Mais de metade dos portugueses não tenciona fazer férias
Entre os que afirmam o contrário, a maioria vai gozá-las em Portugal, numa casa alugada, hotel ou segunda residência, e prevê gastar o mesmo do que no ano passado.
Mais de 50% da população portuguesa não tenciona fazer férias este ano – é, sobretudo, no Norte e na Área Metropolitana do Porto (AMP) que essa tendência se verifica com valores acima da média nacional. A sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF revela também que, entre aqueles que planeiam fazer férias, a grande maioria vai gozá-las dentro das fronteiras nacionais (90%) e estima realizar os mesmos gastos do que no ano passado (64%).
Num tempo em que a pandemia condiciona fortemente a mobilidade, não espanta que apenas 5% dos inquiridos pretendam viajar para o estrangeiro durante o descanso anual.
O mesmo princípio de prudência observa-se nas despesas previstas para o verão. Dos 48% que tencionam fazer férias, só 11% admitem gastar mais do que no ano passado, valor que sobe para 21% quando se consideram aqueles que admitem despender uma quantia menor. É no Centro, na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e no Sul e ilhas que cerca de um quarto das pessoas pretende poupar face a 2020, enquanto no Norte 21% pensam gastar mais, quase o dobro ou mesmo o triplo em relação às outras regiões.
O estudo conclui que, dos 43% que farão férias no país, a maior parte vai fazê-lo em casa alugada (24%), num hotel (23%) ou em segunda residência (19%). É interessante verificar que é sobretudo no Norte (43%) e na AMP (23%) que vive quem escolhe uma unidade hoteleira para o descanso.
44% a perder rendimento
Nestas circunstâncias tão incertas, 52% dos habitantes da Grande Lisboa pensam tirar férias, percentagem igual ao do total nacional. Já o Norte (59%) e a AMP (55%) encontram-se acima da tendência nacional dos que não tencionam fazê-lo, tal como as pessoas com 65 ou mais anos (59%).
A sondagem debruça-se também sobre o impacto da crise sanitária nos rendimentos, que se cruza com os planos dos portugueses para este verão. Os dados apurados indicam que 44% dos inquiridos declararam ter tido quebra nos seus rendimentos, sendo que a AML está claramente acima da média (50%). São mais os homens (47%) do que as mulheres (42%) que afirmaram ter visto os rendimentos afetados, e provêm, sobretudo, do grupo etário entre os 35 e 49 anos.
Em relação ao nível de poupança, manteve-se para 70% daqueles que não perderam dinheiro. Dos 30% que afirmaram o contrário, o Grande Porto apresenta um desempenho assinalável (43%) e a AML também se destacou (32%). Ou seja, foi nos dois maiores centros urbanos onde se pôs mais dinheiro de lado.
As outras regiões ficaram abaixo da média nacional, sendo de sublinhar que a população mais jovem, entre os 18 e os 34 anos, foi a que mais se empenhou em poupar (49%).
A sondagem da Aximage avalia ainda o comportamento face a uma despesa ou compra de valor importante: 56% responderam que não a adiaram. Dos 44% que tomaram decisão contrária, esses deixaram de adquirir equipamentos para o lar e a viagem de férias.
Ainda assim, uma percentagem significativa (40%) espera concretizar essa despesa importante até ao final deste ano.
Odesconfinamento está a ser a conta-gotas, e ainda faltam muitas semanas até ao verão, mas muitos começam já a traçar planos de férias. Os principais destinos nacionais são aqueles que estão a despertar mais interesse, mas não só.
“Além dos destinos tradicionais a nível nacional, como o Algarve, Porto Santo e Madeira e Açores, os nossos clientes já procuram destinos internacionais, que fazem parte das suas preferências, como as Caraíbas, ilhas espanholas e outros de proximidade, como Grécia, Turquia e Cabo Verde”, diz Pedro Quintela, diretor de Vendas e Marketing da Agência Abreu.
O fator vacinação
“Do ponto de vista do turismo interno, temos a certeza de que Por
tugal vai manter-se no topo das preferências. Quanto a entradas, a tendência seguirá o caminho que os mercados emissores para Portugal permitirem na abertura dos corredores aéreos e conforme a evolução da pandemia”, disse.
A expectativa de Bruxelas é que, até ao verão, 70% da população do continente possa estar vacinada, conferindo imunidade de grupo. No ano passado, a atividade turística em Portugal foi suportada, sobretudo, pelos residentes. O Algarve foi um dos destinos escolhidos e espera voltar a contar com turistas a partir de maio.
“A expectativa é de que o Algarve possa beneficiar de uma procura turística progressiva a partir de meados do segundo trimestre e que o verão possa ser mais forte do que a época homóloga de 2020”, salienta João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve. Alerta para que “tudo dependerá da capacidade de controlar a pandemia”.
As cautelas são mencionadas por todas as regiões, sendo o sentimento geral de um otimismo moderado.
A Madeira, já na Páscoa, contou com alguns residentes. O verão poderá não ser diferente. “Sabemos que os operadores estão a apostar na Madeira e em Porto Santo. Inclusivamente, no caso de Porto Santo, já estão à venda programas através de voos charter, com saídas de Lisboa e do Porto, e a própria TAP está interessada na ilha, para onde lançou uma campanha de verão agressiva para viagens regulares”, diz o secretário Regional do Turismo, Eduardo Jesus.
Mercado interno
Uma das mudanças no turismo introduzidas pela covid foi a procura por experiências em espaços rurais ou que permitam um maior distanciamento. O Centro e o Alentejo também sentiram os efeitos da pandemia, mas em menor dimensão. Neste ano poderão voltar a ser escolhidos.
“Depois de meses tão difíceis, os portugueses estão ansiosos por recuperar o tempo que perderam fechados em casa. Querem voltar a sair e a viajar. Mas a cautela aconselha-nos a fazê-lo dentro do país”, refere Pedro Machado, líder do Turismo do Centro.
“Acreditamos que, no caso do Centro de Portugal, será o mercado interno o grande impulsionador da recuperação turística. Um mercado interno que chamo de ‘alargado’, uma vez que temos indicadores que deixam antever que, assim que for possível, haverá um fluxo muito importante de visitantes de Espanha.”
Vítor Silva, presidente da Região de Turismo do Alentejo, não esconde que o próximo verão será “muito parecido com o de 2020, isto é, assente sobretudo no turismo interno”.
“As perspetivas para o verão são bastante moderadas, embora esperemos começar a ter algum movimento. Retoma a sério talvez só a partir de 2022”, remata Vítor Costa, presidente da Região de Turismo de Lisboa.