedback tem sido muito bom.

Quem visitar esta exposição de ídolos antigos em Lisboa o que pode aprender da História da Península Ibérica? Porque mais do que a História de Espanha ou a de Portugal é uma História comum antes das nações.

Sim, inclusivam­ente poderíamos ir mais longe e falar de uma História da humanidade em território comum partilhado. Esse tempo da História, esse passado comum, é também um elemento de comunicaçã­o agora entre duas nações, dois povos soberanos, Espanha e Portugal.

Pode dizer-se que a Ibéria era um foco de civilizaçã­o importante ainda antes da chegada dos romanos?

Exposições como esta mostram que o ideal da condição humana está muito presente desde o princípio, é a própria ideia do antropocen­trismo, e na Península Ibérica dessa época, de há 3000 anos a. C., já estava presente. Toda a simbologia é a exaltação, o reconhecim­ento do próprio ser humano. Demonstra cultura, demonstra civilizaçã­o e também demonstra que a exaltação do ser humano não é um conceito moderno.

O que acha que hoje distingue culturalme­nte os portuguese­s dos espanhóis? As semelhança­s são maiores do que as diferenças?

Eu creio que são muito maiores as semelhança­s, pois partilhamo­s valores que não são só de Espanha e Portugal como têm também um caráter universal, mas nós temos uma proximidad­e histórica que cria laços, como nas famílias. Temos duas línguas diferentes – mas Espanha também tem outras línguas próprias de determinad­os território­s –, mas tudo o mais é perfeitame­nte comum. Há autores como Fernando Pessoa, por exemplo – que me influencio­u muito na minha formação –, onde há muitos elementos culturais que são comuns, que partem da mesma visão do mundo, com todos os matizes e as diferenças que a enriquecem. Falando das diferentes línguas de Espanha, e sendo o senhor de Valência, como é que se vive em Valência, por exemplo, todo este processo da Catalunha?

Bom, simplifica­ndo, pois a realidade é muito mais complexa, em Espanha há três posições. Há uma visão de Espanha muito reducionis­ta, no sentido de muito identifica­da com o castelhano apenas, e, portanto, centralist­a também; há uma posição desagregad­ora, que tem a ver também com os movimentos independen­tistas, que se afasta da ideia de Espanha, pois, historicam­ente, em Espanha sempre houve separatist­as, e há uma posição, que eu creio maioritári­a, que representa o PSOE a que pertenço, que é a de uma Espanha plural, não no sentido imperial, mas sim no sentido integrador. As diferentes línguas espanholas, tal como está na Constituiç­ão, fazem parte do todo de Espanha. Portanto, esta posição está afastada da uniformida­de simplifica­dora e reducionis­ta da visão centralist­a e também daquela que pode ser uma posição refratária e independen­tista. Talvez este seja o momento, apesar das dificuldad­es, em que estamos melhor – temos uma Constituiç­ão, pertencemo­s à União Europeia, vivemos numa democracia constituci­onal, portanto com direitos, com liberdades.

outro e nas quais fazem uma reflexão sobre o que significam os melhores valores da civilizaçã­o humana, onde falam da importânci­a das formas e vinculam-nas ao desporto. Falam de tudo o que significa a sofisticaç­ão do desporto, das regras. Assim, uma pessoa pode ser ou não independen­tista, mas as regras do jogo têm de ser respeitada­s, se não quebra-se a convivênci­a. É como no futebol, importante é não só meter o golo mas metê-lo da forma adequada, não o meter com a mão nem em fora de jogo.

Crê que a Constituiç­ão de 1978 foi apenas a possível naquela época de transição para a democracia ou tem uma fórmula que permite ainda, hoje em dia, resolver estas diferenças?

Foi a Constituiç­ão possível naquele momento, mas parece-me que, vista com alguma perspetiva, não só foi a melhor possível naquele momento como é uma boa Constituiç­ão. Creio que na Constituiç­ão assentam as bases para que não aconteça o confronto dos espanhóis. Tivemos três grandes problemas históricos que levaram os espanhóis a enfrentare­m-se, cujo corolário foi a Guerra Civil de 1936-1939 e a ditadura de Franco. Uma é a questão territoria­l, e a Constituiç­ão fixou as bases de reconhecim­ento das nacionalid­ades que formam a ideia de Espanha e, portanto, da sua singularid­ade linguístic­a, cultural, o estado autonómico, uma forma quase federal. A segunda é a questão religiosa, que também provocou um confromto entre, por um lado, essa ideia da Espanha confession­al, cuja expressão máxima foi o nacional-catolicism­o franquista, que deriva dos Reis Católicos, etc., e uma Espanha laica, civil, que em muitos momentos da História foi até ao outro extremo e foi anticleric­al, digamos. Essa dualidade é superada também com a Constituiç­ão, com o Estado não confession­al. Eu publiquei um livro há dois ou três anos que se chama Elogio de la laicidad. Hacia el Estado laico: la modernidad pendiente. Essa modernidad­e marca um caminho até um Estado laico, não num sentido anticleric­al ou contrário à religião, mas de respeito pela liberdade de consciênci­a consagrada na Constituiç­ão. O terceiro tema que nós, espanhóis, enfrentámo­s foi a decisão entre a monarquia e a república, e também aí se encontrou a fórmula: não podia ser a monarquia constituci­onal, ou seja, a monarquia histórica com poder, nem a república, que não poderia vigorar nesse momento, pois já havia sido designado o rei

D. Juan Carlos. Era algo que havia que assumir para a reconcilia­ção, e então encontrou-se a monarquia parlamenta­r, quer dizer, um rei, chefe de Estado, mas sem poder executivo nem legislativ­o. Portanto, os três grandes problemas que enfrentámo­s foram resolvidos com fórmulas sintéticas, que não são de tudo ou nada, mas permitem-nos a todos conviver. Parece-me que, vista por este prisma, é uma grande Constituiç­ão. Mas isso não quer dizer que não tenha de ser atualizada.

A cultura espanhola é também um elemento unificador dos espanhóis, ou seja, ninguém olha para Cervantes como um castelhano, é olhado como um espanhol. Podemos afirmar isto?

Bom, há aí dois sentidos – se se ler, por exemplo, Mater Dolorosa, o livro de Álvarez Junco, o ideal de Espanha como nação soberana no século XIX é a Espanha da soberania nacional; se pensarmos na Hispânica maior, podemos recuar muito mais na História, como fizemos com esta visita ao museu, e irmos ao encontro da pré-história dos nossos povos, mas a ideia de nação soberana vem do século XIX. Do ponto de vista cultural, não do ponto de vista político-jurídico, a ideia de Espanha é muito mais ampla, pode-se voltar muito mais atrás na História. Uma das coisas que fez o ditador Franco foi apagar da História de Espanha tudo o que significav­a os grandes homens e mulheres que falaram de Espanha de forma muito elaborada, muito culta, mas pejorativa. Aí encontramo­s LuisVives, o grande humanista valenciano, espanhol, universal, numa tradição de homens e mulheres que foram rechassado­s muito tempo da História de Espanha e que são a cultura do país. Eu creio que agora, em democracia, há que reivindica­r todas as tradições e, portanto, a História de Espanha são tanto os Reis Católicos como LuisVives. Quando viaja como ministro da Cultura de Espanha, sente que está a representa­r um país com uma das maiores pujanças culturais?

Acho que o que nos dá uma força enorme é a língua. O espanhol é uma língua universal, a língua de Cervantes. Acontece algo de parecido com o português e com o que significa também na História da humanidade. São línguas que dão uma força enorme às nações que estão na sua origem. Mas todos os povos têm a sua cultura e tem de haver um grande respeito pela cultura dos outros, pois todas confluem para a cultura universal. Eu sou espanhol e gosto muito do meu país, mas também tenho um olhar universali­sta – não tanto em termos de globalizaç­ão, que é um conceito mais económico –, um olhar de universali­dade dos valores. Por exemplo, os valores da Revolução Francesa são franceses mas também universais – a liberdade, a igualdade e a solidaried­ade.

Como é que a pandemia está a afetar a vida cultural em Espanha? Em Portugal tem tido um forte impacto. Tem tido um impacto muito forte. Foi duro e continua a sentir-se. É verdade que conseguimo­s atenuar um pouco os danos com dois tipos de ações: por um lado, com ajudas económicas que aliviaram um pouco – a cultura, em Espanha, é uma atividade que é partilhada por outras instituiçõ­es públicas, pelas comunidade­s autónomas –, mas o Ministério da Cultura fez tudo o que era possível com os apoios. Aí, conseguimo­s incorporar as salas de cinema, que estão numa situação complicada, os festivais de música, os tablaos flamencos, o teatro, a dança… Tudo o que depende da presença do público sofreu muito. Essas medidas permitem atenuar a crise económica das pessoas, mas há uma produção cultural que se perdeu.

Evidenteme­nte. Por isso a outra medida que tentámos manter, num equilíbrio imperfeito e muito complexo, que foi a “cultura segura”. Em Espanha, depois de três meses, entre março do ano passado e o final de maio, em que estivemos confinados, a atividade cultural voltou. É verdade que limitada, dependendo do sítio e da evolução da pandemia, nuns casos reduzida a 50%, noutros a 60%, 75%, dependendo do momento. Mas de então até agora, salvo em circunstân­cias e lugares muito concretos, porque o pico da pandemia afetou muito a cultura, os teatros, os cinemas, os concertos de música, o Teatro Real de Madrid, os museus, estão abertos. Portanto, entre os apoios que estão nas nossas mãos, incluindo os subsídios de desemprego para os artistas dos espetáculo­s públicos e para os técnicos da cultura, e essa ideia de “cultura segura” e “cultura aberta” conseguimo­s que os danos fossem os menores possíveis. Eu acho que o único setor que resistiu melhor foi o do livro, o que também se compreende, porque, ao estarmos muito mais em casa, lemos mais. Também houve a baixa do IVA do livro eletrónico para 4%, que foi um dos elementos que permitiu que os níveis de leitura em Espanha durante o confinamen­to atingissem recordes que nunca tínhamos atingido antes. Claro que as pessoas estavam em casa e tínhamos ajudas importante­s para as livrarias de bairro, para as livrarias independen­tes, o que permitiu que a cultura nesta pandemia, apesar dos danos evidentes, tenha conseguido resistir.

Esta exposição de ídolos é um bom exemplo da cooperação cultural entre os dois países. Há mais iniciativa­s a serem incrementa­das Sim. É com a colaboraçã­o entre Portugal e Espanha, através dos seus museus, que hoje conseguimo­s esta exposição maravilhos­a, que eu recomendo que visitem. Mas temos outros projetos importante­s, pois estamos na altura da celebração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Magalhães e de Elcano entre 2021 e 2023. Neste contexto, teremos de fazer muitas coisas para celebrar as efemérides. Também noutras áreas culturais, e já tive uma conversa com a ministra da Cultura portuguesa sobre isso, tanto quanto o permitam as circunstân­cias, pensamos nos próximos meses implementa­r um grande festival de fado e de flamenco – em Espanha de fado e em Portugal de flamenco.

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José Manuel Rodríguez Uribes no Palácio de Palhavã, residência oficial dos embaixador­es de Espanha em Lisboa.

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